Neste dia... 20 de março
Por: Marisa Sousa a 2020-03-20
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Ocorre hoje o Equinócio da Primavera no hemisfério norte. Duas vezes por ano, o movimento da Terra faz com que o Sol se alinhe com o Equador. No dia do Equinócio (que significa “noites iguais”), a noite e o dia têm a mesma duração. Há quem defenda que este período nos deve recordar a importância de equilibrar, na nossa vida, a luz e a sombra.
Ovídio
A 20 de março de 43 a.C. nascia Públio Ovídio Nasão. Cedo entrou nos meios literários de Roma e se tornou próximo dos melhores poetas de então, iniciando um percurso pela poesia amorosa e erótica, que o levaria a compor as Heróides, a Arte de Amar, os Remédios Contra o Amor, e os Tratamentos para a Beleza da Mulher.
“Renunciar ao que se deseja é frequentemente uma virtude.” Ovídio
Em 8 a. C., Augusto expulsou-o de Roma e condenou-o ao exílio, em Tomos, nos confins do Império, no atual território da Roménia. Foi lá que foi compondo cartas que tinham como destinatários a esposa, os amigos e a família, que haviam ficado em Roma. Organizou-as em duas coletâneas: os Tristes, primeiro, - ou, talvez, numa tradução mais fiel, Cantos de Tristeza - e, mais tarde, as Cartas do Ponto. A qualidade estética destes poemas tem dividido os estudiosos; seja como for, porém, a verdade é que, com essas coletâneas, Ovídio inaugurou uma nova modalidade de poesia, a que poderíamos chamar "poética do exílio".
Friedrich Hölderlin
A 20 de março de 1770 nascia Johann Christian Friedrich Hölderlin, filósofo, poeta lírico e romancista alemão.
Conseguiu sintetizar, na sua obra poética, o espírito da Grécia antiga, os pontos de vista românticos sobre a natureza e uma forma não-ortodoxa de cristianismo, alinhando-se hoje entre os maiores poetas germânicos. É considerado, juntamente com Hegel e Schelling, um dos fundadores da corrente filosófica conhecida como idealismo alemão.
“A linguagem é o bem mais precioso e também o mais perigoso que foi dado ao homem.” Hölderlin
Uma das primeiras edições de Uncle Tom's Cabin.
A Cabana do Pai Tomás
A 20 de Março de 1852 era editado A Cabana do Pai Tomás, de Harriet Beecher Stowe, o livro que levou ao fim da escravatura americana.
Harriet queria publicar a sua obra e ganhar com ela o suficiente para comprar um vestido novo. Entre 1851 e 1852, foi publicado, sob a forma de folhetim, no jornal National Era, e acabaria por ser recusada pelos primeiros editores a quem a enviou, sob a forma de livro. Acabaria por vender 300 000 exemplares nos EUA; um milhão de exemplares na Grã-Bretanha e um milhão de exemplares nas diversas traduções. Isto apenas no primeiro ano.
Em 1861, nas vésperas da Guerra Civil Americana (1861-1865), a autora era a mais famosa escritora do mundo e o livro atingia uns fabulosos 4,5 milhões exemplares vendidos - um número tanto mais espantoso quanto muitos dos estados do Sul dos Estados Unidos o tinham proibido, quanto havia contra ele uma intensa campanha política e os cinco milhões de escravos que integravam os 32 milhões de americanos de então eram praticamente todos analfabetos. Havia um exemplar de A Cabana do Pai Tomás em cada família americana não militantemente esclavagista, o que o tornava o livro mais difundido depois da Bíblia, da qual era companheiro de estante frequente.
A seguir à Guerra Civil americana, da qual é apontado como uma das causas directas (a lenda reza que Abraham Lincoln, durante uma visita de Harriet Beecher Stowe à Casa Branca, em 1862, lhe terá chamado "a pequena senhora que fez esta grande guerra"), o livro foi caindo gradualmente no esquecimento e só voltaria ao primeiro plano após a Segunda Guerra Mundial, para conquistar um lugar cativo no panteão dos grandes romances americanos.
O livro que acordou as consciências de tantos homens e mulheres para a iniquidade da escravatura e que teve um papel tão relevante na libertação dos escravos nos Estados Unidos seria considerado, ironicamente, a partir dos anos 60 (por dirigentes do movimento pelos direitos cívicos e pela emancipação dos negros americanos), como uma obra racista e perpetuadora da submissão dos negros. A razão está antes de mais no seu protagonista, Pai Tomás ("Uncle Tom" é, nos EUA, o mais violento insulto que se pode lançar a um negro), que é não um líder revoltoso, um Spartacus, como quereria o movimento negro americano, mas um mártir, dócil e piedoso, que aceita todos os castigos como penitências e que perdoa a todos os seus inimigos. Tomás é um homem de extrema nobreza, sem uma réstia de servidão, com uma coragem física e uma abnegação suprema, que reconhece a ignomínia da escravatura e que não a aceita de forma alguma, mas que recusa a violência como forma de resistência e que é incapaz de mentir mesmo ao mais vil dos homens - não por medo, mas por respeito a si próprio.
Tomás é um santo, quando os negros americanos do século XX buscavam um herói. É evidente que esta passividade não podia merecer a aprovação política dos militantes, da mesma forma que os retratos de negros feitos por Harriet Beecher Stowe, com toda a sua benevolência e angelização, não podiam deixar de ser denunciados como paternalistas. Mas poucos livros se podem gabar de ter tido uma tal influência na vida de tantos milhões de pessoas. (via Jornal Público)
Ilse Losa
A 20 de março de 1913, nascia a escritora e tradutora portuguesa Ilse Losa. De origem judaica, nasceu na Alemanha, tendo acabado por ser forçada a sair do país. Depois de passar por Inglaterra, acabou por se refugiar em Portugal, onde casou – tendo adquirindo, posteriormente, a nacionalidade portuguesa.
A sua já vastíssima obra inclui romances, contos, crónicas, trabalhos pedagógicos e literatura para crianças. Traduziu do alemão alguns dos mais consagrados autores. Em 1984, recebeu o Grande Prémio Gulbenkian, pelo conjunto da sua obra para crianças. Morreu a 6 de janeiro de 2006.
“A minha mãe escondia os sentimentos; talvez soubesse amar, não sei, mas não sabia nem dizê-lo nem mostrá-lo. Uma noite, eu fingia dormir, entrou sem fazer ruído. Acendeu a luz da mesinha de cabeceira e contemplou-me uns momentos. Teria gostado de abrir os olhos, deitar-lhe os braços ao pescoço, mas o amor é dar e receber, isso adivinhava sem que ninguém mo tivesse ensinado.” Ilse Losa, O Mundo Em Que Vivi