Uma história profundamente humana do Rei do Terror
Por: Beatriz Sertório a 2020-03-10 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
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Quando pensamos em Stephen King, conhecido como o Rei do Terror, pensamos nas histórias e nas personagens que povoaram os nossos pesadelos – desde a fanática religiosa Margaret White, de Carrie, ao alcoólico Jack Torrance. de The Shining, passando pelo demoníaco palhaço Pennywise, de A Coisa, ou a obsessivo-compulsiva Annie Wilkes, de Misery. É, sobretudo, pela sua capacidade de provocar medo nos leitores que o lembramos. Contudo, no espectro das emoções humanas exploradas nas suas obras, é tão importante o medo como a esperança. E é de uma mensagem de esperança que trata este mais recente Elevação.
A premissa é típica dos romances de Stephen King: um homem de uma pequena cidade no estado do Maine (estado dos EUA onde King nasceu e onde situa os enredos de grande parte dos seus livros) depara-se com uma situação bizarra. Em Elevação, esse homem é Scott Carey e a situação bizarra é a sua perda de peso constante, apesar de a sua forma física se manter inalterada.
Num claro ataque a Donald Trump, que chega mesmo a ser explícito ao longo da história, King descreve a cidade onde Scott vive (Castle Rock) como uma cidade republicana e profundamente conservadora, cuja população não aceita Deidre e Missy, o casal de lésbicas que, recentemente, abriu um restaurante nas redondezas. Scott, apesar de não partilhar este preconceito, começa uma guerra com elas pelo facto de os cães do casal gostarem de fazer as necessidades no seu relvado. Todavia, com o tempo, começa a perceber as dificuldades que ambas têm tido desde que se mudaram para Castle Rock e decide ajudá-las a serem acolhidas pela comunidade.
É bem conhecida a consciência política e social de Stephen King, que, numa entrevista, ao The New York Times, em 2019, confessa: «Comecei a ter cada vez mais a noção de que as pessoas sem privilégios e as que não pertencem ao americano branco estereotipado, estavam a ser marginalizadas». A gradual leveza do ser, de Scott, pode ter algo que ver com esta mesma compreensão – a de alguém que, percebendo as barreiras de diferentes tipos que colocamos entre nós e os outros, se liberta delas e, assim, se eleva.
«Talvez no momento de morrer todos se elevem.» in Elevação
Apesar da inegável mensagem do foro espiritual - uma vez que King, apesar de condenar a religião organizada, acredita em Deus -, a principal mensagem de Elevação é profundamente humana: esperança na união entre as pessoas e no fim das fronteiras que nos separam, algo que é tão importante nos tempos que correm, não só nos EUA mas também em todo o mundo.