Dia de recordar Eugénio de Andrade
Por: Bertrand Livreiros a 2021-01-19 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
Últimos artigos publicados
Há 98 anos, nasceu Eugénio de Andrade, um dos mais importantes nomes da poesia portuguesa e vencedor do Prémio Camões em 2001. De nome verdadeiro, José Fontinhas, nasceu no Fundão em 1923, tendo morrido no Porto 82 anos depois.
Recordamo-lo hoje com alguns dos poemas da sua autoria que temos vindo a partilhar consigo, invocando a sua urgência em inventar alegria como bálsamo para os dias que correm.
Urgentemente
É urgente o amor
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
(in Até Amanhã, 1951)
Um pequeno sismo
Há um pequeno sismo em qualquer parte
ao dizeres o meu nome.
Elevas-me à altura da tua boca
lentamente
para não me desfolhares.
Tremo como se tivera
quinze anos e toda a terra
fosse leve.
Ó indizível primavera.
(in Os Sulcos da Sede, 2001)
O Sorriso
Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
(in O Outro Nome da Terra, 1988)