"O importante é que os leitores criem uma ligação e percebam que não têm de ser todos iguais."
Por: Inês Rebelo a 2020-03-05 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
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O Jossauro e a Sherlock são os protagonistas do Mistério no Museu dos Dinos, o primeiro livro de uma coleção de aventuras que promete divertir-te enquanto aprendes coisas novas. Conversamos com a Ana Valente, a Isabel Moiçó, as autoras, e com Paulo Silva, que partilharam connosco a sua experiência.
Há quanto tempo se conhecem e como se conheceram?
Ana Valente (AV): Conhecemo-nos na redação da TVI, há 12 anos. A Isabel já lá trabalhava como jornalista e eu cheguei para realizar o meu estágio em 2008. A minha primeira saída em reportagem aconteceu precisamente com a Isabel. Ficámos amigas desde logo.
Isabel Moiçó (IM): É uma amizade que se foi fortalecendo com o passar do tempo, até porque o dia-a-dia numa redação é muito agitado. A vida levou-nos por caminhos diferentes: já não trabalhamos juntas, mas falamos praticamente todos os dias ao telefone e partilhamos as vitórias e as derrotas uma da outra com intensidade.
Como chegaram à decisão de escrever juntas? Foi entusiasmante escrever um livro a quatro mãos?
IM: Eu fui a uma livraria comprar um livro para o meu filho mais novo, o Pedro. Quando cheguei à redação desabafei com a Ana o quanto era difícil encontrar histórias que o cativassem ou que ele ainda não tivesse lido. A Ana fez-me uma pergunta: "Porque não escreves tu uma história para o Pedro"? Ao que eu respondi: "Excelente ideia"! Se a escreveres comigo!
AV: A partir daí começou esta aventura. A Isabel escreveu o primeiro capítulo e enviou-o para mim. Eu escrevi o segundo. A história foi ganhando forma e ao fim de umas semanas estava escrita. Depois chegámos à conclusão de que seria interessante juntarmos umas ilustrações.
IM: Eu falei com o Paulo Silva, que conheço há muitos anos e que desenha maravilhosamente. Desafiei-o a criar as ilustrações para a história. E assim nasceu o Mistério no Museu dos Dinos.
AV: Quando recebemos das mãos do Paulo Silva a história já com as ilustrações, gostámos tanto que a quisemos partilhar com mais meninos. A Bertrand Editora gostou da ideia e desafiou-nos a escrever outras histórias com os mesmos protagonistas. O Mistério no Museu dos Dinos é o primeiro livro da Coleção Mistérios e Aventuras.
Porquê o tema dos dinossauros (para o primeiro livro)?
IM: Há um número significativo de crianças apaixonadas por dinossauros. É assim em Portugal, mas também no resto do mundo. E muitas dessas crianças sabem imenso sobre esse tema. Desde os nomes (na maior parte das vezes dificílimos de pronunciar!) à forma como viviam, do que se alimentavam e até mesmo quando se extinguiram.
AV: E isso é muito curioso. Desperta a imaginação dos mais novos para um mundo que provavelmente gostariam de conhecer.
IM: Em minha casa tenho uma dessas crianças. Um verdadeiro paleontólogo em miniatura. Quando surgiu a ideia de escrevermos uma história o tema só podia ser este.
Ana Valente, Isabel Moiçó e Paulo Silva no lançamento do livro Mistério no Museu dos Dinos, no Dino Parque da Lourinhã.
Fotografia: Sofia de Medeiros / Alvorada
“Queremos que os nossos leitores aprendam ao mesmo tempo que acompanham as aventuras do João e da Rita.” Ana Valente
A Isabel é licenciada em Antropologia. Baseou-se nesses conhecimentos para escrever a componente mais científica do livro ou tiveram de fazer pesquisa?
IM: Sou licenciada em Antropologia mas nunca exerci. Na verdade, sempre trabalhei como jornalista. Mas, sendo a Antropologia uma ciência da humanidade e da cultura, tem um campo de investigação extremamente vasto. E articula-se com outras áreas do saber, embora conserve os seus métodos para investigar o ser humano nas suas diversas formas culturais, de comportamento e de vida social.
