"O amor bate na aorta", de Carlos Drummond de Andrade

Por: Bertrand Livreiros a 2020-10-29 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa

Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), poeta, cronista, ficcionista, tradutor, foi uma das figuras maiores da literatura brasileira do século XX, a par de Manuel Bandeira e João Guimarães Rosa. Com uma longa carreira literária, produziu extensa obra em quase todos os géneros disponíveis, deixando ainda vasto conjunto de inéditos. Em 1962, supondo ter chegado perto do fim da vida ativa, publicou a célebre Antologia poética, em que dividiu os poemas selecionados por categorias temáticas, conjugando a exigência da seleção com um princípio de organização que se tornou orientação para a leitura da diversidade da sua poesia. Homem tímido e delicado, trabalhou como funcionário público durante 35 anos, viveu a maior parte da vida no Rio de Janeiro, embora tenha nascido em Itabira, no estado de Minas Gerais. A ligação à terra natal, aos homens, à família e à província é um dos traços que singularizam a sua poesia, de par com a liberdade de composição, o humor e o sentimento do mundo, como tão bem notou Manuel Bandeira: «Ternura e ironia agem na sua poesia como um jogo automático de alavancas de estabilização: não há manobra falsa nesse admirável aparelho de lirismo.»

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Nascido em Itabira, no Brasil, em 1902, Carlos Drummond de Andrade foi contista, cronista e um dos principais poetas da segunda geração do Modernismo brasileiro. Como poeta, estreia-se em 1930 com Alguma Poesia, obra à qual se seguem Poesia até Agora e Fazendeiro do Ar (1955), onde se reúne, entre outros, A Rosa do Povo (1945), uma das obras mais expressivas do movimento modernista brasileiro. Como contista, é mais conhecido pelo livro Contos de Aprendiz (1951), escrito com o humor e ironia que são tão característicos da sua ficção.

O amor bate na aorta, dedicado a esse sentimento que, segundo Drummond de Andrade, é bicho instruído, é um dos seus poemas mais conhecidos e declamados. Recordamo-lo na semana em que comemoramos 118 anos do nascimento do poeta  (a 31 de outubro).


O amor bate na aorta, de Carlos Drummond de Andrade

Cantiga de amor sem eira
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os óculos dos homens,
o amor, seja como for,
é o amor.

Meu bem, não chores,
hoje tem filme do Carlito.

O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei.
Cardíaco e melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos já maduros.

Entre uvas meio verdes,
meu amor, não te atormentes.
Certos ácidos adoçam
a boca murcha dos velhos
e quando os dentes não mordem
e quando os braços não prendem
o amor faz uma cócega
o amor desenha uma curva
propõe uma geometria.

Amor é bicho instruido.

Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca,
às vezes sara amanhã.

Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo corpos, vejo almas
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se conversam
e que viajam sem mapa.
Vejo muitas outras coisas
que não ouso compreender…

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