Prémio Bertrand | Os 5 Melhores Livros de Poesia para ler perdidamente
Por: Bertrand Livreiros a 2019-04-10 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
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São a nata da nata, os melhores dos melhores. Passaram pelo crivo do exigentíssimo júri de leitores e livreiros da 3.ª edição do Prémio Livro do Ano Bertrand e foram distinguidos como os cinco melhores livros de poesia que marcaram o último ano editorial. Solte a sua alma de poeta e deixe a poesia viciar o seu coração.
OBRA POÉTICA I, DE ANTÓNIO RAMOS ROSA
Considerado o último representante de uma geração de ouro da poesia portuguesa, Ramos Rosa, poeta e ensaísta, é autor de quase uma centena de títulos. Exemplo de uma entrega radical à escrita, como talvez não haja outro na poesia portuguesa contemporânea, morreu aos 88 anos. Nascido em Faro, ali frequentou o liceu, mas, por razões de saúde, não terminaria os estudos secundários. Trabalhou algum tempo como empregado de escritório, ao mesmo tempo que dava explicações de português, inglês e francês e traduzia autores estrangeiros. Envolveu-se, logo após o final da segunda guerra, na oposição ao salazarismo, militando no MUD Juvenil e participando em manifestações. Nos anos 50, ajudou a fundar e coordenou várias revistas literárias.
Embora publicasse poemas em revistas desde o início dos anos 50, o seu primeiro livro, “Grito Claro” só saiu em 1958, aos 34 anos. Mas a partir desta estreia algo tardia, nunca mais deixará de editar poesia a um ritmo impressionante. Além da sua vastíssima obra poética, escreveu livros de ensaios que marcaram sucessivas gerações de leitores de poesia. Traduziu muitos poetas e prosadores estrangeiros e organizou uma importante antologia de poetas portugueses contemporâneos. Era ainda um dotado desenhador.
Prémio Pessoa em 1988, António Ramos Rosa recebeu ainda quase todos os mais relevantes prémios literários portugueses e vários prémios internacionais, quer como poeta, quer como tradutor. No dia em que comemorou 74 anos, em 2003, a Universidade da sua terra natal, atribuiu-lhe o grau de Doutor Honoris Causa.
AS LIÇÕES DA INTIMIDADE, ANTOLOGIA, DE LUIS GARCÍA MONTERO
“E enfim, para quem se interesse pelos detalhes, o meu personagem verbal considera-se marxista e pensativo, tem um caráter fácil, está ligado à vida e quando lhe perguntam pelo seu trabalho costuma responder que é professor de literatura medieval”, do Posfácio, por Nuno Júdice, que fez a também a tradução desta obra.
Apesar de ter crescido numa família conservadora espanhola, a vocação política de García Montero, começou no Partido Comunista de Espanha em 1976. É professor catedrático de Literatura Espanhola na Universidade de Granada, no sul de Espanha, e candidatou-se, em 2015, à presidência da Comunidade de Madrid, pela Esquerda Unida. Tem recebido inúmeras distinções, ao mais alto nível, pela sua obra poética: Prémio Nacional de Poesia de Espanha, em 1995; Prémio Nacional da Crítica, em 2003; Prémio da Crítica Andaluza, em 2009; e Prémio Poetas do Mundo Latino, da Universidade Nacional Autónoma do México, em 2010. Mas as honras literárias não ficam por aqui. Em 2017, foi distinguido como Filho Dileto da Andaluzia e recebeu o Prémio de Poesia Ramón López Velarde, da Universidade de Zacatecas – um dos principais prémios literários do México -, pelo conjunto da obra.
NÓMADA, DE JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES
João Luís Barreto Guimarães foi-se fazendo poeta enquanto se fez médico. É cirurgião plástico e reconstrutivo e especializou-se a operar mulheres que tiveram cancro da mama. Ultimamente, lê, escreve, pensa, respira poesia cada vez mais, sempre que pode, e opera para relaxar. Na sua vida, a poesia está a vencer a ciência. Anda sempre com a caneta e o papel, de maneira a que “não me falte o estetoscópio necessário para a escrita”. Em 2017, ganhou o Prémio António Ramos Rosa, com o livro, Mediterrâneo. Barreto Guimarães pega na simplicidade dos momentos, nos objetos, na vida e transforma-os em versos que prendem, que fazem querer ler mais, que fazem sorrir e viajar no tempo.
