Quintas e Quintais do Douro
de Cristiane Lisita
Grátis
Sobre o livro
O Douro se revela um lugar de simbologias e misticismo, impregnado por diversas culturas. Um elo entre passado, presente, futuro. A consagrada terra de Fernão Magalhães, o primeiro circunavegador, vela as casas abrasonadas, os misteriosos palacetes, e as igrejas erguidas, testemunhando a azáfama árdua das mãos arando nos socalcos dos xistos, ensejando a produção de vinhos singulares na Primeira Região Demarcada do mundo, agraciada com o título de Patrimônio da Humanidade. Nas paragens esplendorosas de Sabrosa encontram-se, de um lado, as quintas, cujas vinhas se debruçam incólumes, seduzindo os turistas, como uma alfombra esverdeada a encobertar a problemática existente. De outro, os agricultores familiares, em seus acanhados cultivos, bradam por um turismo que possa alargar a economia da região e reduzir a exclusão latente.
Um tempo em que há no ar uma espécie de saudosismo com relação ao pós-modernismo. Um saudosismo talvez ignóbil fantasiando uma realidade que não existe, ou permanece no entendimento que o próprio turista cria: a viagem pela Terra do Nunca, ou ao país do Sempre Nunca, no qual Peter Pan e os ‘meninos perdidos’ acreditam na imortalidade do campo, e o escapismo como uma válvula para suportar a urbe. Adversamente, há, destarte, um campo plausível nesta história na qual Peter Pan um dia não se permitiu crescer. A viagem intuitiva pelo rural, onde as possibilidades de contemplar e reviver se restauram ao voar para além da "segunda estrela à direita e então direto, até amanhecer". Um ‘paraíso’ a ser desfrutado, mas que carece de novos paradigmas e menos preconceitos para perdurar.