A efemeridade de tudo

Por: Marisa Sousa a 2022-07-14 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa

Leonardo Padura

Leonardo Padura

Leonardo Padura nasceu em Havana em 1955. Licenciado em Filologia, trabalhou como guionista, jornalista e crítico, tornando-se sobretudo conhecido pela série de romances policiais protagonizados pelo detetive Mario Conde, traduzidos para inúmeras línguas e vencedores de prestigiosos prémios literários, como o Prémio Café Gijón 1995, o Prémio Hammett em 1997, 1998 e 2005, o Prémio do Livro Insular 2000, em França, ou o Brigada 21 para o melhor romance do ano, além de vários prémios da crítica em Cuba e do Prémio Nacional de Romance em 1993. Em 2012, recebeu, também em Cuba, o Prémio Nacional de Literatura pelo conjunto da sua obra. E, em 2015, foi galardoado com o Prémio Princesa das Astúrias das Letras.

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Na rádio passava “Dust in the Wind”, gravada pelo grupo Kansas em 1977 e, após sugestão de um amigo, Leonardo Padura soube que tinha acabado de encontrar o título para o seu novo romance: 627 páginas que nos recordam da efemeridade de tudo isto. Com ele, aterramos na quente complexidade de Cuba e, percorrendo uma linha temporal de 1990 até aos dias de hoje, somos apresentados ao Clã, um grupo de amigos que, em tempos, acreditaram estar unidos para sempre.



A ilha, sempre a ilha, a traçar os limites das vidas: dos que permanecem, dos que partem, dos que desejam partir, dos que foram e querem voltar, dos que se perdem entretanto. O exílio, tema recorrente na obra de Padura, uma quase obsessão, visto, de acordo com as suas próprias palavras, sob uma perspetiva “abrangente e visceral”. Pelo meio, a sensualidade, a música, os cheiros, a gastronomia, as paixões, a temperar uma inevitável reflexão sobre a vida e sobre a amizade.

 

“Sou cubano dos quatro costados, desde os meus tetravós, pelo menos, e este é o meu país e a minha cultura. E eu preciso desta realidade para escrever. Se não fosse escritor, talvez tivesse emigrado. Mas sou escritor, um escritor cubano, um escritor cubano que precisa de Cuba para escrever.”

 in declarações ao Página 12

 

O desmembrar do Clã é, afinal, a história de tantos que se viram fragmentados, com as vidas carimbadas por outras geografias: Estados Unidos, Porto Rico, Argentina, Espanha e França. Mas “há sempre alguém que resiste” — na vida e no romance. Clara, a que fica, é pela sua permanência, a personagem em que Padura mais se revê. Além de Clara, outras duas personagens principais são femininas, ao contrário do que costuma acontecer nos seus romances. “Tenho de ter muito cuidado quando estou a criar personagens femininas, porque as mulheres são um mistério”, confessou o autor numa entrevista.

Apesar de ter procurado evitar leituras políticas redutoras, para que estas não se sobrepusessem aos dramas sociais das suas personagens, a crítica relativamente à situação económica e social de Cuba é, para o autor, inevitável, dentro e fora da história. Este é, definitivamente, um romance em que vale a pena parar para respirar. Inevitavelmente, vem-nos à memória alguns versos dos OK Go em “This Too Shall Pass”: “When the morning comes / Let it go, this too shall pass.”

 

“Esta é a história da minha geração e a história contemporânea de Cuba. (…) possivelmente é o meu livro mais polémico.”

 in Rádio Renascença

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