Os Loucos da Rua Mazur
de João Pinto Coelho
Grátis
Sobre o livro
Quando as cinzas assentaram, ficaram apenas um judeu, um cristão e um livro por escrever.
Paris, 2001. Yankel - um livreiro cego que pede às amantes que lhe leiam na cama - recebe a visita de Eryk, seu amigo de infância. Não se veem desde um terrível incidente, durante a ocupação alemã, na pequena cidade onde cresceram - e em cuja floresta correram desenfreados para ver quem primeiro chegava ao coração de Shionka. Eryk - hoje um escritor famoso - está doente e não quer morrer sem escrever o livro que o há de redimir. Para isso, porém, precisa da memória do amigo judeu, que sempre viu muito para além da sua cegueira.
Ao longo de meses, a luz ficará acesa na Livraria Thibault. Enquanto Yankel e Eryk mergulham no passado sob o olhar meticuloso de Vivienne - a editora que não diz tudo o que sabe -, virá ao de cima a história de uma cidade que esteve sempre no fio da navalha; uma cidade de cristãos e judeus, de sãos e de loucos, ocupada por soviéticos e alemães, onde um dia a barbárie correu à solta pelas ruas e nada voltou a ser como era.
Na senda do extraordinário Perguntem a Sarah Gross, aplaudido pelo público e pela crítica, o novo romance de João Pinto Coelho regressa à Polónia da Segunda Guerra Mundial para nos dar a conhecer uma galeria de personagens inesquecíveis, mostrando-nos também como a escrita de um romance pode tornar-se um ajuste de contas com o passado.
Comentários
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DE BOM A MELHOR
Depois do surpreendente "Perguntem a Sarah Gross", estamos perante uma obra admirável, onde a ficção se confunde com a realidade de uma forma indecifrável, comovente e apaixonante. O tema é recorrente mas não com este formato literário e subtil abordagem de uma das temáticas mais em foco, que no entanto, nunca é de mais trazer ao encontro dos leitores. Espero mais obras deste autor, com o mesmo cunho acutilante e absorvente. Parabéns!
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A universalidade do preconceito e da maldade
O antissemitismo deve ser tão antigo quanto a própria religião judaica, e as atrocidades cometidas contra judeus estão registadas na memória coletiva da maioria dos povos deste mundo. Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Rússia, Alemanha, por todo o mundo os homens acossaram, maltrataram e executaram pessoas, movidos por intolerâncias religiosas. E continuam a fazê-lo… O que se conta neste livro é uma pequena amostra de tantas crueldades cometidas em nome de uma ideologia. E crueldade, maldade, desrespeito, raiva, não são coisas bonitas nem é possível fazer delas poesia. Ou falamos delas cruamente, ou perdem a força e corre-se o risco de mascarar a realidade. Este livro é duro, cru, difícil de digerir. E porque parece-me estar construído sob uma pesquisa histórica muito sólida não podia ser de outra maneira. João Pinto Coelho escreve aqui ainda melhor que em Sarah Gross.
Um romance que foge aos padrões do romance histórico, mas onde a História faz inevitavelmente parte da ação. Uma narrativa contada a dois tempos - o passado e o presente. Uma narrativa onde se misturam episódios de violência desumana, com motivações ideológico-políticas e étnico-religiosas, com o triângulo perturbador da amizade e com o conflito amoroso.
Um livreiro cego, que vai coleccionando amantes que lhe leem em voz alta. Um escritor de sucesso que precisa de ajuda para escrever o derradeiro livro da sua vida. Vale a pena ler!