6 livros essenciais de Tolstói
Por: Bertrand Livreiros a 2018-11-20
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Faz hoje 108 anos que faleceu um dos escritores mais importantes do século XIX, Lev Tolstói, também conhecido como Léon Tolstói ou Lev Nikoláievich Tolstói, foi, a par de Fiódor Dostoievski, um dos grandes nomes da literatura russa, cuja obra continua a ser tão, ou mais, relevante hoje como há 100 anos. Associado à corrente realista, tentou reflectir nos seus livros a sociedade em que vivia. Nos últimos anos da sua vida, tendo-se tornado profundamente religioso, renunciou ao seu estilo de vida aristocrático e deixou a sua casa e os seus bens, em pleno inverno de 1910, acabando por morrer tragicamente, de pneumonia, na estação de comboio de Astapovo. Destacamos 6 livros essenciais da sua obra.
1. Guerra e Paz
Talvez o livro mais aclamado de Tólstoi, Guerra e Paz é um verdadeiro monumento da literatura universal. Tolstói descreve as guerras movidas por Napoleão contra as principais monarquias da Europa, dissecando as origens e as consequências dos conflitos e, principalmente, expondo as pessoas e as suas vulnerabilidades com uma aguda perceção psicológica. Tolstói cria um retrato realista e incisivo da sociedade russa de inícios do século XIX, denunciando o preconceito e a hipocrisia da nobreza, ao lado da miséria dos soldados e servos. Este romance presta-se ainda a expor as ideias do autor sobre o sentido da vida e a desenvolver as suas reflexões filosóficas em favor de uma sociedade mais justa e fraterna.
Anna Karénina é um retrato ímpar, na sua riqueza e densidade, da sociedade russa de finais do século XIX, que abrange diferentes estratos da população, atividades sociais, tendências ideológicas, polémicas económicas, sociais e políticas, e que encerra uma crítica acutilante à nova aristocracia russa da época. Os dramas familiares, com os seus problemas morais, a sua busca de um ideal para a vida em matrimónio, surgem em franca ligação com o panorama geral da vida, o sistema de valores, os hábitos, os conceitos éticos e religiosos. Mas é também uma das maiores histórias de amor da literatura universal, e uma das mais trágicas, protagonizada por Anna Karénina, a bela mulher de um aristocrata muito rico e o Conde Vrônsky, um galante oficial do exército. Com Anna Karénina, Lev Tolstói elevou à perfeição o romance de realismo social e criou uma das heroínas mais amadas da literatura de todos os tempos.
Publicado pela primeira vez em 1886, A Morte de Ivan Ilitch é por muitos considerada uma obra incontornável sobre o tema da morte e o sentido da vida. Neste romance, o célebre autor Lev Tolstói conta-nos a história de Ivan Ilitch, personagem que atormentada pela morte próxima se questiona e reflecte sobre o seu percurso de vida. No mesmo volume se publica O Diabo, texto célebre, de carácter autobiográfico e apenas publicado postumamente, que aborda temas como a responsabilidade moral e o relacionamento, através da vida de Evgueni Irténev, que após a morte de seu pai assume os negócios de família. «Ivan Ilitch já não deixava o divã. Não queria ficar na cama.
E quase todo o tempo, com o rosto voltado para a parede, sofria solitário os mesmos insolúveis tormentos, martirizava-se com o mesmo insolúvel problema: “O que é isto? Será realmente a morte?” E a voz interior respondia-lhe: “Sim, é a morte”. “Mas para quê tanto sofrimento?” E a voz tornava a responder: “Para nada. Além disso não há nada”.
4. Infância, Adolescência e Juventude
A obra literária de Lev Tolstói tem sido descrita como «um enorme diário mantido ao longo de mais de cinquenta anos». Esse diário tem início com Infância, o primeiro livro que Tolstói publicou, quando tinha apenas vinte e três anos. É uma obra semi-autobiográfica que relata a infância de Nikolai Irteniev aos dez anos de idade, recriando pessoas, locais e acontecimentos com a vivacidade de uma criança, enriquecida pela irónica compreensão retrospectiva de um adulto. Pouco tempo depois, seguiram-se Adolescência e Juventude, e Tolstoi lançou-se numa carreira literária que lhe viria a dar a imortalidade.
Esta trilogia constitui uma introdução indispensável ao método literário de Tolstói e às suas principais preocupações — amor, moralidade e não-violência. A sua mestria como contador de histórias sobrevive não só à tradução, como à passagem do tempo, deleitando os leitores actuais de todos os tipos e idades.
Além de uma selecção de cartas e diários, reúnem-se aqui reflexões que Tolstói fez nos anos que antecederam a sua morte a 20 de Novembro de 1910 na estação de Astapovo.
É, em particular, evidente a preocupação do autor de Anna Karénina com as questões religiosas, a arte, o amor, a educação, a violência, a paz e a morte. A sua relação crítica com os poderes religiosos surge em Resposta ao édito do Sínodo sobre a excomunhão e às cartas que recebi a esse respeito, nos fragmentos de O que é a religião e em que consiste a sua essência? e em Apelo ao clero. O seu conflito com Shakespeare é expresso em Shakespeare e o drama. Outras questões essenciais são abordadas em O trabalho, a morte e a doença e A lei do amor e a lei da violência.
6. Ressurreição
Numa nova edição publicada pela Relógio D’Água, Ressurreição é o último dos grandes romances de Lev Tolstói. Conta-nos a história de um príncipe russo, Dmítri Nekhliúdov e de uma jovem empregada doméstica, Máslova, que ele seduziu no passado, com consequências dramáticas para esta, que acaba por cair na prostituição, por ser acusada de um crime que não cometeu e por ser enviada como prisioneira para a Sibéria. Tolstói constrói aqui uma narrativa de grande intensidade psicológica, dominada pela visão que tem da redenção e do perdão inerentes ao amor, que é ao mesmo tempo uma descrição panorâmica e incisiva da vida social da Rússia czarista de finais do século XIX e uma crítica sarcástica às injustiças sociais, ao sistema judicial e ao regime russo.