Obra de Agustina Bessa-Luís homenageada com Prémio Livro do Ano Bertrand
Por: Bertrand Livreiros a 2020-07-27 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
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Após a edição anterior do Prémio Livro do Ano Bertrand ter atribuído a A Leste do Paraíso, do norte-americano John Steinbeck, o prémio de Melhor reedição de obras essenciais, desta vez, o reconhecimento coube a uma autora portuguesa - Agustina Bessa-Luís. A escolha feita pelos leitores e livreiros Bertrand um ano depois da sua morte, vem comprovar as palavras que a autora Hélia Correia lhe dedicou, quando confrontada com a notícia do seu falecimento: “Se há génio, é Agustina. Se há mistério literário, é Agustina. Se há alguém que não morre, é Agustina”.
A obra em causa é a reedição de As Pessoas Felizes, publicada pela editora Relógio d'Água em abril de 2019.
Escrito no ano da Revolução de abril, o romance As Pessoas felizes, de Agustina Bessa-Luís, era já um prenúncio da mudança que Portugal iria atravessar nos anos que se seguiram. Sobre este, escreveu o cronista e político António Barreto no prefácio:
"A protagonista deste romance, Nel, é uma mulher que não é feliz do mesmo modo que os outros, homens e mulheres, mas que quer ser feliz, para o que terá de deixar de ser aquilo a que estava destinada. Há qualquer coisa de premonitório neste romance. Pelos costumes das pessoas, pelos sentimentos, pelas relações entre parentes e familiares, percebe-se que já muita coisa mudou ou está em mudança antes mesmo de a revolução acontecer. A revolução, aliás, é o coroar de um processo de mudança, mais do que o seu começo. Em algo de essencial, de fundamental, isto é, nos sentimentos, as coisas já eram diferentes antes de 1974."
Para Francisco Vale, diretor editorial da Relógio d'Água, este é "um livro capaz de fazer a felicidade dos leitores", tendo afirmado sobre o mesmo:
"As Pessoas Felizes teve a sua primeira publicação em 1975.
Falava de pessoas, de famílias do Porto, que antes da revolução de Abril de 1974 eram felizes sem disso terem consciência (a felicidade é quase sempre um estado retrospectivo).
Faziam parte de uma burguesia antiga, muitas vezes orgulhosa, discreta na sua riqueza e reservada em relação aos poderes sediados em Lisboa. Eram pessoas que caminhavam sem saber para um declínio relativo, tanto nos seus negócios como na sua vida quotidiana. Os mais atentos sabiam que as mudanças estavam a caminho, mas ninguém é capaz de se preparar para deixar de ser feliz.
Como em tantos outros romances de Agustina, abundam as personagens e as memórias, os sentimentos, as ambições que formam uma trama de múltiplos enredos.
O romance começou a ser escrito antes do 25 de Abril de 1974 e imediatamente a seguir à revolução." — Francisco Vale (diretor editorial).
Agustina Bessa Luís/ Fotografia: Ricardo Meireles.
Já o segundo lugar coube a Histórias do meu tempo, uma antologia de textos de Camilo Castelo Branco que o autor escreveu e publicou desde o início dos anos 50 a finais dos anos 80 do século XIX, publicada pela editora Temas e Debates. Sobre o Prémio, pronunciou-se José Viale Moutinho, jornalista e escritor que organizou a antologia:
"Fico muito satisfeito por mais este prémio conferido a uma obra camiliana. Já há alguns anos tive distinguido o meu livro Camilo Castelo Branco: Memórias fotobiográficas com um dos galardões do Grémio Literário. Na verdade, que eu saiba, são estes os primeiros prémios que Camilo alcança em morte e em vida. Eu apenas organizei a antologia, contando com o extraordinário apoio da Guilhermina Gomes, uma das grande editoras deste país, capitaneando a equipa do Círculo de Leitores. A memória de Camilo também lhe é bastante devedora. Esta antologia tem um titulo sem livro do próprio escritor, que eu me atrevi a encorpar tantos anos depois dele ser apontado. E chamo ainda a atenção para os 4 vols. da Camiliana, onde reuni do melhor que Camilo escreveu, também edição do Círculo. Está de parabéns a memória do autor de Histórias do meu tempo, Camilo Castelo Branco. Sabe, ando a escrever-lhe a biografia. Vem a propósito citá-lo na defesa deste idioma cada vez mais violentado: 'Morra o homem de paixão, sendo necessário, mas salve-se a língua dos Lucenas, dos Sousas e dos Bernardes.'" — José Viale Moutinho
Por sua vez, a diretora editorial da Temas e Debates, Guilhermina Gomes, manifestou a alegria com que a notícia da atribuição do segundo lugar a Histórias do meu tempo foi recebida pela editora:
"Foi com grande prazer e alegria que na editora Temas e Debates tomámos conhecimento do prémio atribuído pelos leitores e livreiros das Livrarias Bertrand, a Histórias do meu tempo.
É o reconhecimento público do trabalho de organização e prefácio de José Viale Moutinho sobre a obra de Camilo Castelo Branco.
Esta edição, uma antologia, celebra um dos mais fecundos escritores da nossa Literatura." — Guilhermina Gomes (diretora editorial)
Em terceiro e último lugar desta categoria ficou a reedição de O papagaio de Flaubert, da autoria de Julian Barnes, publicada pela editora Quetzal.
Recorde os restantes vencedores do Prémio Livro do Ano Bertrand 2019.