"Com que destreza crescem na pele", de Andreia C. Faria
Por: Bertrand Livreiros a 2020-07-22 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
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Sobre a obra de Andreia C. Faria, afirmou Válter Hugo Mãe que "está entre os mais urgentes, magníficos, da poesia contemporânea." Nascida no Porto em 1984, fez a sua estreia literária com o livro de poemas De haver relento, em 2008, ao qual se seguiu Flúor, em 2013. Cinco anos depois, em 2018, foi a recipiente do Prémio Autores para o Melhor Livro de Poesia, da Sociedade Portuguesa de Autores, pelo título Tão Bela Como Qualquer Rapaz.
Este poema, sem título, faz parte do livro Alegria para o fim do mundo que, recentemente, foi o vencedor do Prémio Literário Fundação Inês de Castro.
Com que destreza crescem na pele, de Andreia C. Faria
Com que destreza crescem na pele
as arestas, nódoas negras
como lagos em tardia superfície
Com que cadência a paisagem fere -
a altitude do sono
a dobra do lençol intacta
e na boca a fina lâmina do pó
desabitando-te
Com que saber a pele se quebra
com que constância
as linhas recuam como se amar
interrompesse
como se fosse indistinto desastre
ou criação
e avançasse em metonímia -
da água corrente a presença
da mordedura o animal
da vertigem a carne que floresce
para a morte