“Orbital”, tudo sobre o novo vencedor do Booker Prize
Por: Beatriz Sertório a 2024-11-20
Últimos artigos publicados
O vencedor da edição de 2024 do mais importante galardão britânico da literatura, e sucessor de Canção do Profeta, de Paul Lynch, foi anunciado no passado dia 12 de novembro. Fique a saber tudo sobre Orbital, de Samantha Harvey, uma meditação sobre a vida na Terra a partir do espaço.
Quem é Samantha Harvey?
Num ano especialmente dominado pelas mulheres — os finalistas da edição de 2024 do Booker Prize incluíam o maior número de escritores do sexo feminino desde que o prémio foi lançado há 55 anos —, Samantha Harvey tornou-se a 21ª escritora a vencer o galardão. Nascida em Kent, na Inglaterra, em 1975, é formada em Filosofia, autora de cinco romances, escultora, e professora no curso de Mestrado em Escrita Criativa, na Bath Spa University. Na década de 2000, trabalhou no Museu de Astronomia Herschel, em Bath, local onde foi descoberto o planeta Úrano, e onde despertou o seu interesse por aquele que viria a ser o tema do seu mais recente romance.
Com The Wilderness, um romance sobre um arquiteto idoso que sofre de Alzheimer, estreou-se na ficção em 2009 e conquistou também os seus primeiros reconhecimentos literários, tendo sido selecionado para a longlist do Booker Prize, e vencido o Betty Trask Prize. Mas aventurou-se também na não-ficção em 2020 com The Shapeless Unease: A Year of Not Sleeping, um testemunho pessoal sobre a sua experiência com insónia crónica. Orbital, publicado em 2023, é o seu quinto romance, e o mais recente desta autora promissora cuja escrita tem vindo a ser comparada à de Virginia Woolf.
“Orbital” — Uma “pastoral espacial”
Quando Samantha Harvey se propôs a escrever Orbital, o seu objetivo era criar uma espécie de “pastoral espacial”, observando, com o olhar atento de um escritor naturalista, as reflexões, conversas, medos e sonhos de seis astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional. A partir do silêncio do cosmos, eles observam o planeta azul, dando-lhe dezasseis voltas, sobrevoando continentes, atravessando estações e contemplando os glaciares, desertos, montanhas e oceanos. Mas, apesar de estarem distantes da Terra, não conseguem escapar à sua força de atração. Quando recebem a notícia da morte de uma mãe, o desejo de voltar para casa começa a tomar conta deles. A fragilidade da vida humana preenche as suas conversas, os seus medos, os seus sonhos. Tão longe da Terra, nunca se sentiram tão parte, ou protetores, dela. Estão lá para fazer um trabalho vital, mas lentamente começam a perguntar-se: o que é a vida sem a Terra? O que é a Terra sem a humanidade? Com apenas 136 páginas, é o segundo livro vencedor mais curto da história do Booker Prize.
O que o júri disse
Orbital foi escolhido entre um conjunto de 156 obras publicadas entre outubro de 2023 e setembro de 2024 por um painel de jurados que incluía o artista inglês Edmund de Waal, a novelista jamaicana Sara Collins, a editora de literatura de ficção do The Guardian, Justine Jordan, a escritora chinesa Yiyun Li, e o músico e o compositor britânico Nitin Sawhney. Edmund de Waal, presidente do júri, declarou: “Num ano inesquecível para a ficção, um livro sobre um mundo ferido. Por vezes, deparamo-nos com um livro e não conseguimos perceber como é que este acontecimento milagroso aconteceu. Como membros do júri, estávamos determinados a encontrar um livro que nos comovesse, um livro que tivesse capacidade e ressonância, que fossemos obrigados a partilhar. Queríamos tudo. Orbital é o nosso livro.”
O prémio e o lançamento em Portugal
Tal como nas edições anteriores, o prémio do Booker Prize inclui o troféu Iris, assim designado como homenagem à escritora irlandesa Iris Murdoch, e uma gratificação de 50 mil libras esterlinas, o que equivale a cerca de 60 mil euros. Embora Orbital ainda só esteja disponível na língua original, fontes do grupo Infinito Particular confirmaram que estão a trabalhar edição portuguesa deste livro, com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2025.