O livro de Stephen King que inventou outra pandemia
Por: Sónia Rodrigues Pinto a 2021-05-18 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
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Vivemos tempos estranhos. Temos a sensação que a História se repete e que estamos a passar por algo a que os nossos antepassados (sobre)viveram. Hoje, muitos são os que se agarram à literatura como forma de enfrentar a atualidade. Não apenas pela companhia que um livro nos faz, numa vida confinada, mas também porque recordamos, com a ajuda da ficção, que não estamos sozinhos. E que podia ser muito, muito pior.
The Stand foi escrito em 1978. Uma estirpe modificada de supergripe é criada como arma biológica, estimando-se que seja 99 % fatal. O vírus propaga-se, a nível mundial, após a fuga de um guarda que, sem saber, já se encontrava infetado. No espaço de um mês, poucos são aqueles que sobrevivem a este cenário apocalítico. A sociedade como a conhecemos desmorona-se. Mas o verdadeiro pesadelo está longe de começar.
Paralelamente a esta pandemia, a dualidade entre o Bem e o Mal aparece em sonhos. Os sobreviventes, imunes a este vírus, sonham com duas figuras: a Mãe Abigail, uma idosa de 108 anos, e Randall Flagg, conhecido apenas como o Homem Sombrio. A população escolhe quem seguir — a mulher de ar bondoso que apela à criação de uma comunidade democrática no Colorado, ou o homem perverso que submete os seus seguidores a um regime totalitário em Las Vegas. O destino da Humanidade divide-se em dois.
Stephen King é conhecido como o Rei do Terror, mas é nas entrelinhas dos seus livros de fantasia ou ficção científica que percebemos quem são os verdadeiros vilões das suas histórias. Muito mais do que um livro sobre uma arma biológica, The Stand é uma reflexão sobre uma pandemia igualmente perigosa, onde a moralidade e a ética entram em jogo e são postas em causa numa sociedade desfeita. Já na introdução do livro The Shining (1977), o autor nos alertava: “Os monstros existem e os fantasmas existem também. Vivem dentro de nós e, por vezes, ganham.”