A Única História

Julian Barnes é daqueles escritores predestinados... simplesmente não sabe o que é escrever mal. Podemos gostar ou não, mais ou menos... tem o seu estilo, próprio... mas a qualidade e a elevação da sua escrita é inquestionável. A Única História é um livro profundo, sobre o amor, os relacionamentos, mas, e além disso, sobre algo que é transversal às suas obras, a memória e a visão, a distorção que dela temos e fazemos com os anos e o distanciamento dos acontecimentos. Confesso que não fiquei deslumbrado como com os Niveis da Vida ou o Sentido do Fim, mas é uma optima história, brilhantemente escrita que da vontade de tirar notas de uma série de frases que nos apanham e não nos largam mais...

Julian Barnes , traz-nos novamente uma historia deliciosa, escrita magistralmente como já nos habituou nos seus outros livros . Em A única historia conhecemos Paul um jovem de 19 anos que se apaixona por Susan uma mulher casada de quarenta e muitos anos. Um amor que surge inocentemente numa partida de ténis a pares, vai definir toda a vida das personagens . Barnes presenteia-nos com um inicio magico de amor puro, um meio conturbado e um fim trágico, no fundo dá-nos a vida real , mostra-nos que há amores que nos marcam para toda a vida, independentemente de como começam e acabam, que nos deixam cicatrizes invisíveis aos outros , mas que dentro de nós estão abertas e arder como se tudo se tivesse passado ontem.

Um romance que nos transporta para o drama daquele amor proibido e nos enreda nas divagações do narrador sobre o amor. Uma reflexão muitas vezes poética. Um murro nos estomago, algumas passagens ficarão para sempre na minha memória. Um livro marcante.

Se dúvidas houvesse, esta história revela-nos o modo como o amor condiciona toda uma vida – “Onde estiveste tu toda a minha vida?” – para o bem e para o mal. Assume que todos temos uma “única história”, independentemente de ser feliz ou não, que inevitavelmente deixa marcas incontornáveis. “As coisas uma vez acabadas, não se podem trazer de volta: agora sabia-o. Um murro, uma vez dado, não pode ser retirado. As palavras uma vez ditas, não podem desdizer-se. Podemos continuar como se nada se tivesse perdido, ou feito, ou dito; podemos declarar que tudo esquecemos; mas o nosso íntimo mais íntimo não esquece, porque nos transformamos para sempre”.