Os Últimos Lugares
de Manuel Afonso Costa
Grátis
Sobre o livro
Manuel Afonso Costa nasceu a 4 de Junho de 1949. É licenciado em Engenharia Mecânica (I.S.T.) e História (F.L.L.). Foi Professor de Cultura Portuguesa em Aix-en-Provence e Macau. Actualmente é Professor de História das Ideias, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Publicou poesia no «Diário de Lisboa», «Jornal de Letras», «Diário», «Anuário de Poesia da Assírio & Alvim». Publicou «Os Limites da Obscuridade» (poesia) na Caminho e «Iniciação à Memória» (romance) na Novo Imbondeiro.
Publicou, ainda, textos de história e filosofia em revistas como: «História», «Vértice», «Nós de Cultura Galaico-Portuguesa» e «Revista de História das Ideias da Universidade Nova de Lisboa», entre outras.
O lugar é já o mesmo e ainda é outro; são diferentes o! s vestígios, é outra a irradiação, a espessura das coisas, o desenho impresso na retina. Não se pode desejar mais que uma restituição breve. É para lá que, com esforço, se caminha — deixando os traços hesitantes que o rumor dos sonhos não chega a perturbar.
A memória trabalha no escuro, aposta, contra todas as probabilidades, no colapso dos sítios derradeiros. Aqueles que pedem um nome, a restituição de um sopro, o vento que sublinha as folhas das árvores e a erva mais rasteira.
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a morte aceita-se melhor no fim do verão
quando o teu corpo era uma árvore
a hesitar entre o outono
o musgo seco, sussurraste, é um tapete,
descalça-te, despe-te
traz um livro para leres
este ano o outono apareceu muito inclinado
não te parece? gostava de te dar agora
os últimos beijos
depressa! diz tudo o que não disseste
mas não te esqueças
esmaga a minha cabeça entre as tuas mãos
como prometeste.
Os Últimos Lugares está organizado em três secções que permitem adivinhar um nexo sequencial, ainda que, arriscamos, esse nexo possa ser mais uma consequência duma possível construção de sentido para o leitor do que uma elaboração previamente definida. Assim, na primeira secção encontramos uma espécie de introdução àquele que nos parece ser o problema essencialmente versificado neste livro: a construção de um lugar fora do território das coisas físicas, um lugar para os mortos e para aquilo que aparentemente se perde no «irremediável devir».