Duas ou três ideias sobre…. “Determinado”

Por: Beatriz Sertório a 2024-09-24

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Comportamento
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Determinado
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Três escritoras que transformaram os seus diagnósticos de cancro da mama em arte

“Ainda não encontrei outra forma de sobreviver senão continuar a escrever uma linha, mais uma linha, mais uma linha ...”. Esta citação do autor japonês Yukio Mishima poderia descrever as experiências de vida destas três escritoras. Depois de confrontadas com o diagnóstico que ninguém quer receber, transformaram a sua dor, medo e incertezas em palavras e fizeram da escrita catarse. Neste Dia da Prevenção do Cancro da Mama, um dia dedicado à sensibilização para esta luta que afeta cerca de 9000 portugueses e portuguesas todos os anos, partilhamos as suas histórias e os livros que nasceram de um dos períodos mais difíceis das suas vidas.

Duas verdades e um mito da língua portuguesa — adivinha qual?

"Queria? Já não quer?". Com certeza já ouviu esta piada, repetida até à exaustão por funcionários de café de todo o país, mas será realmente um erro dizer “queria um café” em vez de “quero”, ou “quereria”? No novo livro de Marco Neves, que vai buscar o título a esta expressão — Queria? Já Não Quer? Mitos e disparates da língua portuguesa (Guerra & Paz) — são desmascarados alguns mitos e enganos sobre palavras e expressões quotidianas da línguas portuguesa, tais como esta.

Duas ou três ideias sobre “Eva” – uma teoria feminina da evolução humana

Quando pensamos na História da evolução humana, no Homo habilis que evoluiu para o Homo erectus, que, por sua vez, deu lugar ao Homo neanderthalensis, e, por fim, ao Homo sapiens, pensamos habitualmente em homens. Nos homens que inventaram armas e utensílios para facilitar o seu dia-a-dia, nos homens que descobriram o fogo e desenvolveram a agricultura. Mas onde ficam as mulheres nessa História? É essa a pergunta que a investigadora Cat Bohannon explora no livro Eva – Como o Corpo Feminino Determinou 200 Milhões de Anos de Evolução (Objectiva), que acaba de chegar às livrarias.

Quando Robert M. Sapolsky publicou Comportamento em 2018, sobre a forma como a biologia influencia o comportamento humano, acreditava que qualquer pessoa que o lesse chegaria à mesma conclusão natural: o livre-arbítrio não existe. Estava errado. A verdade é que a nossa sobrevivência enquanto espécie consciente da sua própria mortalidade depende, em grande parte, da nossa capacidade para nos iludirmos; o que inclui, na sua opinião, a crença no livre-arbítrio.

Insatisfeito com os testemunhos que recebeu de leitores após a publicação deste livro, o renomado professor de biologia, neurologia, ciências neurológicas e neurocirurgia dedicou então os cinco anos seguintes a escrever Determinado - Uma ciência da vida sem livre-arbítrio
 uma obra pioneira, bestseller instantâneo do NY Times, que chega agora às livrarias portuguesas. Fique a conhecê-la em duas ou três ideias.

Intenção não é sinónimo de livre-arbítrio

Um dos principais contra-argumentos usados para descredibilizar a teoria de Sapolsky de que não existe livre-arbítrio tem a ver com a intenção. Afinal, os humanos são seres racionais que tomam decisões de forma consciente e agem consoante as suas intenções. No entanto, em Determinado, o neurocientista propõe uma perspetiva diferente. Antes de pensar que escolheu X em vez de Y de forma livre e arbitrária, pense primeiro: O que o levou a tornar-se no tipo de pessoa que escolhe X em vez de Y? 

Segundo o autor, a nossa intenção pode ser influenciada por diversos fatores, desde a nossa própria genética a influências externas, tais como a cultura. Isto significa que embora escolhamos X em vez de Y, essa escolha está já predeterminada por algo totalmente fora do nosso controlo, impossibilitando assim a existência do livre-arbítrio.


Os veredictos dos juízes em tribunal têm tendência para ser mais brandos depois de almoço

Parece inusitado, mas existem estudos que o comprovam. Afinal, não precisamos de recuar até ao tempo dos nossos antepassados ou mesmo à nossa infância para observarmos a forma como a biologia molda os nossos comportamentos. Fatores biológicos imediatos, aquilo a que chamaríamos de meras sensações, podem ser igualmente determinantes. Um exemplo notório disso mesmo é o estudo que ficou conhecido como "o efeito do juiz esfomeado", que demonstrou a forma como a fome de um juiz pode impactar a suas decisões judiciais. Segundo este estudo, quantas mais horas tiverem passado desde a sua última refeição, menos indulgente ele tende a ser nas suas sentenças, demonstrado assim como até pequenas variações biológicas, como os níveis de glicose no sangue, podem afetar a nossa tomada de decisões.


A inexistência de livre-arbítrio pode ser algo positivo

Embora para muitas pessoas a ideia da ausência de livre-arbítrio possa parecer alarmante e até algo deprimente, Sapolsky contra-argumenta que, historicamente, a compreensão progressiva da forma como a biologia influencia inúmeros aspetos da nossa vida tem sido uma coisa positiva. Por exemplo, sabemos hoje que a epilepsia não é um sinal de possessão demoníaca, que o autismo não é causado por mães negligentes, ou que a dislexia não é mera preguiça ou falta de motivação. Ao descobrirmos que estas condições têm fundamentos biológicos e, por isso fora do controlo de quem as porta, o mundo não acabou; pelo contrário, tornou-se mais humano e compreensivo. E o mesmo pode acontecer quando reconhecermos que o livre arbítrio não passa de uma ilusão construída pelo Homem, num mundo em que pouco está ao nosso alcance controlar.

 

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