AV: Neste livro fizemos tal como os antropólogos fazem: trabalho de campo. Visitámos o DinoParque, na Lourinhã. Tirámos apontamentos e levantámos algumas hipóteses para o enredo. Pedimos também a quem realmente faz dos dinossauros uma forma de vida que revisse algumas partes do livro.
IM: O Dr. Simão Mateus, paleontólogo e diretor científico do Parque dos Dinossauros da Lourinhã, teve a amabilidade de fazer essa revisão. Além disso, a leitura de alguns livros sobre dinossauros ajudou à pesquisa.
AV: E vai ser assim em todas as próximas histórias. Queremos que os nossos leitores aprendam ao mesmo tempo que acompanham as aventuras do João e da Rita. As histórias vão acompanhar a aprendizagem. Vão acrescentar-lhe valor.
O João é uma personagem que gosta mais de museus e de ler do que de futebol e de Educação Física. Há um objetivo intencional em realçar estes interesses da personagem?
AV: O primeiro objetivo é estimular o interesse dos mais novos pela leitura, quaisquer que sejam os interesses de cada um. O João prefere dedicar mais tempo a ler e a visitar museus. Mas, na próxima história, os nossos leitores vão perceber que o Jossauro também gosta de andar de bicicleta, por exemplo. Já a Sherlock é mais destemida, mais aventureira e desportista. Tem os sentidos apurados para a descoberta de mistérios e por isso corre, salta, entra pelas janelas e estimula o amigo nesse sentido.
IM: Depois, queremos chegar a todos os leitores. Queremos que eles se identifiquem agora desta forma e, depois, com as características e os interesses – do João, da Rita e das restantes personagens – que se vão revelar nas histórias seguintes. E é possível que um miúdo adore ler e visitar museus e seja um espetacular jogador de futebol ou de ténis. O importante é que os leitores criem uma ligação e percebam que não têm de ser todos iguais.
Durante a infância, eram mais Sherlocks ou mais Jossauros?
IM: Eu era totalmente Sherlock. Era muito curiosa. Acho que ainda hoje sou! Adorava um bom mistério.
AV: Já eu, claramente, Jossauro. Sempre fui a estudiosa. Sempre a pesquisar. Mas também adoro resolver mistérios. Sempre fui muito curiosa, mas sem me aventurar demasiado (como a Sherlock).
O que liam, em criança?
IM: Eu faço parte da geração da Enid Blyton. Acho que li, várias vezes, todos os livros dos Cinco e dos Sete! Ainda hoje me lembro dos nomes das personagens dos Cinco: David, Ana, Júlio, Zé (que era uma maria-rapaz) e o cão, Tim. Mas, na realidade, lia tudo o que apanhava. O meu irmão mais velho adorava a Agatha Christie e foi pela mão dele que descobri o detetive Hercule Poirot.
AV: Eu sou de outra geração. Li muitos dos livros da Ana Maria Magalhães e da Isabel Alçada. A coleção Uma Aventura marcou claramente a minha infância e juventude. E lembro-me de ter estado com as autoras em várias sessões de leitura na escola, em Alcobaça, com o mesmo entusiasmo com que agora os nossos pequenos leitores nos recebem.
Que autores vos inspiram?
IM: Por um lado, claramente, estes autores que acompanharam o nosso crescimento. Pela avidez do mistério, pela importância de ressalvar a amizade e o companheirismo entre os amigos, pela necessidade de lhes dar espaço e de estimular a imaginação e o sentido crítico.
AV: Por outro, mais do que em autores, inspiramo-nos nos mais novos. Em quem queremos que nos leia. O objetivo é colocarmo-nos na cabeça deles: como falam, o que gostam de descobrir, como se relacionam, até onde gostam de ir e como. Os meus sobrinhos são a minha grande inspiração.
