Haverá trabalho suficiente para todos no século XXI?
Por: Marisa Sousa a 2020-03-16
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Em 1941, o autor Stefan Zweig, um dos austríacos judeus forçados a fugir do seu país, escreveu a sua autobiografia, O Mundo de Ontem. Na sua infância, explica, todos consideravam que tudo — os edifícios, o governo, o seu modo de vida — era inabalável. Chamou-lhe a “Era de Ouro da Segurança”. Sentia, então, que esse mundo duraria para sempre.
Daniel Susskind — conceituado economista e investigador de Oxford — parte deste conceito para explicar que todos nós crescemos sob a premissa de que, se nos esforçássemos na escola, e no que quer que escolhêssemos fazer, teríamos um futuro com um emprego remunerado estável à nossa espera. Depois de uma vida de trabalho, seria certo esperarmos colher os frutos dos nossos esforços. Em Um Mundo sem Trabalho, explica que a nossa era de segurança está destinada a acabar e oferece-nos pistas sobre como podemos tirar o melhor partido da situação.
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Fotografia: Suki Dhanda / The Guardian
O que podemos esperar nos próximos 100 anos?
1. O progresso tecnológico tornarnos-á mais prósperos do que alguma vez fomos;
2. Haverá menos trabalho para os seres humanos;
3. Enfrentaremos problemas de desigualdade, que exigirão que saibamos partilhar a prosperidade económica com os demais;
4. No campo político, será necessário determinar quem controlará, e em que condições, as tecnologias responsáveis pela prosperidade;
5. Muitas pessoas, com a ameaça do desemprego tecnológico, sentirão desaparecer o sentido de propósito das suas vidas.
Susskind acredita que as máquinas não farão tudo no futuro, mas farão mais. E à medida que lenta, mas implacavelmente, irão acumulando tarefas, os seres humanos irão sendo obrigados a restringir-se a um número cada vez mais reduzido de atividades. Apesar dos difíceis desafios que temos pela frente, o autor mostra-se otimista quanto ao futuro e recorda que, nos últimos 300 mil anos, o Homem já ultrapassou enormes desafios. No século XXI, diz, teremos de construir uma nova era de segurança que não esteja alicerçada no trabalho remunerado.
"Quando o progresso cessar, em que estado esperamos que ele deixe a Humanidade?” 1
Num mundo com menos trabalho, teremos de revisitar os fins fundamentais mais uma vez. O problema não é simplesmente como viver, mas como viver bem. Seremos forçados a pensar, conclui Susskind, no que realmente significa viver uma vida com sentido. E se o progresso nos trouxer uma vida livre da obrigação de trabalhar para receber um ordenado ao fim do mês, permitindo mais qualidade de vida e verdadeira liberdade pessoal?
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1 Norri Kageki, An Uncanny Mind: Masahiro Mori on the Uncanny Valey and Beyond, IEEE Spectrum, 12 de junho de 2012.