Milan Kundera (1929 -2023): 10 curiosidades

Nome incontornável da literatura, Milan Kundera morreu hoje, aos 94 anos. Recordamos a sua vida, partilhando consigo dez curiosidades sobre o autor que escreveu que “são precisamente as perguntas para as quais não existem respostas que marcam os limites das possibilidades humanas e traçam as fronteiras da nossa existência”.

1 - Milan Kundera aprendeu piano desde cedo. O seu pai, Ludvík Kundera, um proeminente musicólogo e pianista, chegou a ser diretor da Academia de Música Janácek, em Brno, de 1948 a 1961. 

2 - Era ainda jovem quando começou a Segunda Guerra Mundial. Grande parte de sua ideologia política foi moldada pelas experiências da Segunda Guerra Mundial e da ocupação alemã. Na adolescência, ingressou no Partido Comunista da Checoslováquia, de onde acabaria por ser expulso, mais tarde.

3 - Estudou literatura e estética, na Faculdade de Artes da Universidade de Charles, em Praga, passando depois pela Faculdade de Cinema da Academia de Artes Performáticas.
 

“As metáforas são muito perigosas. Não se brinca com as metáforas. O amor pode nascer de uma simples metáfora.”
A Insustentável Leveza do Ser

4 - A Insustentável Leveza do Ser, a sua obra mais conhecida, é seguramente um dos romances míticos do século XX, uma daquelas obras raras que alteram o modo como toda uma geração encara o mundo que a rodeia.
Adaptado ao cinema por Philip Kaufmann, este é um livro onde se olha, com um olhar umas vezes melancólico e conformado, outras amargo e revoltado, para o destino de um país, para o destino de um continente, para o destino de uma civilização.
 

“Rir é viver profundamente.”
O Livro do Riso e do Esquecimento

5 – O Livro do Riso e do Esquecimento, é uma narrativa entrecortada de erotismo e imagens oníricas. Em sete partes aparentemente autónomas, o autor lança um olhar agudo e amargo sobre o quotidiano da República Checa após a invasão russa de 1968: as desilusões da juventude, a desorientação dos intelectuais, a prepotência dos líderes políticos, tudo converge para o esquecimento, imposto ou voluntário, individual ou coletivo.
Após a sua formatura, Milan Kundera foi nomeado como professor de literatura mundial na Faculdade de Cinema. Ele também começou a sua carreira de escritor na década de 1950 e publicou várias coleções de poesia, incluindo "O Último Maio" em 1955 e "Monólogos" em 1957.

6 - Em 1968, juntamente com outros escritores comunistas reformistas, como Pavel Kohout, envolveu-se na Primavera de Praga. No entanto, as atividades reformistas foram reprimidas pela invasão soviética da Checoslováquia em agosto de 1968. Após a invasão soviética, Kundera perdeu o seu cargo de professor, devido ao seu envolvimento na Primavera de Praga. Os seus livros foram proibidos nas bibliotecas do país e, em 1970, a sua publicação foi proibida.

7 - Em 1975, Kundera e a sua esposa exilaram-se em França, onde ocupou o cargo de professor na Universidade de Rennes. O governo checo revogou a sua cidadania em 1979 e, em 1981, tornou-se cidadão francês.

8 - Em 2019, o Governo da República Checa devolveu-lhe a cidadania, na tentativa de reparar a injustiça anteriormente cometida.

9 - Eterno candidato ao Prémio Nobel da Literatura (que nunca chegaria a vencer), é atualmente, provavelmente, o escritor checo mais conhecido no mundo depois de Franz Kafka.

10 – Em junho deste ano, a D. Quixote publicou Um Ocidente Sequestrado Ou a Tragédia da Europa Central, um livro que reúne dois textos escritos antes da Queda do Muro e do fim da Guerra Fria: o discurso de Kundera, já então uma destacada figura da literatura europeia, ao Congresso dos Escritores da Checoslováquia de 1967, em plena Primavera de Praga, que viria a ser esmagada pela invasão das tropas do Pacto de Varsóvia; e um longo artigo publicado na revista francesa Le Débat, em novembro de 1983, quando Kundera já tinha abandonado a sua pátria para viver em França.
 

“Escrevo pelo prazer de contradizer e pela felicidade de estar sozinho contra todos.”
Milan Kundera