A Vida Mentirosa dos Adultos
de Elena Ferrante
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Sobre o livro
Finalista Prémio Livro do Ano Bertrand 2020 - Ficção de autores estrangeiros
«Dois anos antes de sair de casa, o meu pai disse à minha mãe que eu era muito feia» é a frase inicial deste romance. A revelação é feita por Giovanna, que ao olhar paterno se transformara de criança encantadora em adolescente imprevisível, que parecia tornar-se cada dia mais parecida com a desprezada tia Vittoria.
A frase ouvida sem que os pais o soubessem vai levar Giovanna a procurar conhecer a tia, cujas fotografias foram apagadas dos álbuns de família e é evitada em todas as conversas.
Para saber se estará realmente a tornar-se semelhante à tia, vai visitar a zona empobrecida de Nápoles, a conhecer uma versão diferente dos seus pais, provocando sem o saber a desagregação da sua família intelectual, compreensiva e perfeita na aparência.
Confirmando a sua mestria narrativa e o profundo conhecimento do que se passa na cabeça das adolescentes, Ferrante constrói um enredo surpreendente, ligando uma história de iniciação aos episódios de uma pulseira que passa de mão em mão. Giovanna move-se entre duas famílias e duas zonas da cidade em busca dela própria, na passagem da adolescência para a idade adulta.
Mais um livro de Elena Ferrante que devoro como se não houvesse amanhã. Não sendo um dos meus favoritos, está lá tudo: a história pungente de uma adolescente, a sua relação com os pais e consigo própria, a descoberta da sexualidade, a incerteza, a história da sua família, tudo bem temperado com a já habitual escrita visceral e crua da autora. Tem algumas similaridades com a tetralogia da Amiga Genial, principalmente com os dois primeiros livros, que se focam mais na adolescência das protagonistas, mas é um registo diferente, muito mais introspectivo e íntimo, que por vezes choca de tão nú e crú que é. Giovanna tem uma infância quase perfeita, com um pai e uma mãe perfeitos aos seus olhos imaculados, mas de repente vê-se em plena puberdade, no meio de uma crise familiar, que a catapulta para um mar de dúvidas e incertezas, e que a deixa sem saber como reagir. “Foi assim que comecei a reagir. Pouco a pouco passei do aturdimento em que deixava correr os dias a observar-me, para a necessidade de me consertar, como se fosse um pedaço de qualquer material de boa qualidade danificado por um operário desastrado. Era eu - fosse eu quem fosse -, e tinha de fazer alguma coisa por aquele rosto, aquele corpo, aqueles pensamentos”. Gianni é uma miúda conturbada, mas inteligente e destemida, e a mistura pode ser explosiva. Ser adolescente não é fácil. É um período de mudanças e indecisões, muitas vezes dolorosas, que podem deixar marcas muito profundas. E esta foi uma história que não desiludiu. Gostei de acompanhar Giovanna neste seu percurso e acreditar que chegou sã e salva à idade adulta. Apesar de ter gostado imenso desta leitura, não me senti arrebatada como com os outros livros. Mas é uma leitura a não perder. Sem dúvida. P.S. O título é perfeito. A vida mentirosa dos adultos é o que a jovem Giovanna descobre ao crescer.
Os livros da Helena Ferrante são todos abismais! Aqui encontramos um retrato de uma criança e adolescente com a crueza a que Ferrante já nos habituou e mostra ao mesmo tempo a duplicidade de facetas que possuímos (e que tentamos desesperadamente esconder). Uma história inebriante da primeira página à última...
Uma vez mais, Elena Ferrante constrói um enredo que envolve o leitor e o faz querer continuar na história, como se fosse pertença sua. Verdade e mentira entrelaçadas, e a vida a desenrolar-se. Serão indissociáveis na sua incomensurabilidade? Aparentemente, Elena faz-nos questionar a relevância da verdade ou até a sua existência autónoma. E petrifica-nos, fazendo-nos duvidar das nossas certezas. Afinal somos compostos por tudo isso. Todos nós.