Álvaro Alves de Faria
Biografia
Prémio de Poesia Guilherme de Almeida de 2019, pelo conjunto da obra, São Paulo.
Da Geração 60 de Poetas de São Paulo, Álvaro Alves de Faria é um dos nomes mais significativos. Autor de mais de 50 livros, incluindo poesia, novelas, romances, ensaio literário, livros de entrevistas com escritores e peças de teatro. Mas é fundamentalmente poeta. Como jornalista cultural, pelo seu trabalho em favor do Livro, recebeu por duas vezes o Prémio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1976 e 1983, e por três vezes o Prémio Especial da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1981, 1988 e 1989. Recebeu ao longo dos anos os mais importantes prémios literários do país. A sua peça de teatro "Salve-se quem puder que o jardim está pegando fogo" recebeu o Prémio Anchieta para Teatro, um dos mais importante dos anos 70 no Brasil. A peça, no entanto, foi proibida a encenação 15 dias antes da estreia e permaneceu censurada até a abertura política no país, quase no fim da ditadura. Foi o iniciador, nos anos 60, dos recitais públicos de poesia em São Paulo, quando lançou o seu livro O Sermão do Viaduto, em pleno Viaduto do Chá, então o cartão-postal da cidade. Com microfone e quatro altifalantes realizou nove recitais no local e foi preso cinco vezes como subversivo pelo DOPS – Departamento de Ordem Pública e Social. Voltou a ser detido em 1969, por desenhar os cartazes do então clandestino Partido Socialista Brasileiro. Há mais de 15 anos que se dedica à poesia de Portugal, país onde tem 12 livros publicados – 11 de poesia e uma novela. Essa trajetória na terra dos seus pais começou quando representou o Brasil no III Encontro Internacional de Poetas na Universidade de Coimbra, em 1998, a convite de Graça Capinha, tendo sido, então, o nome mais discutido no evento. Foi o poeta homenageado, em 2007, no X Encontro de Poetas Ibero-americanos, de Salamanca, em Espanha, nesse ano dedicado ao Brasil, convidado pelo poeta peruano-espanhol Alfredo Perez Alencart, da Universidade de Salamanca. Teve publicada, no evento, uma antologia de poemas – Habitación de Olvidos (Fundación Salamanca Ciudad de Cultura), com seleção e tradução de Alfredo Perez Alencart. Participa em mais de 70 antologias de poesia e contos no Brasil e em vários países. É traduzido para o espanhol, francês, húngaro, italiano, inglês, japonês e servo-croata.
Da Geração 60 de Poetas de São Paulo, Álvaro Alves de Faria é um dos nomes mais significativos. Autor de mais de 50 livros, incluindo poesia, novelas, romances, ensaio literário, livros de entrevistas com escritores e peças de teatro. Mas é fundamentalmente poeta. Como jornalista cultural, pelo seu trabalho em favor do Livro, recebeu por duas vezes o Prémio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1976 e 1983, e por três vezes o Prémio Especial da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1981, 1988 e 1989. Recebeu ao longo dos anos os mais importantes prémios literários do país. A sua peça de teatro "Salve-se quem puder que o jardim está pegando fogo" recebeu o Prémio Anchieta para Teatro, um dos mais importante dos anos 70 no Brasil. A peça, no entanto, foi proibida a encenação 15 dias antes da estreia e permaneceu censurada até a abertura política no país, quase no fim da ditadura. Foi o iniciador, nos anos 60, dos recitais públicos de poesia em São Paulo, quando lançou o seu livro O Sermão do Viaduto, em pleno Viaduto do Chá, então o cartão-postal da cidade. Com microfone e quatro altifalantes realizou nove recitais no local e foi preso cinco vezes como subversivo pelo DOPS – Departamento de Ordem Pública e Social. Voltou a ser detido em 1969, por desenhar os cartazes do então clandestino Partido Socialista Brasileiro. Há mais de 15 anos que se dedica à poesia de Portugal, país onde tem 12 livros publicados – 11 de poesia e uma novela. Essa trajetória na terra dos seus pais começou quando representou o Brasil no III Encontro Internacional de Poetas na Universidade de Coimbra, em 1998, a convite de Graça Capinha, tendo sido, então, o nome mais discutido no evento. Foi o poeta homenageado, em 2007, no X Encontro de Poetas Ibero-americanos, de Salamanca, em Espanha, nesse ano dedicado ao Brasil, convidado pelo poeta peruano-espanhol Alfredo Perez Alencart, da Universidade de Salamanca. Teve publicada, no evento, uma antologia de poemas – Habitación de Olvidos (Fundación Salamanca Ciudad de Cultura), com seleção e tradução de Alfredo Perez Alencart. Participa em mais de 70 antologias de poesia e contos no Brasil e em vários países. É traduzido para o espanhol, francês, húngaro, italiano, inglês, japonês e servo-croata.
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Pandemia – 27 Poemas Brasileiros
Aqui o poema nasce no coração que para.
