"Exercícios de ser criança", de Manoel de Barros

Por: Bertrand Livreiros a 2020-09-17 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa

Manoel de Barros

Manoel de Barros

Manoel Wenceslau Leite de Barros (Cuiabá, 19 de dezembro de 1916 — Campo Grande, 13 de novembro de 2014) foi advogado, fazendeiro e poeta. Escreveu o seu primeiro poema aos 19 anos, mas a sua revelação poética ocorreu aos 13 anos de idade quando ainda estudava no Colégio São José dos Irmãos Maristas, Rio de Janeiro.
Autor de várias obras pelas quais recebeu prémios, como o Prémio Orlando Dantas, em 1960, conferido pela Academia Brasileira de Letras ao livro Compêndio para Uso dos Pássaros.
Em 1969 recebeu o Prémio da Fundação Cultural do Distrito Federal pela obra Gramática Expositiva do Chão e, em 1997, o livro Sobre Nada recebeu um prémio de âmbito nacional.

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“Dentro dos livros” de Pedro Mexia

Podemos aprender muito sobre uma pessoa a partir da sua biblioteca, mas ainda mais por aquilo que guardam no interior dos seus livros. A este refúgio último dos leitores, dedicou Pedro Mexia este poema. Poeta, crítico e cronista, nascido em Lisboa em 1972, é também um leitor ávido e detentor de uma vasta biblioteca — física e intelectual — que inspirou o ensaio Biblioteca.

“O Sonho”, de José Tolentino Mendonça

“Em vez de ter medo, tenham sonhos.” Assim se dirigiu José Tolentino Mendonça aos jovens portugueses que acolheram as Jornadas Mundiais da Juventude em 2023. Sacerdote e poeta, crê no sonho como força motora, capaz de mudar o mundo para melhor, mas também no poder transformador da poesia, essa que embora não salve o mundo, “salva o minuto” (Matilde Campilho). No seu novo livro de poemas, intitulado O Centro da Terra (Assírio & Alvim), volta a explorar o território dos sonhos, como ponte entre o informe irrecuperável da infância e o tempo transitório do presente. Entre eles, puxando para si todos os fios do poema, a figura terrivelmente bela da mãe, centro geodésico do inteligível, o umbigo do mundo. É dela que trata este “sonho”.

“Autobiografia”, de Filipa Leal

Vinte anos após a publicação do primeiro livro, Filipa Leal está de volta com uma nova coletânea de poemas que afirma ser “um exercício de maior reflexão”, “sobre a maturidade”, “sobre a vontade de não ter pressa” e “de dizer à própria vida: tem calma, não tragas mais surpresas, por favor, porque, às vezes, são más.” Adrenalina (Assírio & Alvim) é o título do novo livro da poetisa que em tempos escreveu “sou apenas o contrário de um analfabeto”, “só sei ler e escrever”,

Quando escrevia, o poeta brasileiro Manoel de Barros pedia emprestado às crianças a sua liberdade para utilizar a linguagem de forma maleavél, sem se preocupar com obedecer às leis da lógica ou da gramática. Num dos poemas publicados no seu O Livro das Ignorãças, escreve: “O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos./ A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para cor, mas para som./ Então se a criança muda a função do verbo, ele delira.” A partir daquilo a que chamava de “criançamento” das palavras, Manoel, como as crianças, conseguia fazer um verbo “delirar ”, isto é, transformar o seu sentido.

Este seu Exercícios de ser criança é um de vários poemas que dedicou a esse território mágico que era para ele a infância, pois, como escreve o poeta, "com certeza, a liberdade e a poesia a gente aprende com as crianças."


Exercícios de ser criança, Manoel de Barros

No aeroporto o menino perguntou:
– E se o avião tropicar num passarinho?
O pai ficou torto e não respondeu.
O menino perguntou de novo:
– E se o avião tropicar num passarinho triste?
A mãe teve ternuras e pensou:
Será que os absurdos não são as maiores virtudes da poesia?
Será que os despropósitos não são mais carregados de poesia do que o bom senso?
Ao sair do sufoco o pai refletiu:
Com certeza, a liberdade e a poesia a gente aprende com as crianças.
E ficou sendo.

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