As famílias podem crescer — Revista Somos Livros — Natal 2024

Por: Elísio Borges Maia a 2024-11-13

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Outremos um pouco — Revista Somos Livros — Mês do Livro 2025

“Para muitos portugueses, Abril começou muito antes de 1974. Homens de rija têmpera, como o Maiato de Gueifães, deixaram para trás uma terra onde a miséria era o único futuro que vislumbravam para si e para os seus filhos. Acharam nos caminhos da emigração, a realização dos sonhos impossíveis no seu próprio país”. O autor destas linhas é António Borges. O “Maiato de Gueifães” é o seu irmão, Valdemar Borges. António escolheu ficar, mas viu partir cinco dos seus irmãos – Anselmo, Renato, Roberto, Valdemar e Manuel. Por esta ordem, emigraram para França, na década de 1960. Todos são meus tios, irmãos de minha mãe, Albertina.

Revista Somos Livros Infantojuvenil — Mês do Livro 2025

Todos nós queremos as mesmas coisas: ser amados e respeitados, viver numa casa confortável, ter bons amigos e a oportunidade de viver os nossos sonhos. Esta frase de Richard Zimler dá mote a esta edição da tua revista do Clube Bertrand Infantil, dedicada ao tema da migração.

De casa às costas

Às vezes, “casa” é uma palavra difícil de definir. Para muitas pessoas, é o lugar onde nasceram, cresceram e onde sentem que pertencem. Para outras, pode ser um sítio que está a milhares de quilómetros e tornar-se sinónimo de “saudade”. Há quem tenha duas casas, dividindo o coração entre dois lugares, e há aqueles para quem casa não é um espaço físico, mas, sim, as pessoas com as quais se sentem seguros e felizes. Todos os dias, em todo o mundo, milhares de pessoas deixam as suas casas em busca de um sonho ou para escapar a um pesadelo — aos primeiros, chamamos migrantes e, aos segundos, refugiados.

Quase a terminar um ano que continua a desafiar a premissa da racionalidade humana, voltamos a nossa atenção para os animais. Especialmente aqueles que se habituaram a estar perto de nós, humanos, mesmo quando desmentimos essa promessa de humanidade. Toleram pacientemente os nossos defeitos, enchem de alegria as nossas famílias, são amigos inseparáveis das crianças e a companhia dos mais idosos. 

Alguns são capazes de feitos prodigiosos: cães que guiam e ajudam pessoas cegas, oferecem os seus sentidos a missões de deteção de estupefacientes e explosivos ou apoiam equipas de proteção e socorro na busca de pessoas desaparecidas e de vítimas soterradas sob escombros. Outros, mais discretos, têm superpoderes que temos vindo a descobrir. A convivência com animais de companhia pode baixar a pressão arterial e os níveis de stress, reduzindo o risco de acidentes cardiovasculares e melhorando o bem-estar geral dos tutores, com reflexo positivo na vida e no trabalho. Mais recentemente, a relação entre os humanos e os seus animais de companhia no contexto de eventos de grande magnitude foi também objeto de investigação. Um destes estudos, publicado em 2021 e mencionado nesta edição por Mariana Caldeira, avaliou cerca de 5.000 pessoas durante a pandemia COVID-19, tendo concluído que os animais reduziram significativamente a ansiedade, solidão e isolamento dessas pessoas.

Os dois anos de pandemia foram um período de grande crescimento das famílias que deram este passo: foram registados no Sistema de Informação de Animais de Companhia (SIAC) cerca de 570 mil cães e 290 mil gatos. No final de 2023, o SIAC apresentava um número total de 4,2 milhões de animais de companhia distribuídos por 2,3 milhões de titulares, quase dois por tutor. Nesse mesmo ano, foram adotados 30 mil animais juntos dos Centros de Recolha Oficiais (CRO), mais 24% do que ano transato e 61% acima de 2019. Todavia, este crescimento das adoções é ensombrado pelos números do abandono. Em 2023, os CRO recolheram mais de 45 mil animais, um aumento de 7,5%. Assim, o número de animais adotados correspondeu a apenas dois terços do número de animais recolhidos. Nos últimos 5 anos, houve mais 75 mil recolhas pelos CRO do que adoções, uma cadência média de 15 mil por ano. E o primeiro Censo Nacional de Animais Errantes, realizado em 2023, estima a existência de cerca de 930 mil animais errantes em Portugal Continental. Decisões irrefletidas, uma detenção pouco responsável e expectativas desajustadas dos tutores sobre as necessidades dos animais e o seu comportamento são algumas das causas principais sob estes números. O reforço da informação sobre as sérias implicações de se assumir a tutoria de um animal, a sensibilização para a necessidade de privilegiar a adoção em detrimento da aquisição (que ainda é o meio indicado por 8% dos detentores de gatos e por 24% dos detentores de cães no referido Censo) e de utilizar formas de contraceção poderão contribuir decisivamente para reduzir o crescimento desta população de animais errantes ou que se encontram à guarda de instituições.

Nesta relação milenar com os seres humanos, os animais estão por todo o lado e não deve espantar que a ubiquidade se estenda à literatura, ora fazendo deles próprios ora personificando os nossos vícios e virtudes. Aqui, não há limite para a imaginação. Pode-se entrar na barriga de uma baleia e regressar ileso, pescar com ursos ou subir ao dorso de elefantes. Um lobo pode perder a cauda às mãos de uma astuciosa raposa, um leão fazer amizade com uma macaca e um papagaio decorar o Evangelho de São Mateus. Numa história famosa, porcos rotundos engravatados brindam com champanhe e jogam às cartas com comparsas humanos, que dos porcos mal se distinguem. Mas nem todos são personagens imaginadas. Muitos animais reais marcaram a vida dos seus companheiros escritores. Alguns assumem o papel principal ou de biografado, outros espreitam sorrateiramente por entre a sua obra. É o caso de Camões, o Cão-de-Água que José Saramago acolheu em Lanzarote; de Lola, o corvo que Truman Capote terá recebido, um pouco contrariado, como presente de Natal; ou de Jim, o fiel companheiro de François Schuiten, que apaziguou o luto pela sua perda dedicando-lhe um livro maravilhoso. Nestas páginas, contamos algumas destas histórias, falamos dos livros deste Natal e trazemos entrevistas a Bruno Vieira Amaral e Madalena Sá Fernandes, que nos falam do seu percurso e do seu trabalho, mas também do incrível Mr. Leo e do irrefreável Jesus… 

Os animais podem mudar a nossa vida para sempre. Se quer perceber em que medida e tiver condições para isso, deixe-os entrar na sua

Feliz Natal


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