Amigas inseparáveis

Por: Rita Caetano a 2024-12-06

Mayumi Inaba

Mayumi Inaba

Mayumi Inaba (1950-2014) foi uma escritora, editora e poeta japonesa. A sua estreia literária deu-se em 1973, com a publicação do conto «A Dor de uma Sombra Azul», a que se seguiram vários romances e antologias. Em 2008, foi galardoada com o Prémio Literário Yasunari Kawabata pelo conto «Miru» (nome de uma alga comestível com origem no Japão) e, posteriormente, com «Rumo à Península», a sequela de «Miru», venceu o igualmente prestigiante Prémio Literário Junichiro Tanizaki. Conhecida no Japão pelo seu amor pelos gatos, o seu livro mais célebre é Vinte Anos com a Minha Gata, um romance na fronteira da memória, no qual partilha as suas experiências com a sua gata – agora disponível em edição portuguesa.

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Vinte Anos com a Minha Gata
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Ninguém conhece o teu nome real. 
A tua voz caiu do céu no crepúsculo 
como uma estrela, como um meteorito, 
como raio de luz a bater à porta. 
Ao longe, ouvia música. 
Creio que era Yesterday. 

Quem cantava era o teu passado 
trauteando ao longe para se despedir 
do presente, 

Ou assim queria eu acreditar. 
És uma vida nova, como um ovo 
acabado de pôr. 

Podia ter-te chamado Amanhã. 
Amanhecer também te teria agradado. 
De onde virá o teu nome? 
E tu só respondes: Mi. 


In
Vinte Anos com a Minha Gata


Um acaso, e o sopro do vento, numa noite de verão, fez com que Mayumi Inaba encontrasse Mi, uma pequena gata recém-nascida abandonada. Um encontro inesperado que as juntou até a morte as separar, vinte anos mais tarde. O livro é o relato dessas duas décadas e faz-nos não só mergulhar na vida indissociável de ambas, mas também nos locais descritos, de forma muito realista. 

Este é o livro certo para quem gosta de gatos, mas avisamos já que, se for esse o seu caso, é melhor ter lenços consigo, porque algumas lágrimas teimarão em cair. Vinte Anos com a Minha Gata conta-nos a ligação especial da escritora japonesa Mayumi Inaba com a sua gata, Mi, encontrada, por acaso, no gradeamento de uma escola secundária da zona de Fuchu, nas margens do rio Tama, em Tóquio. A partir desse dia, no final do verão de 1977, só a morte do animal, vinte anos depois, as conseguiu afastar. Juntas mudaram de casa três vezes; enfrentaram o divórcio da dona e as doenças e a velhice da Mi; viveram a mudança profissional de editora para escritora de Mayumi Inaba, que lhe custou dias e noites de trabalho intenso; experienciaram bons e maus momentos e nada abalou uma relação que mudou a vida da autora, como a própria vai mostrando ao longo do livro: “(...) Se fosse um ser humano, ter-se-ia queixado ou discutido comigo, mas ela não dizia nada e eu também não. Comunicávamos por instintos; como não tínhamos uma língua comum, a nossa relação não se deteriorou. (...) Penso que a nossa relação se tornou mais forte depois de o meu marido se ter mudado para Osaka. A nossa amizade tornou-se mais forte e mais sólida, pesar de não conversarmos. Dormíamos na mesma cama, recarregávamos as nossas baterias juntas e os nossos olhares cruzavam-se quando acordávamos”, escreve. 

“Parecia uma bolinha de pelo”, descreve Mayumi Inaba, logo no início do livro, quando relata o encontro entre ambas, proporcionado pelo vento que soprava do rio e que trouxe o miar de Mi até à autora. Um encontro inesquecível, que a autora recordava com nitidez passados 20 anos. O som da brisa é também a primeira menção ao estado do tempo que aparece no livro, algo que se irá repetindo ao longo da história. São referências como essa que nos transmitem o passar dos anos através da mudança de estações do ano, pintando as páginas das cores que as caracterizam, numa espécie de poesia em prosa. Mas a poetisa não se fica por aí. A autora também fecha vários capítulos com um poema dedicado à sua amiga gata, como o que pode ler nestas páginas. 

As suas descrições detalhadas sobre o bosque atrás da segunda casa que partilhou com Mi, bem como os relatos dos próprios lares onde viveram, da casa de férias da família e da paisagem campestre em que está inserida, e até da cidade, transportam-nos para o Japão sem grande esforço. Parece tudo tão real, que até os cheiros descritos, nem sempre os mais agradáveis, parecem chegar até nós enquanto lemos o livro. É o poder da descrição, sem dúvida. 

Mayumi Inaba relata coisas tão simples do quotidiano, como a dificuldade de arrendar uma casa tendo uma gata, o que a levou a comprar uma após o divórcio, algo que nunca tinha pensado. De uma casa com acesso a um bosque, em Kokobun-ji, mudam para um quinto andar no centro da cidade, em Shinagawa, perto do rio Meguro. “Da minha casa no quinto andar, não conseguia ver o mar, mas apreciava o brilho das luzes dos edifícios. Nos dias de chuva, a vista era maravilhosa. Subia muitas vezes a escada até ao último andar para ter uma vista de um lugar mais alto. De lá, via-se a Torre de Tóquio e as luzes de néon dos bares dos hotéis. Era uma vista muito diferente da que tinha do meu apartamento”, diz no livro. A grande tristeza dessa mudança foi Mi não ter acesso ao exterior, mas a gatinha habitou-se à vida naquele apartamento. Os passeios passaram a ser no patamar do prédio e, nas noites de verão, estendiam-se ao parque de estacionamento. 

Se houve algo que nunca mudou ao longo desses 20 anos, foi a dedicação de Mayumi Inaba a Mi, e a forma como cuidou dela quando ficou doente é o expoente máximo desse cuidado. Vinte Anos com a Minha Gata, publicado originalmente no País do Sol Nascente em 1999, chegou finalmente em outubro a Portugal, e é um livro sobre o amor e companheirismo, mas também sobre perda e solidão, que não vai deixar os amantes de felinos indiferentes, que, decerto, irão rever-se em algumas situações. 

 

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