O projeto é, em si mesmo, um livro a ser escrito. A artista imagina os anéis das árvores como
capítulos de uma obra
. As palavras que ainda não foram escritas são, ano após ano, ativadas, materializadas. Paralelamente, é também uma experiência viva e orgânica a partir dos visitantes da floresta, cujas raízes são feitas de ideias, numa energia nunca antes vista.
Os manuscritos vão ser guardados numa divisão especialmente criada para este projeto na
New Deichmanske Library
, em Oslo. A ala estará aberta ao público em 2020, funcionando como um espaço de contemplação e disponibilizando madeira da floresta. Os nomes dos autores e os títulos das suas obras vão estar em exibição, mas nenhum dos escritos estará disponível para leitura – pelo menos, não durante 100 anos.
A escritora
Han Kang
foi a última a entregar a sua criação, numa cerimónia anual que convida à participação e comunhão com a floresta. Despediu-se de
“Dear Son, My Beloved”
, embrulhando-o num pano branco, como quem envolve um filho.
“É como um casamento do meu manuscrito com esta floresta. Ou uma canção de embalar para um sono de um século”
, descreve a romancista.
David Mitchell
(Reino Unido),
Sjón
(Islândia) e
Elif Shafak
(Turquia) são também alguns dos autores que integram esta experiência orgânica. Os autores vão sendo escolhidos pela sua contribuição para a literatura ou poesia.
“Existem duas palavras-chave no nosso processo seletivo – imaginação e tempo”
, refere
Paterson
, garantindo que pretende escolher escritores de todas as idades e nacionalidades.
Uma biblioteca que prossegue à sombra da natureza.
Neste espaço artístico e literário, faltam certamente escritores que só daqui a alguns anos irão nascer. Uma floresta que aguarda a chegada de todos como progenitora – ou defensora – das suas obras,
“numa narrativa que assumirá forma daqui a um século”
.
“É como um sono de beleza. Os textos vão repousar durante 100 anos e depois vão acordar e viver novamente. É um conto de fadas sobre a passagem do tempo”
, considera
Atwood
, uma das autoras que integra o projeto, e que questiona:
“Haverá seres humanos à espera de receber os livros? Haverá Noruega? Haverá uma floresta? Existirão ainda bibliotecas?”