O clássico de Machado de Assis que viralizou no BookTok

Por: Bertrand Livreiros a 2024-06-21

Machado de Assis

Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) nasceu e viveu no Rio de Janeiro. A única vez que deixou a cidade, em 1879, para convalescença de crise de epilepsia, foi para Nova Friburgo, estada que ficou literariamente famosa por ter aí começado — ditando-o à mulher, Carolina — Memórias Póstumas de Brás Cubas, livro singularmente extravagante que marca toda a sua obra. Descendente de escravos, pobre, órfão muito cedo, não teve educação formal e foi funcionário público, mas, não obstante ter surgido como o mais excêntrico escritor que o Brasil já conhecera, cedo alcançou enorme reputação literária, fundando e presidindo a Academia Brasileira de Letras. Foi o mais completo homem de letras oitocentista no Brasil, escrevendo em vários géneros, mas destacando-se enquanto romancista, contista e cronista. Os seus romances ainda surpreendem pela atualidade, pelo inesperado do humorismo filosófico e pelo cosmopolitismo.

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Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas." É com esta dedicatória inusitada que o leitor é convidado a entrar num dos maiores romances escritos em português da História da Literatura. Memórias Póstumas de Brás Cubas, do brasileiro Machado de Assis, marcou o início do Realismo no Brasil e já mereceu o reconhecimento de inúmeros autores de renome internacional, no entanto, recentemente, alcançou ainda outro feito. 144 anos após a sua publicação tornou-se viral no TikTok depois de uma booktoker norte-americana recomendar a sua leitura. Afinal, o que torna esta obra tão especial?
 

Um génio improvável

Embora seja frequentemente equiparado a autores como William Shakespeare ou Eça de Queiroz, Joaquim Maria Machado de Assis teve origens muito mais humildes. Nascido no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, era neto de escravos e filho de um pintor de paredes carioca e de uma lavadeira açoriana. Sendo mestiço numa época em que a escravatura era ainda legal no Brasil, as suas probabilidades de conseguir subir socialmente tornavam-se ainda mais reduzidas, ainda assim, a sua cultura e capacidade intelectual levaram-no a assumir diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e até a fundar e tornar-se no primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras. Com a notoriedade que alcançou nos jornais onde publicou os seus primeiros poemas e crónicas, conquistou o seu lugar no círculo intelectual brasileiro do qual viria a ser o seu expoente máximo.

Morreu na madrugada de 29 de setembro de 1908, aos 69 anos, com uma úlcera cancerosa na boca, no entanto, o seu legado perdura até hoje. Juntamente com Eça de Queiroz, são considerados os dois maiores escritores em língua portuguesa do século XIX e, possivelmente, da História. Foi ainda incluído na lista oficial dos Heróis Nacionais do Brasil e deu o nome ao principal prémio literário brasileiro, o Prémio Machado de Assis.

 

Viagem de um defunto à roda da vida

Memórias Póstumas de Brás Cubas foi o quinto romance de Machado de Assis, e o que inaugurou um estilo característico, totalmente distinto dos anteriores. Escrito aos 40 anos de idade, depois de uma grave crise de saúde do autor — sofria de crises de epilepsia que chegaram a causar-lhe cegueira temporária —, foi editado pela primeira vez em folhetim na Revista Brasileira, em 1880, tendo sido editado em livro no ano seguinte. Nele, Brás Cubas, um defunto, narra as suas memórias, e as dificuldades de viver num contexto onde grassam a pobreza e a desigualdade, e onde a escravatura é ainda uma realidade.

Para além da forte crítica social, o romance é inovador no tom cáustico e pessimista que assume ter influências de Viagem à Volta do Meu Quarto, de Xavier de Maistre, Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett e A Vida e Opiniões de Tristram Shandy, de Laurence Sterne. No prólogo à quarta edição, Machado de Assis escreve: “Toda essa gente viajou: Xavier de Maistre à roda do quarto, Garrett na terra dele, Sterne na terra dos outros. De Brás Cubas se pode dizer que viajou à roda da vida.” Sobre o romance de que este último é protagonista, afirmou o conceituado crítico literário Jacinto Prado Coelho tratar-se de “[u]ma autêntica obra prima pela finura psicológica, pela serena inteligência das coisas e pela justeza da expressão, ora travessa, maliciosa, ora de concisa gravidade.

 

Fama internacional e BookTok

O reconhecimento internacional de Memórias Póstumas de Brás Cubas não é um fenómeno recente. Em 2020, por exemplo, uma nova tradução para o inglês esgotou um dia após o seu lançamento nos Estados Unidos da América. Antes disso, inúmeras personalidades de renome o elogiaram. A título de exemplo, Woody Alllen considera-o um dos seus livros preferidos, afirmando ser “uma obra prima muito, muito original”, Susan Sonntag diz que este livro tem a capacidade de “impressionar sempre os leitores com a força de uma descoberta pessoal”, e para o escritor e crítico literário norte-americano Harold Bloom, “o livro é cómico, inteligente, evasivo, muito divertido de ler, frase após frase.” O mesmo autor afirmou que Machado de Assis era o melhor escritor negro de todos os tempos e posicionou-o entre os 100 maiores génios da literatura universal. 

Recentemente, o foco internacional voltou a virar-se para Machado de Assis e o seu Memórias Póstumas quando Courtney Novak, uma booktoker de 45 anos, que iniciou um desafio pessoal de ler um livro de cada país do mundo, o escolheu como a sua leitura em representação do Brasil. A leitora ficou tão surpreendida com este “tesouro escondido” que chegou a afirmar que seria, possivelmente, o seu novo livro preferido, destronando Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. O vídeo tem atualmente mais de 68 mil gostos e vários comentários de utilizadores brasileiros a partilhar o seu amor mútuo pela obra e pelo autor. No final, Courtney expressa ainda a sua tristeza por não ter lido este livro antes, e um desejo de que o mesmo se torne parte do cânone literário ocidental. 

Brás Cubas, que no seu prefácio ficcionado ao leitor se questiona se as suas memórias chegariam sequer a dez leitores, com certeza estará a sorrir além-túmulo. De resto, se os leitores apreciam ou não o livro, é-lhe indiferente. Como escreve no final deste prólogo delicioso: “A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.

 

Veja abaixo o vídeo em que a booktoker partilha a sua experiência de leitura deste clássico.



 

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