O essencial de 83 anos de Mario Vargas Llosa
Por: Bertrand Livreiros a 2019-03-28 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
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Mario Vargas Llosa celebra o seu aniversário hoje (n. 28 de março de 1936). O escritor, natural do Peru, é uma das figuras incontornáveis da literatura latino-americana, a par com nomes como Gabriel García Marquez ou Julio Córtazar. Celebramos os 83 anos do autor, Prémio Nobel da Literatura de 2010, destacando cinco livros essenciais da sua obra.
1. A CIDADE E OS CÃES (1963)
O primeiro romance de Mario Vargas Llosa, A Cidade e os Cães narra o quotidiano dos alunos do Colégio Militar Leoncio Prado, no qual o próprio autor também esteve inscrito. Um retrato duro e violento de uma academia militar onde não há espaço para se ser humano, explora a hierarquia do exército e os códigos rigorosos a cumprir, abordando a história de Cavas, Jaguar, Ricardo e Alberto, cadetes do quarto ano com dificuldades em sobreviver a um ambiente tão violento.
Na altura da sua publicação, o livro causou tamanha polémica e rebuliço que as autoridades da academia queimaram cerca de 1000 cópias da obra em sinal de protesto. Em 1985, o romance foi adaptado para filme, pelo diretor peruano Francisco Lombardi.
2. A TIA JÚLIA E O ESCREVEDOR (1977)
Varguitas, um jovem peruano com ambições literárias, é a personagem principal de A Tia Júlia e o Escrevedor, que se apaixona por uma tia com quase o dobro da sua idade. Paralelamente a isso, Varguitas conhece Pedro Camacho, autor boliviano de radionovelas e um fascínio para os habitantes de Lima, algures nos anos 50. Ironia e romance em doses perfeitas, memórias autobiográficas e criação literária magistral fazem deste livro um clássico da literatura contemporânea.
O enredo baseia-se, em parte, na história do primeiro casamento de Vargas Llosa que, com 19 anos, casou com Julia Urquidi, então com 32 anos e sua tia por casamento.
3. A GUERRA DO FIM DO MUNDO (1981)
Inspirado em eventos reais, que se passaram em Bahia, no Brasil, por volta do séc. XIX, A Guerra do Fim do Mundo é considerada uma obra-prima trágica e das obras mais populares do autor. Numa altura difícil, aquando do fim do Império do Brasil, os mais pobres são atraídos por um místico, António Conselheiro, que funda uma sociedade à margem do mundo oficial. O governo e a Igreja reagem com o objetivo de “repor a ordem”, mas Conselheiro e os seus seguidores respondem por igual, construindo uma cidade a que dão o nome de Canudos e que, mais tarde, daria origem à Guerra de Canudos, para a qual foram mobilizados milhares de soldados.
4. TRAVESSURAS DA MENINA MÁ (2006)
Ricardo Slim Somorcio, enquanto adolescente no Peru, algures nos anos de 1950, conhece Lily, uma jovem imigrante por quem se apaixona perdidamente. A rapariga, contudo, desaparece subitamente. Nas quatro décadas seguintes, onde no meio cumpre o sonho de viver em Paris enquanto tradutor, Ricardo continua a reencontrar “a menina má”, essa jovem inconformista, aventureira, pragmática e inquieta que o irá arrastar para fora do estreito mundo das suas ambições.
Criando uma admirável tensão entre o cómico e o trágico, Vargas Llosa joga com a realidade e a ficção em Travessuras da Menina Má, para dar vida a uma história na qual o amor revela-se indefinível, senhor de mil caras, tal como Lily, que em cada reencontro apresenta um disfarce diferente. Paixão e distância, sorte e destino, dor e prazer… Qual é o verdadeiro rosto do amor?
5. A Civilização do Espectáculo (2012)
Uma das mais recentes obras do escritor, A Civilização do Espectáculo apresenta-se como uma dura crítica ao nosso tempo e cultura. “Os conceitos de arte e de cultura acabam desmontados e despojados da diferença de outrora, daquilo que as fazia afirmar em tempos idos, mas que se colocam subvertidos pelas denominações e classificações de hoje” (via Comunidade, Cultura e Arte). A banalização das artes e da literatura, o triunfo do jornalismo sensacionalista e a frivolidade da política são sintomas de um mal maior que afeta a sociedade contemporânea: a ideia temerária de converter em bem supremo a nossa natural propensão para nos divertirmos.
Assim, neste livro marcante, Vargas Llosa, segundo Helena Vasconcelos para o jornal Público, “fornece uma visão do mundo que não é a de um simples ficcionista”, ao analisar com “uma certa melancolia” as últimas décadas da sociedade contemporânea e questionando até que ponto a noção de cultura, como a conhecemos, deu o lugar ao “imediato, ao óbvio e a tudo o que é fácil”.
Boas leituras.