5 coisas que aprendemos ao ler "Contágio" de David Quammen

Por: Beatriz Sertório a 2020-09-14 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa

David Quammen

David Quammen

David Quammen nasceu em 1948 em Cincinatti, nos Estados Unidos da América. Apaixonado pela Ciência e pela Natureza, colabora regulamente com periódicos de divulgação científica como a National Geographic, a Rolling Stone e o The New York Times. Quammen, um dos nomes mais importantes da atualidade na área da literatura científica, conta com 15 livros publicados sobre os mais variados temas, desde vírus e epidemias à relação do Homem com a Natureza, passando pela Teoria da Evolução das Espécies de Darwin. Por Contágio (Objectiva, 2020), Quammen foi distinguido com o Wilson Literary Science Writing Award, além de ter recebido, pela sua obra, uma John Burroughs Medal para literatura científica, um Academy Award in Literature da American Academy of Arts and Letters, um prémio PEN para melhor ensaio e três National Magazine Awards. Sem Ar foi finalista do National Book Award.

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Contágio - Uma história dos vírus que estão a mudar o  Mundo, de David Quammen tem sido aclamado um pouco por todo o mundo como "o livro que previu a pandemia do covid-19". Publicado originalmente em 2012, relata a história detalhada das doenças transmitidas por vírus que passaram para os humanos através de outros animais, explicando as suas causas e tentando, através destas, prever como será a próxima grande pandemia (que o autor abrevia como PGP ou, no original, NBO, abreviatura de "next big one"). No ano seguinte, Quammen protagonizou uma Ted Talk, intitulada Every new pandemic starts as a mistery (Todas as pandemias novas começam como um mistério), na qual alertava para o perigo eminente de uma nova pandemia - conferência que tem vindo a ser comparada com a Ted Talk que o diretor da Microsoft, Bill Gates, deu dois anos mais tarde sobre o mesmo tema.

Afinal, como explica aquele que é atualmente um dos mais importantes nomes da literatura científica, os sinais estavam em todo o lado. Nós é que não estávamos a prestar atenção. 


1. O COVID-19 É UMA DOENÇA ZOONÓTICA

Um dos primeiros conceitos que o autor de Contágio começa por explicar aos leitores é o de zoonose. Este é o termo científico utilizado quando "um agente patogénico passa de um animal não humano para uma pessoa e consegue estabelecer-se nela como uma presença infeciosa, às vezes causando doença ou morte." Os agentes patogénicos que causam estas doenças têm como estratégia ocultar-se naquilo a que se chama de "hospedeiro reservatório", que é um organismo vivo que abriga cronicamente o agente patogénico mas adoece pouco ou não adoece. Ao instalarem-se nestes organismos, que podem ser desde aves, a roedores ou morcegos, torna-se mais difícil detetá-los e, consequentemente, impedir a sua propagação.

Segundo o autor, "residir sem ser detetado, num hospedeiro reservatório, é provavelmente mais fácil onde quer que a diversidade biológica seja grande e o ecossistema esteja relativamente intacto", mas "o inverso também é possível: a perturbação ecológica faz a doença emergir. Abane-se uma árvore, e dela há-de cair algo."

 

2. A MAIOR PARTE DAS DOENÇAS SÃO TRANSMITIDAS DE ANIMAIS PARA HUMANOS

É verdade que alguns agentes patogénicos parecem emergir do próprio ambiente, sem necessidade de se abrigar num hospedeiro reservatório (é o caso, por exemplo, da bactéria que hoje conhecemos como Legionella pneumophila, que emergiu de uma torre de refrigeração de ar-condicionado), no entanto, cerca de 60% de todas as doenças infeciosas humanas, atualmente conhecidas, passam rotineiramente, ou passaram há pouco tempo, de outros animais para nós. Entre as doeças zoonóticas encontramos, a título de exemplo, a peste bubónica, o Ébola ou a gripe espanhola de 1918-19. Ter consciência desta dinâmica é não só importante para explicar a origem destas doenças, mas também para nos lembrar daquilo que o autor apelida como a "verdade darwiniana" de que também nós, humanos, somos animais e parte da natureza, e a forma como interagimos com esta afeta-nos diretamente.

 

 

3. A SIDA TEVE ORIGEM NOS CHIMPANZÉS

Ao contrário do que talvez possa pensar, também a Sida é uma doença zoonótica. Segundo os cientistas, o vírus do VIH é uma variação de um vírus que teve origem na nascente de um rio chamado Shanga, no sudeste dos Camarões, no início do século XX. Inicialmente, instalou-se nos chimpanzés e, de seguida, por acontecimentos acidentais que podem ter estado relacionados com a atividade de caçadores ou vendedores de animais selvagens, foi transmitido aos humanos. O caso mais antigo e bem documentado de VIH em humanos remonta a 1959, na República Democrática do Congo, tendo sido transportado  posteriormente para os EUA por um indivíduo que contraiu o vírus no Haiti.

Nos EUA, a epidemia espalhou-se rapidamente entre os grupos de alto risco (inicialmente, em homens que faziam sexo frequente com outros homens), sendo estimado que em 1978, a prevalência de VIH entre homossexuais masculinos residentes de Nova Iorque e São Francisco era de 5%. Desde a sua descoberta, a Sida causou a morte de, aproximadamente, 30 milhões de pessoas (até 2009).

 

4. O TURISMO SELVAGEM COLOCA OS ANIMAIS EM PERIGO

Quando invadimos o habitat de animais selvagens, não estamos simplesmente a colocar-nos a nós próprios e à espécie humana em perigo. Também nós podemos ser portadores de vírus que podem ser letais para os outros animais. Sempre que existe uma transmissão deste tipo, de humanos para espécies não humanas, dá-se o nome de antroponose. Segundo o autor, "os famosos gorilas-das-montanhas, por exemplo, tinham sido ameaçados por infecções antroponóticas como o sarampo, trazidas por ecoturistas (...)". Estas doenças infecciosas, combinadas com a destruição dos habitats, e a caça dos animais  selvagens para consumo local ou venda em mercados, podem, nos casos mais graves, levar à extinção de uma espécie.

 

5. NÓS SOMOS OS PRINCIPAIS CULPADOS PELA EMERGÊNCIA DE PANDEMIAS

Esta é a principal mensagem que David Quammen pretende passar com o seu livro. De nada adianta culparmos os morcegos, pois o principal culpado desta pandemia (e das próximas que se seguirão) é o ser humano. Alerta o autor: "Quando as árvores caem e os animais nativos são abatidos, os germes voam como poeira de um armazém demolido. Um micróbio parasita assim sacudido, despejado, privado do seu hospedeiro natural, tem duas opções: encontrar um novo hospedeiro, um novo tipo de hospedeiro... ou extinguir-se". E, frequentemente, esses novos hospedeiros somos nós - uma espécie cada vez mais abundante que, frequentemente, invade o habitat de outras espécies, e que se desloca pelo mundo inteiro com mais facilidade do que nunca.

Deste modo, as atividades humanas como a caça, o comércio de animais selvagens para alimentação, a desflorestação, a poluição e consequentes alterações climáticas, são as principais culpadas da situação que vivemos atualmente e, se nada mudar entretanto, podemos esperar muitas situações semelhantes no futuro. Segundo afirmou o autor na sua, agora célebre, Ted Talk, essa mudança só poderá começar a ocorrer quando tivermos verdadeira consciência da tal "verdade darwiniana" de que todos nós, "pessoas, gorilas, chimpanzés, macacos, cavalos, roedores, morcegos e vírus, ..., estamos juntos nisto." 

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