O poeta e jornalista Álvaro Alves de Faria, assim nos revela na poesia cortante, qual uma adaga que fere e assombra. Neste impactante livro PANDEMIA 27 POEMAS BRASILEIROS, não há espaço para construções linguísticas, diz o poeta, pois os mortos não têm o tempo para morrer e a poesia está a serviço das dores mais fundas, dos horizontes sem lua, das respirações ofegantes e do chiado da asma dos incrédulos.
Já no segundo poema, OS GAFANHOTOS - a oitava praga do Egito - as nuvens dos repugnantes insetos qual a passagem bíblica, representam o vírus ora presente que nos envolve, mata, e nos cala na solidão das casas fechadas. " Percorrem as cabeças mortas / empilhadas no corredor / onde homens de branco falam palavras mudas / e mulheres carregam seringas para as camas."
O poeta nos induz ao apocalipse. O fim do mundo brasileiro, que tem por infeliz destino um "rei", um comandante cínico que joga propositadamente seu país/navio contra os rochedos, e se regozija com a matemática crescente do morticínio. " Faz um discurso e bebe um copo de leite nazista" E o "rei" diz, a dar de ombros " e daí?"
Enquanto as mãos vazias acenam para o nunca mais, sem a despedida solene das exéquias, " as pequenas cruzes azuis" estão " a marcar um lugar qualquer / no mapa brasileiro da enorme solidão". Nestes poemas, tudo é desalento e verdade. " As coisas se partem como se caíssem de uma mesa/ e tudo se derrama como soluços derradeiros/ que escorrem da boca".
No poema 27, o poeta Álvaro parece nos dizer que está asfixiado pela dor do mundo.
Contudo, nos revela imenso na grandeza de sua humana poesia, que remete àqueles mais desvalidos. Os habitantes do sereno frio da cidade, que tossem sob o concreto dos viadutos. As inúmeras mulheres órfãs, aqui representadas por uma Magaly qualquer, que choram nas portas das igrejas e " que se nega a continuar sem ti", o seu marido de triste fim. " Vitima dos gafanhotos voadores verdes / quando trabalhava na tua oficina/ e não sabias dessa dor mais próxima / apesar de teu medo".
PANDEMIA, 27 POEMAS BRASILEIROS, é, sem dúvida, a obra que melhor traduz poeticamente o momento dramático no qual nos afundamos e tentamos submergir. Alta e pura poesia. E, apesar do poeta tentar não se deter aos valores estéticos, as melodias mais tristes perpassam seus versos de rara imaginação e de extraordinária e pungente beleza.
Denise Emmer
Poeta e musicista - Rio de Janeiro
O poeta e jornalista Álvaro Alves de Faria, assim nos revela na poesia cortante, qual uma adaga que fere e assombra. Neste impactante livro PANDEMIA 27 POEMAS BRASILEIROS, não há espaço para construções linguísticas, diz o poeta, pois os mortos não têm o tempo para morrer e a poesia está a serviço das dores mais fundas, dos horizontes sem lua, das respirações ofegantes e do chiado da asma dos incrédulos.
Já no segundo poema, OS GAFANHOTOS - a oitava praga do Egito - as nuvens dos repugnantes insetos qual a passagem bíblica, representam o vírus ora presente que nos envolve, mata, e nos cala na solidão das casas fechadas. " Percorrem as cabeças mortas / empilhadas no corredor / onde homens de branco falam palavras mudas / e mulheres carregam seringas para as camas."
O poeta nos induz ao apocalipse. O fim do mundo brasileiro, que tem por infeliz destino um "rei", um comandante cínico que joga propositadamente seu país/navio contra os rochedos, e se regozija com a matemática crescente do morticínio. " Faz um discurso e bebe um copo de leite nazista" E o "rei" diz, a dar de ombros " e daí?"
Enquanto as mãos vazias acenam para o nunca mais, sem a despedida solene das exéquias, " as pequenas cruzes azuis" estão " a marcar um lugar qualquer / no mapa brasileiro da enorme solidão". Nestes poemas, tudo é desalento e verdade. " As coisas se partem como se caíssem de uma mesa/ e tudo se derrama como soluços derradeiros/ que escorrem da boca".
No poema 27, o poeta Álvaro parece nos dizer que está asfixiado pela dor do mundo.
Contudo, nos revela imenso na grandeza de sua humana poesia, que remete àqueles mais desvalidos. Os habitantes do sereno frio da cidade, que tossem sob o concreto dos viadutos. As inúmeras mulheres órfãs, aqui representadas por uma Magaly qualquer, que choram nas portas das igrejas e " que se nega a continuar sem ti", o seu marido de triste fim. " Vitima dos gafanhotos voadores verdes / quando trabalhava na tua oficina/ e não sabias dessa dor mais próxima / apesar de teu medo".
PANDEMIA, 27 POEMAS BRASILEIROS, é, sem dúvida, a obra que melhor traduz poeticamente o momento dramático no qual nos afundamos e tentamos submergir. Alta e pura poesia. E, apesar do poeta tentar não se deter aos valores estéticos, as melodias mais tristes perpassam seus versos de rara imaginação e de extraordinária e pungente beleza.
Denise Emmer
Poeta e musicista - Rio de Janeiro