12 escritores e a sua vida dupla enquanto artistas
Por: Sónia Rodrigues Pinto a 2020-06-24 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
Últimos artigos publicados
São vários os escritores que expuseram a sua versatilidade enquanto artistas, mostrando que, para além das letras, tinham também o gosto pela pintura ou ilustração. Na verdade, a ponte entre a literatura e as artes visuais é bastante comum, como vimos no caso de Pablo Picasso, cuja veia poética permanece ainda um tanto desconhecida. Hoje damos-lhe a conhecer 12 autores que se entregaram a esta outra arte, fazendo justiça às palavras de Bukowski: “A diferença entre a vida e a arte é que a arte é mais suportável.”
Explosão, de Clarice Lispector (1975).
1. CLARICE LISPECTOR
Foi na década de 1970 que a romancista brasileira começou a pintar, após uma crise de criatividade que a afastou da escrita e aproximou da arte visual: “Quanto ao facto de escrever, digo – se interessa a alguém – que estou desiludida. É que escrever não me trouxe o que eu queria, isto é, a paz. (…) O que me descontrai, por incrível que pareça, é pintar. Sem ser pintora de forma alguma, e sem aprender nenhuma técnica. (…) É a coisa mais pura que faço”. De acordo com o jornal G1, Clarice Lispector chegou a produzir cerca de 20 quadros que, atualmente, fazem parte do espólio da Casa de Ruy Barbosa. Contudo, a autora de Todos os Contos sempre garantiu: “Pinto tão mal que dá gosto!”
Ilustração disponível em A Contradição Humana, de Afonso Cruz.
2. AFONSO CRUZ
Afonso Cruz é também ilustrador, cineasta e músico da banda The Soaked Lamb. Estudou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e no Instituto Superior de Artes Plásticas da Madeira e já venceu vários prémios pelo seu trabalho como escritor e ilustrador, como o Prémio Nacional de Ilustração 2014, instituído pela Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. Nos seus livros é possível encontrar, frequentemente, pequenas ilustrações ou referências artísticas, como em O Livro do Ano ou Paz Traz Paz.
3. FRANZ KAFKA
Algumas das ilustrações feitas por Franz Kafka são, ainda hoje, usadas nas capas dos seus livros, como em O Processo ou Um Artista da Fome. De facto, o autor chegou a ter aulas de desenho e a procurar a companhia de outros artistas em Praga. Na hora da sua morte, Kafka pediu que todo o seu trabalho fosse destruído. Felizmente, Max Brod, escritor e seu amigo, ignorou este pedido e publicou grande parte da sua obra.
Triple-Face Portrait, de Sylvia Plath (1950-1951).
4. SYLVIA PLATH
Apesar de ser hoje considerada uma das escritoras mais influentes do século XX, a verdade é que Sylvia Plath queria estudar Arte na universidade, antes de desistir e acabar por trocar para Inglês. O seu trabalho enquanto artista nunca foi reconhecido em vida. Em 2017, o Smithsonian National Portrait Gallery exibiu uma retrospetiva do trabalho de Plath, combinando fotografias, cartas e ilustrações nunca antes expostas num museu.
5. HANS CHRISTIAN ANDERSEN
O escritor e poeta dinamarquês, conhecido pelos seus contos infantis como A Pequena Sereia ou O Soldadinho de Chumbo, criou centenas de silhuetas em papel, uma prática bastante popular no século XIX. Andersen, numa carta em 1867, chegou a escrever que “cortar papel é o prelúdio da escrita”.
6. CLÁUDIA R. SAMPAIO
Para além dos cinco livros de poesia publicados, onde se destaca o seu mais recente Já não me deito em pose de morrer, Cláudia R. Sampaio é também pintora. Atualmente é residente no projeto artístico Manicómio, criado no hospital psiquiátrico onde já esteve internada três vezes, onde artistas com doenças mentais trabalham, expõem e vendem o seu trabalho, “recusando o estigma de serem ‘um peso para a sociedade’ através da criatividade.”
Escuta o Conto Profano, de Ana Hatherly (1998).
7. ANA HATHERLY
Começou a sua carreira literária em 1958, sendo considerada uma poeta de vanguarda e membro destacado do grupo da Poesia Experimental Portuguesa. Paralelamente à poesia começou a trabalhar, também, nas artes visuais, interligando a escrita e o desenho como um todo. Para Ana Hatherly, a escrita “nunca foi senão representação: imagem”. Dedicou-se, durante várias décadas, à carreira literária e artística e a sua inovação e originalidade destacaram-se no mundo das artes até ao seu falecimento, em 2015.
Auoretratro de Federico García Lorca em Nova Iorque (1930).
8. FEDERICO GARCIA LORCA
O poeta e dramaturgo espanhol criou, para além dos seus Poemas, centenas de desenhos e pinturas. Os seus quadros eram altamente influenciados pelo movimento surrealista, cujos traços é possível encontrar, também, na sua poesia. Federico García Lorca chegou a exibir o seu trabalho numa galeria em Barcelona, com a ajuda do amigo Salvador Dalí.
9. MÁRIO CESARINY
Mário Cesariny é considerado um dos grandes artistas do surrealismo português. Escreveu Poesia e dedicou-se à ficção, à crítica, ao ensaio e à tradução. Adicionalmente, focou-se na pintura, chegando a expor alguns dos seus trabalhos em exposições de cariz surrealista. Mais tarde, nos seus últimos anos de vida, desenvolveu o hábito frenético de transformação e reabilitação do quotidiano, de onde surgiram muitas colagens e outros trabalhos plásticos.
10. CHARLES BUKOWSKI
Apelidado de escritor maldito, Charles Bukowski não é, geralmente, lembrado pela sua arte. Ainda assim, o autor de Notas de um Velho Nojento chegou a dedicar-se à pintura, tendo criado mais de mil obras abstratas. Muitos destes quadros foram enviados para a editora Black Sparrow com o objetivo de integrarem as primeiras edições da sua obra. Na década de 1980, deixa de pintar exclusivamente para os seus livros, comentando que lhe roubava a alegria do seu processo criativo.
Written Portait (Stoned Head), de Patti Smith (1978).
11. PATTI SMITH
Poemas, músicas, narrativas, fotografias… E quadros. A criatividade de Patti Smith não tem limites. A autora de Devoção desenha e fotografa desde o final da década de 1960. Numa entrevista, refere que o primeiro contacto que teve com arte visual foi aos 12 anos, numa viagem em família. O pai sempre foi um apreciador do trabalho de Salvador Dalí e resolveu levar os filhos a uma exposição no Philadelphia Musem of Art. “Nunca antes tinha visto obras de arte. Ao ver os quadros – o trabalho de Picasso e John Singer Sargent – fiquei completamente encantada, apaixonei-me por Picasso e sonhei que queria ser pintora.”
12. RUPI KAUR
A poetisa que ficou conhecida mundialmente pelos livros Leite e Mel e O Sol e as suas Flores, acompanha sempre os seus poemas com ilustrações. Rupi Kaur afirma que foi graças à mãe, que enconrajou a sua criatividade desde pequena, que começou a escrever e a desenhar. A obra de Kaur ganhou destaque como um dos exemplos mais populares de instapoetry, um estilo de poesia que emergiu a partir das redes sociais e que, para além dos versos simples, assenta numa imagem ou ilustração que torne o poema esteticamente aprazível.