As mães na literatura em seis obras imperdíveis
Por: Bertrand Livreiros a 2023-05-02
Últimos artigos publicados
Para muitas pessoas mãe é sinónimo de fundação. O mundo à nossa volta e a personalidade individual de cada um é também formada pelos laços maternais e o poder que estes podem ter nas nossas vidas. Nas suas qualidades e imperfeições, é também na literatura que encontramos algumas das mais marcantes e destemidas figuras matriarcais. Aqui recordamos algumas que fazem parte de obras imperdíveis do universo literário.
Úrsula, Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Márquez
Em Cem Anos de Solidão conta-se a trajetória de uma família através das suas diferentes gerações. Pontuada de personagens marcantes, há nesta obra imperdível da literatura latino-americana a figura de Úrsula Iguarán, matriarca da família Buendía e mulher de José Arcadio Buendía. A personagem vive mais de 130 anos, ao longo dos quais zela pelo bem da família e pelo lar. Trabalhadora e resiliente, Úrsula é uma das personagens inesquecíveis pelo seu carácter e presença constante nos bons e maus momentos.
Emma Bovary, Madame Bovary, de Gustave Flaubert
Mesmo atolada na mediocridade da vida quotidiana, entre um marido com poucas qualidades e uma solidão que a verga, Emma Bovary vai procurar no adultério a fuga de uma existência entediante. Quando o livro foi publicado, em 1857, tornou-se um escândalo porque a história, segundo os bons modos e costumes da época, era uma ofensa. Ainda assim, Emma Bovary tornou-se um símbolo de liberdade e de que a vida não é sinónimo de um conjunto de regras pré-concebidas. Nela reside uma figura maternal, mas também a personalidade de uma mulher resiliente em busca de si mesma, na procura pela sua felicidade.
Catelyn Stark, As Crónicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin
Para quem leu os livros ou viu a série televisiva, é fácil perceber o impacto que Catelyn Stark, matriarca da família, tem nesta saga de guerras de poder. Mulher forte e de honra intacta, é nela que reside o espírito mais vincado da família Stark e também o instinto protetor que usa para ultrapassar as maiores adversidades. Quando a guerra pelo trono dos Sete Reinos coloca a sua família em perigo, o seu instinto maternal leva-a, por vezes, a tomar decisões apressadas que nem sempre são as melhores. Contudo, o seu amor pelos filhos é inquestionável, e a sua força para garantir a segurança daqueles que ama, incansável.
Sra. Bennet, Orgulho e Preconceito, de Jane Austen
Ao contrário de muitas das mulheres desta lista, a Sra. Bennet é uma figura simples, dada ao dramatismo, mas que mantém uma preocupação genuína com o futuro da sua família, em especial das suas filhas. Orgulhosa e fofoqueira, não é uma mãe fácil de se ter, mas é ainda assim extremamente marcante, sobretudo como marca de água do que era gerir uma família em plena época vitoriana. Mesmo hoje, desperta tanto empatia como raiva nos leitores de Jane Austen, com a certeza de que mantém vivo o legado desta autora nas suas descrições da vida quotidiana.
Sinhá Vitória, Vidas Secas, de Graciliano Ramos
Sinhá Vitória é a esposa de Fabiano nesta célebre obra de Graciliano Ramos. Mulher cheia de fé e muito trabalhadora, é cuidadora dos filhos, mas também alguém que está sempre alerta para os perigos e as adversidades que podiam colocar em risco o bem da sua família. Tem presente um lado sonhador, de olhar para o futuro e de alguém que não se contenta com a miséria da vida. É Sinhá quem guia o destino desta família e que, literariamente, dá força à escrita de Graciliano Ramos, que evidencia a opressão social vivenciada pelos personagens no início do século XX, mas também, deixa implícito o empoderamento feminino que uma mulher pode ter.
Ifeoma, A Cor do Hibisco, de Chimamanda Ngozi Adichie
É precisamente nas personagens femininas de Kambili, Amaka, Beatrice e Ifeoma que reside o que de mais singelo e emocional existe neste primeiro romance da autora nigeriana, em que se relata a história de uma família marcada pela opressão colonial, mas também pelas regras pelas regras de um pai repressivo, que reage de forma violenta e fanática. Ifeoma é a tia de Kambili, a protagonista, e surge como um ponto de esperança, enquanto demonstra toda a sua força e coragem para enfrentar o irmão fanático, a sociedade e o seu próprio trabalho como professora. Funciona como horizonte para um futuro mais risonho.