Livros e cidadania
Por: Bertrand Livreiros a 2023-03-27
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“Parece impossível escrever sobre o protagonismo do mundo do livro no século XXI, sobre as livrarias independentes e as bibliotecas mais desafiantes ou inovadoras, sobre as constelações de leitores que, como eu, continuam a acreditar no papel sem pensar na Amazon como antagonista.” Ao longo dos últimos anos, o autor espanhol Jorge Carrión visitou bibliotecas (reais e imaginárias) e livrarias em todo o mundo, com o intuito de deixar firmado o valor do livro e da sua proximidade como pilares da nossa educação sentimental e intelectual. Depois de Livrarias, publicado pela Quetzal em 2017, regressa agora com um livro-manifesto a que chamou Contra a Amazon.
Nele defende a figura do livreiro e da livraria contra o mundo impessoal da livraria global e algorítmica, ao mesmo tempo que entrevista Alberto Manguel em Buenos Aires, evoca Jorge Luís Borges, caminha ao lado de Iain Sinclair em Londres, desvenda os segredos das bibliotecas imaginárias (a de Babel, a de Dom Quixote e a do Nautilus), mostra como as livrarias de Tóquio se reinventam, fala dos livros como instrumento de consolação diante da angústia da internet — e de como a pandemia passou pelas livrarias de Lisboa.
Numa poderosa reflexão sobre o mundo dos livros e a sua capacidade de nos transportar e de promover a criação de novos imaginários, defende que há mais antagonistas para além da Amazon e de outras grandes plataformas digitais. “Temos de continuar a ler e a viajar”, defende. Sem profetizar o futuro, Jorge Carrión oferece-nos formas de antídoto, a começar pela nossa postura coletiva em relação aos livros. Porque, acima de tudo, “precisamos das livrarias de cada dia para que possam continuar a gerar as cartografias de todas essas distâncias sem as quais não saberíamos encontrar o nosso lugar no mundo.”
Entre pequenos ensaios, entrevistas, mas também estórias sobre algumas das suas aventuras em livrarias e bibliotecas, espalhadas pelos mais diversos cantos do globo, a sua nova obra, que de acordo com o El País “reivindica as livrarias e os leitores que as frequentam e denuncia o avança da Amazon”, crítica ferozmente o mercado cada vez mais digitalizado e celebra as comunidades mais ou menos simbólicas que os livros ainda ajudam a criar. Com textos especialmente preparados para a edição portuguesa, Contra a Amazon estabelece dessa forma a leitura como uma atitude e um sinal da civilização — e a livraria como um lugar onde se encontram os seus pilares.