"Ensaio sobre a Cegueira" e "A Peste", obras contagiosas em pleno séc. XXI
Por: Sónia Rodrigues Pinto a 2020-03-11 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
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Ainda só vamos no terceiro mês do ano, mas a epidemia do COVID-19, a nova estirpe do coronavírus, já afetou milhares de pessoas e ousou o impensável ao parar o mundo. Considerada “a maior epidemia do século XXI” (in Revista Sábado, n.º 827), esta epidemia já levou ao cancelamento de diversos eventos culturais, o encerramento temporário de universidades e à divulgação de petições pelo encerramento de escolas públicas. No meio do pânico, contudo, há quem tenha preferido a ficção à realidade, através da literatura.
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“O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos”
Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, e A Peste, de Albert Camus, foram duas das obras cujas vendas online dispararam, em Itália, o país europeu mais afetado pelo COVID-19. A cegueira ficcionada pelo autor português tornou-se um fenómeno literário por terras italianas, chegando ao 5.º lugar na Amazon, com um aumento de 180% nas vendas, segundo o jornal Expresso. Já o livro do escritor franco-argelino, subiu para o terceiro lugar do top de vendas, quando há um mês não passava do 71.º lugar, de acordo com o jornal italiano La Repubblica.
A obra de Saramago, laureado com o Prémio Nobel da Literatura em 1998, narra uma epidemia de cegueira branca, que alastra pelo país inteiro e que leva a vários episódios de pânico e caos social. Um dos mais popularmente citados narra a primeira situação de quarentena forçada, num asilo degradado, onde as pessoas vivem de forma deplorável e em condições desumanas. A distopia foi altamente elogiada internacionalmente, pelo quadro que traça do ser humano que, perante a angústia e o sofrimento, acaba por se revelar: “É desta massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade.”
Em A Peste, por outro lado, o também Prémio Nobel da Literatura de 1957, relata a história de uma cidade de Orão, na Argélia, na década de 1940, que é colocada em quarentena devido a uma epidemia de peste. Grande parte da população é aniquilada pela doença, restando à personagem principal, o doutor Bernard Rieux, fazer o melhor que pode, curando um paciente de cada vez. Publicada em 1947, crê-se que esta obra serviu, na altura, como analogia para os horrores da II Guerra Mundial, questionando a natureza e condição do ser humano.
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E porque falamos em obras contagiosas, nem Stephen King escapou ao escrutínio dos meios de comunicação. De acordo com o jornal Daily Mail, o ator James Marsden comparou o COVID-19 ao vírus criado pelo Rei do Terror em The Stand, obra originalmente publicada em 1978, e que vai ser agora adaptada à televisão pelo serviço de streaming norte-americano CBS Access.
No cenário apocalíptico criado por King, um vírus mortal é criado num laboratório militar, originando uma pandemia mundial que, devido à falta de cura ou vacina, acaba por matar 99% da população. O autor já reagiu, publicando no Twitter que o novo coronavírus não é como o vírus do seu livro, reforçando que “não é, nem de longe, tão sério”.
— Stephen King (@StephenKing) March 8, 2020
O COVID-19 E A SITUAÇÃO ATUAL
A nova estirpe do coronavírus, detetada em dezembro, na China, já infetou mais de 120 mil pessoas e provocou cerca de quatro mil mortos no mundo inteiro, em 118 países. É importante realçar que mais de 65 mil pessoas infectadas com o COVID-19 recuperaram totalmente. Em Portugal, e até ao momento, foram confirmados 59 casos de pessoas infectadas.
Deixamos-lhe alguns links úteis para que possa estar a par desta situação a nível mundial:
- Coronavírus/Covid-19: um resumo das boas práticas contra alarmismos, via Shifter;
- O novo coronavírus "não se propaga no ar" e "qualquer máscara impede a sua entrada no organismo"?, via Sapo;
- A situação do novo coronavírus ao minuto no país e no mundo, via RTP Notícias;
- Mapa Interativo sobre o COVID-19 em Portugal;
- Mapa Interativo sobre o COVID-19 no Mundo.