Filipe e Nina Guerra | "O tradutor confronta-se e encontra-se com duas línguas diferentes"

Por: Bertrand Livreiros a 2023-02-23

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Guerra e Paz – Volume I
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Anna Karénina
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Demónios
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A Comunidade Bertrand une livrólicos e bloggers, de diversos quadrantes, com quem partilhamos a nossa paixão pelos livros e desenvolvemos diversas iniciativas, tendo em vista a promoção da leitura. Nesta edição, adoçámos as nossas leituras com Nê e Mafi, as criadoras de Algodão Doce para o Cérebro, unidas pelo seu gosto por romances, apesar das discordâncias de opiniões. 

Entrevista | Lídia Jorge

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Nas últimas três décadas, o norte-americano naturalizado português, Richard Zimler, tem sido um dos autores mais prolíficos no panorama literário nacional. Entre romances, livros de contos e livros infantis, o autor de 66 anos é reconhecido pelo seu trabalho de investigação com que constrói cada uma das suas obras. Acaba de publicar o seu 14º romance, intitulado A Aldeia das Almas Desaparecidas, onde cruza ficção e realidade histórica para abordar o passado judaico e as marcas da Inquisição em Portugal. 

Em 1996 Filipe e Nina Guerra traduziram o seu primeiro título em dupla: Guarda Minha Fala para Sempre, uma coletânea da poesia de Óssip Mandelstam. Desde aí, nunca pararam, trazendo a literatura russa para a língua portuguesa, traduzindo, entre outros, Dostoiévski e Tchékhov. Com o seu trabalho, a dupla de tradutores já recebeu alguns prémios, como o Grande Prémio de Tradução Literária da Associação Portuguesa de Tradutores/Pen Clube.


Para assinalar o bicentenário do nascimento de Fiódor Dostoiévski, em 2022, a Editorial Presença relançou alguns títulos da coleção «Obras de Fiódor Dostoiévski», com uma nova imagem. Esta coleção, iniciada em 2001, contou com as vossas traduções diretamente a partir do russo. Qual a vantagem de ser uma tradução a partir do texto original russo?

A vantagem é óbvia. O tradutor confronta-se e, de preferência, na medida do possível, «encontra-se» com duas línguas diferentes, o russo e o português, e cada uma destas línguas é o principal representante de dois mundos diferentes. Mas o texto traduzido não foi pensado em português, em francês, em inglês ou espanhol, mas em russo; e, como não existe nenhuma tradução absoluta, mas uma interpretação, uma tentativa de passar de um mundo ao outro, o tradutor deve partir da língua em que o texto foi pensado e materializado por escrito. 

Se partir de uma terceira língua, intermediária, não está a tentar passar do mundo russo, com todas as suas idiossincrasias e valores materiais e espirituais, para o mundo português, mas para um mundo alheio, francês, inglês ou espanhol, que não é o mundo russo e virá a ser um mundo português contaminado, adulterado, em segunda mão. Isto em termos teóricos. 

Em termos práticos, o ideal seria uma tradução prévia feita por um falante do russo, que compreendesse bem o pensamento contido na língua que tenta transformar para o português. Um falante do português tentaria depois respeitar o mais possível o rascunho apresentado pelo tradutor russo. Acresce ainda que toda a tradução exige muito estudo e investigação, não só das línguas, mas da história e do ambiente sociológico e psicológico do mundo russo. 

Um bom tradutor do russo francês, inglês ou espanhol faz evidentemente esse trabalho prévio, mas para o dar a conhecer a leitores franceses, ingleses ou espanhóis. Porque haveríamos de usar de oportunismo e aproveitar esse trabalho, por vezes desadequado ao mundo português? Outro ponto a ter em conta nas traduções é a escolha da fonte, que deve ser fidedigna. A título de exemplo
 para quem traduz Guerra e Paz de Tolstói do francês  li que um editor russo publicou um Guerra e Paz soft, que publicitou do seguinte modo: 1) versão duas vezes mais curta e cinco vezes mais interessante; 2) foram eliminadas quase todas as digressões históricas e filosóficas; 3) dez vezes mais fácil de ler; 4) muito mais paz do que guerra; 5) O príncipe Andrei e Pétia Rostov não morrem. Ou seja: final feliz. Pois bem, essa obra aplainada foi publicada recentemente em França pelas Éditions du Seuil, tradução de Bernard Kreise.


Em outubro de 2022, a Editorial Presença deu início ao relançamento da coleção «Obras de Lev Tolstói», publicando Guerra e Paz, uma das grandes obras da literatura universal, em dois volumes. Seguiu-se Anna Karénina e Ressurreição, no início deste ano. Quais foram os títulos de Tolstói e Dostoiévski mais desafiantes para traduzir e porquê?

Em geral, Tolstói é mais acessível a uma tradução do que Doistoiévski. Mas Guerra e Paz e Anna Karénina foram um desafio enorme, principalmente por causa do estudo prévio que exigiram. Cada livro de Dostoiévski foi um desafio, mas destaco Demónios.


Qual o vosso método de trabalho, enquanto dupla de tradução?

A Nina é a tradutora principal e faz uma versão prévia o mais próxima possível do russo; faz também o trabalho de investigação, através de fontes russas, um trabalho em que também colaboro. O rascunho passa para as minhas mãos, Filipe, que lhe dá a forma portuguesa, mas não definitiva. A minha versão volta para a Nina que, por sua vez, a emenda ou altera. Uma última leitura é feita em conjunto, sempre com o texto russo presente, até à tradução definitiva.


Foram vencedores do Grande Prémio de Tradução Literária da Associação Portuguesa de Tradutores/PEN Clube. O que significou a atribuição deste galardão?

Foi um estímulo para nós e, sobretudo, para dar mais visibilidade aos clássicos russos.

 

Porque é importante ler estes dois autores russos no século XXI?

Dostoiévski e Tolstói são os principais herdeiros de uma forma de escrever inédita, inovadora, baseada no realismo, iniciada por Púchkin e Gógol. Esta época literária, conhecida por «Século de Ouro», teve grande influência, não só literária, em toda a Rússia, dando origem ao fabuloso «Século de Prata», mas também em toda a Europa e no mundo. Significa que estes dois clássicos russos influenciaram a literatura e também as mentalidades literárias de toda a narrativa (sobretudo do romance) mundial do século XX e da sua continuação no século XXI. Os livros destes dois autores, como obras artísticas, continuam atuais: são a fonte, a nascente ainda viva do que se escreve nos dias de hoje.

 

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