Uma frase e três poemas para recordar Herberto Helder

Por: Marta Ribeiro a 2023-11-23 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa

Herberto Helder

Herberto Helder

Herberto Helder nasceu em 1930 no Funchal, onde concluiu o 5.º ano. Em 1948 matriculou-se em Direito mas cedo abandonou esse curso para se inscrever em Filologia Românica, que frequentou durante três anos. Teve inúmeros trabalhos e colaborou em vários periódicos como A Briosa, Re-nhau-nhau, Búzio, Folhas de Poesia, Graal, Cadernos do Meio-dia, Pirâmide, Távola Redonda, Jornal de Letras e Artes. Em 1969 trabalhou como diretor literário da editorial Estampa. Viajou pela Bélgica, Holanda, Dinamarca e em 1971 partiu para África onde fez uma série de reportagens para a revista Notícias. Em 1994 foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa, que recusou. Faleceu em Cascais a 23 de março de 2015, tinha 84 anos.

VER +

10%

Os Passos em Volta
16,65€
10% CARTÃO LEITOR BERTRAND
PORTES GRÁTIS

10%

Apresentação do Rosto
19,99€
10% CARTÃO LEITOR BERTRAND
PORTES GRÁTIS

10%

Photomaton & Vox
16,65€
10% CARTÃO LEITOR BERTRAND
PORTES GRÁTIS

10%

Poemas Completos
48,00€
10% CARTÃO LEITOR BERTRAND
PORTES GRÁTIS

Últimos artigos publicados

“Dentro dos livros” de Pedro Mexia

Podemos aprender muito sobre uma pessoa a partir da sua biblioteca, mas ainda mais por aquilo que guardam no interior dos seus livros. A este refúgio último dos leitores, dedicou Pedro Mexia este poema. Poeta, crítico e cronista, nascido em Lisboa em 1972, é também um leitor ávido e detentor de uma vasta biblioteca — física e intelectual — que inspirou o ensaio Biblioteca.

“O Sonho”, de José Tolentino Mendonça

“Em vez de ter medo, tenham sonhos.” Assim se dirigiu José Tolentino Mendonça aos jovens portugueses que acolheram as Jornadas Mundiais da Juventude em 2023. Sacerdote e poeta, crê no sonho como força motora, capaz de mudar o mundo para melhor, mas também no poder transformador da poesia, essa que embora não salve o mundo, “salva o minuto” (Matilde Campilho). No seu novo livro de poemas, intitulado O Centro da Terra (Assírio & Alvim), volta a explorar o território dos sonhos, como ponte entre o informe irrecuperável da infância e o tempo transitório do presente. Entre eles, puxando para si todos os fios do poema, a figura terrivelmente bela da mãe, centro geodésico do inteligível, o umbigo do mundo. É dela que trata este “sonho”.

“Autobiografia”, de Filipa Leal

Vinte anos após a publicação do primeiro livro, Filipa Leal está de volta com uma nova coletânea de poemas que afirma ser “um exercício de maior reflexão”, “sobre a maturidade”, “sobre a vontade de não ter pressa” e “de dizer à própria vida: tem calma, não tragas mais surpresas, por favor, porque, às vezes, são más.” Adrenalina (Assírio & Alvim) é o título do novo livro da poetisa que em tempos escreveu “sou apenas o contrário de um analfabeto”, “só sei ler e escrever”,

Herberto Helder nasceu a 23 de novembro de 1930, no Funchal, onde concluiu o 5º ano. Faria hoje 93 anos e, por isso, escolhemos uma frase que disse numa entrevista e três poemas que escreveu para o recordar. Colaborou com periódicos como A Briosa, Re-nhau-nhau, Búzio, Folhas de Poesia, Graal, Cadernos do Meio-dia, Pirâmide, Távola Redonda, Jornal de Letras e Artes e trabalhou como diretor literário da editorial Estampa. Foi um dos mentores e impulsionadores da Poesia Experimental Portuguesa e publicou vários livros – entre eles Os Passos em Volta, Apresentação do Rosto e Photomaton & Vox. Em 1994, foi vencedor Prémio Pessoa, mas recusou o galardão. Faleceu a 23 de março de 2015 e deixou vasta obra, que deve continuar a ser lida e estudada pelas gerações vindouras.

 

O poema é um objecto carregado de poderes magníficos, terríficos: posto no sítio certo, no instante certo, segundo a regra certa, promove uma desordem e uma ordem que situam o mundo num ponto extremo: o mundo acaba e começa.

— Herberto Helder, numa entrevista ao Jornal Público (4/12/1990)

 

[cheirava mal, a morto, até me purificarem pelo fogo,]

cheirava mal, a morto, até me purificarem pelo fogo,
e alguém pegou nas cinzas e deitou-as na retrete e puxou o autoclismo,
requiescat in pace,
e eu não descanso em paz nas retretes terrestres,
a água puxaram-na talvez para inspirar o epitáfio,
como quem diz:
aqui vai mais um poeta antigo, já defunto, é certo, mas em vernáculo
e tudo, que Deus, ou o equívoco dos peixes, ou a ressaca,
o receba como ambrosia sutilíssima nas profundas dos esgotos,
merda perpétua,
e fique enfim liberto do peso e agrura do seu nome:
vita nuova para este rouxinol dos desvãos do mundo,
passarão a quem aos poucos foi falhando o sopro
até a noite desfazer o canto,
errático canto e errado no coração da garganta,
canto que o traspassava pela metade das músicas
— e ao toque no autoclismo ascendia a golfada de merda enquanto as turvas águas últimas
se misturavam com as águas primeiras

de Poemas Completos

 

***************

 

Aos Amigos

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
— Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão.

de Poemas Completos

 

***************

 

O poema

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
— a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
— Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.

— E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

de Poemas Completos

X
O QUE É O CHECKOUT EXPRESSO?


O ‘Checkout Expresso’ utiliza os seus dados habituais (morada e/ou forma de envio, meio de pagamento e dados de faturação) para que a sua compra seja muito mais rápida. Assim, não tem de os indicar de cada vez que fizer uma compra. Em qualquer altura, pode atualizar estes dados na sua ‘Área de Cliente’.

Para que lhe sobre mais tempo para as suas leituras.