Racismo de A... a Z | Uma lista de leitura antirracista
Por: Beatriz Sertório a 2020-11-16 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
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Enquanto o mundo era assolado por uma pandemia, até então desconhecida, voltámos a ser confrontados com uma que nunca nos deixou. A violência e a injustiça em que estiveram envoltos os homicídios de Breonna Taylor ou George Floyd, nos EUA, ou o do ator Bruno Candé, em Portugal, vieram expor como o racismo é uma praga que continua a infestar todas as esferas da nossa sociedade. Porque partilhamos a convicção de James Baldwin de que “[n]em tudo o que enfrentamos pode ser mudado, mas nada pode ser mudado enquanto não for enfrentado”, compilámos uma seleção de livros que abordam a temática do racismo, numa lista que pretende ser um manual de A a Z de como ser, ativamente, antirracista.
A de... Americanah | Chimamanda Ngozi Adichie
B de... Beloved | Toni Morrison
C de... A Cor Púrpura | Alice Walker
D de... A Dança da Água | Ta-Nehisi Coates
O norte-americano Ta-Nehisi Coates tornou-se conhecido do público ao escrever regularmente para diferentes publicações sobre questões relacionadas com o racismo. A Dança da Água (Cultura Editora), é o seu romance de estreia, sendo que o autor tinha já sido o vencedor do National Book Award, pelo livro de não-ficção Entre Mim e o Mundo (Ítaca). Este romance relata a viagem inesperada de um jovem que nasceu escravo e que, após receber um poder misterioso, decide fugir da única casa que alguma vez conheceu e resgatar a família que deixou para trás.
E de... A Estrada subterrânea | Colson Whitehead
F de... The Fire next time | James Baldwin
Embora ainda não tenha sido publicada em Portugal, The Fire Next Time é considerada a obra seminal de James Baldwin, uma das vozes mais infl uentes do movimento pelos direitos civis, e o primeiro artista afro-americano a aparecer na capa da revista Time. Para além de relatar episódios autobiográficos da sua infância em Harlem, Baldwin denuncia e condena o terrível legado de injustiça racial na América, apelando ao fim deste “pesadelo racial”. Outras obras suas como Se o Disseres na Montanha (Alfaguara) ou Se Esta Rua Falasse (Alfaguara) são igualmente importantes para entender a história do racismo nos EUA.
G de... A Geração da Utopia | Pepetela
H de... Huckleberry Finn | Mark Twain
I de... I'm still here | Austin Channing Brown
J de... Jazz | Toni Morrison
K de... Kindred | Octavia E. Butler
L de... A Liberdade é uma luta constante | Angela Davis
Nascida no estado do Alabama, e descendente de escravos, Angela Davis tornou-se um verdadeiro ícone da luta pelos direitos civis, tendo por duas vezes sido candidata à vice-presidência dos EUA. Nesta seleção de ensaios, entrevistas e discursos, A Liberdade é uma Luta Constante (Antígona), a célebre ativista e académica lança uma nova luz sobre as lutas contra a violência e a opressão em vários pontos do mundo — da Palestina à África do Sul —, refletindo sobre temas como o patriarcado e a supremacia branca.
M de... Mataram a cotovia | Harper Lee
N de... Não serei eu mulher? | Bell Hooks
O de... O Ódio que semeias | Angie Thomas
P de... Pushout | Monique Morris
Q de... Quando tudo se desmorona | Chinua Achebe
R de... Racismo no país dos brandos costumes | Joana Gorjão Henriques
S de... Sei porque canta o pássaro na gaiola | Maya Angelou
O clássico americano Sei Porque Canta o Pássaro na Gaiola (Antígona) é um livro de memórias da autoria da escritora, poeta, cantora e ativista Maya Angelou. Tendo trabalhado lado a lado com Martin Luther King Jr. e Malcolm X, e recitado um dos seus poemas na inauguração do primeiro mandato do presidente Bill Clinton, Angelou foi uma das mais destacadas vozes da luta pelos direitos civis. Neste livro, traça um relato inspirador da sua infância e juventude, oferecendo-nos a perspetiva de uma criança sobre a violência inexplicável do mundo dos adultos e a crueldade do racismo.
T de... Tempo de matar | John Grisham
U de... Um longo caminho para a liberdade | Nelson Mandela
V de... Vai e põe uma sentinela | Harper Lee
W de... Why I’m no Longer Talking About Race | Reni Eddo-Lodge
Da autoria da jornalista premiada Reni Eddo-Lodge, o ensaio Why I’m no Longer Talking About Race tem figurado em todas as listas de livros sobre racismo, nos últimos tempos. Embora tenha sido publicado em 2018, teve origem num artigo com o mesmo título publicado no blogue pessoal da autora quatro anos antes, e expressa a sua frustração relacionada com a forma como o debate sobre o racismo na Grã-Bretanha tende a ser conduzido por aqueles que não são diretamente afetados por ele. O artigo tornou-se viral, tendo levado a autora a explorar em profundidade a raiz dessas suas frustrações, e resultado nesta reflexão poderosa sobre a experiência de ser uma mulher negra na Grã-Bretanha dos dias de hoje.
X de... Malcolm X | Malcolm X
Y de... Your Silence Will Not Protect You | Audre Lorde
Z de... Zami| Audre Lorde
“Negra, lésbica, mãe, guerreira e poeta”. Era assim que a ativista Audre Lorde, que dedicou a sua vida e obra a combater injustiças como o racismo, o sexismo, a homofobia e os preconceitos sociais, se descrevia. Your Silence Will Not Protect You e Zami são duas das suas obras mais importantes — juntamente com Sister Outsider. A primeira é uma coleção de ensaios, discursos e poemas que aborda, entre outros temas, a forma como o silêncio pode ser uma forma de violência. O segundo é uma autobiografia, na qual a autora recorda episódios marcados pelo racismo, desde muito nova, tais como a morte do senhorio da sua casa de família, que se enforcou por ter tido de arrendar o seu apartamento a afro-americanos.
Na sequência de episódios que denunciaram a existência de racismo em Portugal, cento e oitenta e sete escritores de língua portuguesa assinaram uma carta aberta “contra o racismo, a xenofobia e o populismo e em defesa de uma cultura e de uma sociedade livres, plurais e inclusivas”. Neste documento, assinado por grandes nomes da literatura lusófona, como Lídia Jorge, Mário de Carvalho, Mia Couto, Pepetela, José Eduardo Agualusa, Chico Buarque ou Nélida Piñon, os autores assumiram o compromisso de jamais participarem “em eventos, conferências e/ou festivais conotados — seja de que maneira for — com ideias que colidam com os princípios da tolerância e da dignidade humana”.