Nos 42 poemas que integram Nómada, cabem “a pastilha elástica colada à sola do sapato”, o odor inconfundível da “batata frita”, “as águas altas do Sena” e “os corvos em Birkenau”. A verdade é que este poeta, que é médico, faz sempre da vida uma celebração, porque: “fazer poemas é como ir / roubar / maçãs selvagens / vais à espera de doçura mas / surpreende-te a acidez”.
AGON, DE LUÍS QUINTAIS
Teme a palavra “poeta”, gosta da designação “pensador lírico”. Como antropólogo, prefere as fronteiras, os espaços que teimam em persistir entre culturas, os interstícios, os híbridos, as anomalias, os rizomas. Publica poemas desde 1991, embora o seu primeiro livro só tenha saído quatro anos mais tarde. Escreve ensaios sobre poesia e algum do seu trabalho poético foi traduzido para outras línguas europeias. Este ano, viu o seu trabalho, A Noite Imóvel, ser distinguido com o Prémio Literário Casino da Póvoa, associado à 20.ª edição do Festival Correntes d’Escritas.
Agon é o resultado de um processo de reescrita de dois cadernos que o autor julgava ter perdido. Os poemas contidos nesses cadernos têm, à data de publicação deste livro, mais de trinta anos. A sua mais recente paixão é a fotografia, porque muitos dos seus poemas e ensaios são sobre o “ver”. O que vemos, o que não vemos, o que conhecemos, o que não conhecemos, o que está fora do ver, isto é, fora da mente, fora da cognição. “Usei as imagens como um arquivo de traços que o meu ver ia deixando na paisagem”. Vive em Coimbra num bairro cheio de gente envelhecida e cheio de gatos. Gosta de velhos e de gatos. Acredita mais na redenção do que na revolução: “E a redenção será poética ou não será!”
POESIA REUNIDA, DE MANUEL RESENDE
“A minha poesia é uma colagem. Tem as mais diversas influências. Desde o Sófocles ao Rui Veloso e ao Sérgio Godinho; tem os Beatles, André Gide, Breton, Cesariny, Jorge de Sena… Eu atiro aquilo para lá e, de vez em quando, começa a sair um soneto”.
Esta é a génese dos seus poemas. Cabem todos em pouco mais de 250 páginas. Poesia Reunida é um livro raro de um poeta raro, insubmisso, desalinhado, descomprometido, exceto com o mundo. Este volume, publicado o ano passado, assinala os 70 anos do autor, os 50 do Maio de 68 e os 35 do seu primeiro livro. Manuel Resende não publicou mais de três livros, a que juntou as experiências poéticas que atribuiu a um heterónimo e três inéditos e esparsos. Mas a quantidade nada diz da qualidade de um verso. Do pai, engenheiro, herdou o gosto pela poesia e as ideias de esquerda, que viriam a explodir com o Maio de 68, que acompanhou, informado, à distância. Por essa altura já traduzia, paixão que nunca o abandonou, sendo hoje um dos grandes especialistas em grego moderno. Nunca exerceu engenharia, que cursou, mas passou pelas redações dos jornais (seis anos no Jornal de Notícias), e pelos corredores da União Europeia (duas décadas como tradutor). Não se revê em grupos, nem em movimentos. E publicar também nunca se revelou uma urgência ou uma ambição.
Apenas lhe interessam as palavras, as dos outros, que traduz com paixão, e as suas, que vai compondo em versos.
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Para saber qual o livro vencedor, convidámo-lo/a a juntar-se a nós na cerimónia de divulgação dos vencedores da 3.ª edição do Prémio Livro do Ano Bertrand, que terá lugar dia 23 de abril, a partir das 18h30, na Livraria Bertrand do Chiado.