IM: E os meus filhos, a minha… Aliás, assim que leu a história, o meu Pedro perguntou-me de imediato: “Porque te inspiraste em mim?”.
Como se coordenaram com o ilustrador?
AV: Primeiro, após a definição do tema e da pesquisa, partilhamos com o Paulo um género de linhas orientadoras e de contexto. Ele fica a cozinhar a ideia enquanto escrevemos. Depois de terminado, partilhamos o texto com ele, para que o leia e comece a criar os desenhos.
IM: Ao longo do texto vamos deixando dicas. Sugestões. Fazemos também uma lista das personagens, em que as caracterizamos e descrevemos as ligações entre si. Terminado o texto, é tempo de o artista trabalhar. Damos-lhe espaço e tempo, mas sempre na ânsia de ver as nossas personagens a ganhar vida. É tão giro ver o enredo! É a primeira fase do trabalho do Paulo.
“Às tantas já não sabíamos quem tinha escrito o quê.” Isabel Moiçó
Querem partilhar connosco algum episódio curioso que tenha acontecido durante o processo de elaboração deste livro?
IM: O processo de escrita é dinâmico. Confiamos uma na outra. No final de cada capítulo deixamos notas com a ideia para o próximo. E este caminho é tão fluido que as ideias de uma e de outra se vão encadeando.
AV: Assim que recebemos a primeira correção da Bertrand, já vários meses depois de termos escrito a história, percebemos isso mesmo: o tipo de escrita é igual.
IM: Fizemos essa leitura juntas. E às tantas já não sabíamos quem tinha escrito o quê. É fantástico.
AV: “Espera lá”, dizia eu. “Mas isto é meu ou é teu?” E, na verdade, é das duas!
IM: Mas divertida foi também a visita ao DinoParque. Tirámos centenas de fotografias. Aos dinossauros, às placas, a tudo! Acabámos depois por alinhavar a história num almoço junto ao mar.
AV: E a visita não passava de uma pesquisa exploratória para escrever uma simples história para o Pedro. Mal nós sabíamos que aquela pesquisa era o ponto de partida para uma coleção. Estamos muito felizes.
Imagem: Bertrand Editora
"Quero ser ilustrador quando for grande. Por enquanto vou-me divertindo a fazer ilustrações." Paulo Silva
Como descreve a experiência de ter ilustrado esta história?
Paulo Silva (PS): Como não desenhava há muito tempo, pegar num lápis e em papel e voltar a desenhar à mão para entrar nesta aventura cheia de mistério, acompanhado pelo Jossauro e pela Sherlock, foi muito giro e extremamente gratificante.
Houve alguma parte que tenha sido particularmente divertida de ilustrar?
Várias, mas a mais divertida foi a sequência da ida do João e da Sherlock ao museu, à noite, para recolher provas do desaparecimento das caixas misteriosas.
Os traços característicos de cada personagem são definidos pelas autoras ou é um trabalho conjunto?
De certa forma é um trabalho em conjunto. As autoras enviam-me o texto e eu vou recolhendo toda as pistas espalhadas pelas páginas, pistas essas que me vão ajudar a imaginar e depois a desenhar cada personagem. Para as autoras é sempre uma surpresa conhecer o elenco quando lhes envio os desenhos.
Ilustrar um livro infantil é uma aventura que exige que o ilustrador se coloque na pele das crianças que irão ler o livro?
As crianças têm uma imaginação que lhes permite sonhar, acreditar que tudo é possível, ao contrário dos adultos, que se preocupam demasiado com o dia a dia, com o mundo real. Para ilustrar um livro infantil é fundamental entrar na aventura pelo olhar da criança.
É mais Sherlock ou mais Jossauro?
Mais Jossauro. Meio alheado do mundo que nos rodeia, sempre a sonhar acordado...
Quando era criança, queria ser ilustrador quando fosse grande?
Quero ser ilustrador quando for grande. Por enquanto vou-me divertindo a fazer ilustrações.