“Poema do amor”, de António Gedeão

Por: Beatriz Sertório a 2025-01-23

António Gedeão

António Gedeão

Rómulo Vasco da Gama Carvalho nasceu em Lisboa em 1906 e faleceu na mesma cidade, em 1997.
Poeta, autor dramático, cientista e historiador, formado em Ciências Físico-Químicas pela Universidade do Porto. Com o seu nome próprio, Rómulo de Carvalho é autor de numerosos volumes de divulgação da cultura científica, publicados, nos anos 50 e 60, na colecção "Ciência para gente nova", da Atlântida nos anos 70, nos "Cadernos de iniciação científica", da Sá da Costa, a que seguiriam nas décadas posteriores vários manuais escolares. Ainda neste domínio, desenvolveu trabalhos de investigação sobre a história da ciência em Portugal. Como poeta, sob o pseudónimo de António Gedeão, é contemporâneo da geração de "Presença", mas só se revelou na segunda metade do século, sendo saudado, no momento da sua revelação, por David Mourão-Ferreira como uma voz "inteiramente nova" no panorama poético dos anos 50 (cf. Vinte Poetas Contemporâneos , 2.a ed., Lisboa, Ática, 1980, pp. 149-153). Para essa originalidade concorriam, entre outros traços, a incorporação das tradições do primeiro e segundo modernismos, a opção por um estilo rigorosamente cadenciado e ritmado, a expressão da inquietação e angústia colectivas do Homem do pós-guerra ou o recurso frequente a uma terminologia ou imagística provenientes do domínio científico. Jorge de Sena (cf. estudo introdutório à segunda edição de Poesias Completas , Lisboa, Portugália, 1968) e Fernando J. B. Martinho (cf. Tendências Dominantes da Poesia Portuguesa da Década de 50 , Lisboa, Colibri, 1996, pp. 428-433) assinalam na poesia de António Gedeão a recorrência de dispositivos retóricos que permitem considerar no âmbito de um neobarroquismo a poesia do autor de Movimento Perpétuo.
Vários dos seus poemas foram também divulgados através da música, como, por exemplo, Calçada de Carriche, Fala do Homem Nascido, Lágrima de Preta e Pedra Filosofal , tendo este último, composto e cantado por Manuel Freire, obtido um sucesso invulgar.

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Nos 100 anos do nascimento do poeta Daniel Filipe, regressa às livrarias a sua obra mais emblemática. A Invenção do amor, um poema originalmente publicado em 1969, foi lido e relido por várias gerações, declamado por Mário Viegas, filmado por António Campos, que o adaptou ao cinema, proibido pela PIDE e injustamente esquecido. Agora, reeditado pela Editorial Presença, assinala o regresso da coleção “Forma”, e dá a conhecer às novas gerações a história deste amor proibido e perseguido, que se tornou um símbolo de resistência – da poesia e do amor –  à ditadura.

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No Dia Mundial da Liberdade, um poema sobre o amor: o “amor de ir, e voltar, e tornar a ir, e ninguém ter nada com isso”, “amor de tudo quanto é livre, de tudo quanto mexe e esbraceja,/ que salta, que voa, que vibra e lateja”. Sobre esse amor que rima com liberdade, escreveu António Gedeão, o “príncipe perfeito” a quem Cristina Carvalho dedicou recentemente uma biografia  António Gedeão, Príncipe Perfeito (Relógio d’Água). 

Nascido em Lisboa a 24 de novembro de 1906, faleceu na mesma cidade, à qual dedicou um livro (Memória de Lisboa), a 19 de fevereiro de 1997. Encontre este e outros poemas deste “eminente professor, pedagogo, historiador, cientista, poeta” que foi, nas palavras da sua biógrafa, um verdadeiro “Homem do Renascimento”, na sua Obra completa e na antologia poética organizada pelo autor, Poemas Escolhidos.

 

“Poema do amor”, de António Gedeão

Este é o poema do amor.
 
Do amor tal qual se fala, do amor sem mestre.
Do amor.
Do amor.
Do amor.
 
Este é o poema do amor.
 
Do amor das fachadas dos prédios e dos recipientes do lixo.
Do amor das galinhas, dos gatos e dos cães, e de toda a espécie de bicho.
Do amor.
Do amor.
Do amor.
 
Este é o poema do amor.
 
Do amor das soleiras das portas
e das varandas que estão por cima dos números das portas,
com begónias e avencas plantadas em tachos e em terrinas.
Do amor das janelas sem cortinas
ou de cortinas sujas e tortas.
 
Este é o poema do amor.
 
Do amor das pedras brancas do passeio
com pedrinhas pretas a enfeitá-lo para os olhos se entreterem,
e as ervas teimosas a descerem de permeio
e os homens de cócoras a raparem-nas e elas por outro lado a crescerem.
Do amor das cadeiras cá fora em redor das mesas
com as chávenas de café em cima e o toldo de riscas encarnadas.
Do amor das lojas abertas, com muitos fregueses e freguesas
a entrarem e a saírem e as pessoas todas muito malcriadas.
 
Este é o poema do amor.
 
Do amor do sol e do luar,
do frio e do calor,
das árvores e do mar,
da brisa e da tormenta,
da chuva violenta,
da luz e da cor.
Do amor do ar que circula
e varre os caminhos
e faz remoinhos
e bate no rosto e fere e estimula.
Do amor de ser distraído e pisar as pessoas graves,
do amor sem amar nem lei nem compromisso,
do amor de olhar de lado como fazem as aves,
do amor de ir, e voltar, e tornar a ir, e ninguém ter nada com isso.
Do amor de tudo quanto é livre, de tudo quanto mexe e esbraceja,
que salta, que voa, que vibra e lateja.
Das fitas ao vento,
dos barcos pintados,
das frutas, dos cromos, das caixas de tinta, dos supermercados.
 
Este é o poema do amor.
 
O poema que o poeta propositadamente escreveu
só para falar de amor,
de amor,
de amor,
de amor,
para repetir muitas vezes amor,
amor,
amor,
amor.
Para que um dia, quando o Cérebro Electrónico
contar as palavras que o poeta escreveu,
tantos que,
tantos se,
tantos lhe,
tantos tu,
tantos ela,
tantos eu,
conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu
foi amor,
amor,
amor.
 
Este é o poema do amor.

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