Nem Todas as Baleias Voam
de Afonso Cruz
Grátis
Sobre o livro
Finalista Prémio Livro do Ano Bertrand 2016
Em plena Guerra Fria, a CIA engendrou um plano, baptizado Jazz Ambassadors, para cativar a juventude de Leste para a causa americana.
É neste pano de fundo que conhecemos Erik Gould, pianista exímio, apaixonado, capaz de visualizar sons e de pintar retratos nas teclas do piano. A música está-lhe tão entranhada no corpo como o amor pela única mulher da sua vida, que desapareceu de um dia para o outro.
Será o filho de ambos, Tristan, cansado de procurar a mãe entre as páginas de um atlas, que encontrará dentro de uma caixa de sapatos um caminho para recuperar a alegria.
Comentários
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A literatura e a música andam de mãos dadas
Um projeto da CIA, o Jazz Ambassadors, para conquistar os jovens da URSS para a causa americana; um Museu do Sentido da Vida, composto por caixas de sapatos em que crianças em estado terminal colocaram os objectos mais importantes das suas vidas; o Evangelho das Putas Gnósticas; e a música. A música atravessa esse Nem todas as baleias voam, de Afonso Cruz, do princípio ao fim. Acompanhamos Erik Gould, exímio pianista, e sua angústia pelo sumiço de Natasha Zimina, sua mulher. Ficamos enternecidos com seu filho Tristan, que sofre da mesma doença que o pai - sinestesia - embora os sintomas sejam diferentes. Enquanto Erik Gould vê a música, Tristan vê os sentimentos (como a velha que o acompanha - a própria morte, e o homem de fato às riscas, que cospe por cima do ombro - que representa o nojo que as pessoas têm das doenças.) Em comum, a mesma aversão ao homem misterioso de chapéu cinzento. E com razão. Um romance forte, sobre guerra, amor, relação entre pai e filho, sempre com o jazz a tocar entre as páginas.
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Provoca sorrisos
Afonso Cruz é o meu autor preferido por uma simples razão: faz-me sorrir. Ele tem uma escrita tão linda, tão poética, que passo o tempo todo, ao longo da leitura, a sorrir e a sonhar. Apesar deste não ter sido dos livros que mais gostei dele, também não faltaram sorrisos. Esta é uma história tão complexa que não sei o que dizer sem contar demasiado. Apenas sei que merece ser lida.
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Simbiose entre realidade e ficção em Afonso Cruz: há baleias que voam.
Livro obrigatório para os leitores de "O Pintor Debaixo do Lava-Loiças", "A Boneca de Kokoschka", "Mil Anos de Esquecimento"e "As reencarnações de Pitágoras". "Nem todas as baleias voam" tem um editor coxo, uma mulher que se prostitui, Tristan que sofre de sinestesia, uma baleia que não vem à tona, o homem do chapéu cinzento e um pianista. Temos mistério, espionagem, amor, raptos, blues e jazz. A realidade como uma conjugação entre o racional e a fantasia perpassa pela obra de Afonso Cruz. O leitor tem que observar, utilizar vários sentidos. As baleias podem voar, mas nem todas o fazem. Tristan vê sentimentos, vê pessoas ou coisas que saem da cabeça de outras pessoas. Gould vê sons. Recomendo: pela qualidade e capacidade de criação do autor. E a este propósito partilho um excerto de "Nem todas as baleias voam" sobre a escrita como processo de "inspiração": "O Escritor dizia que não era ele quem escrevia, que não era ele o autor, que era um escravo da inspiração, que a sua mão se mexia comandada por uma força estranha à sua vontade, que aquelas histórias não lhe pertenciam. Era um processo extremamente doloroso, em que ele servia apenas de veículo. Muitos escritores sentem exactamente a mesma coisa e garantem que a inspiração lhes escorre pelos braços, pelo corpo, pela cabeça, num processo mágico em que a escrita parece contornar a consciência para ser algo que sai dos dedos, como a tinta sai das pontas das canetas. E tudo isto é acompanhado de uma dor imensa, como um parto, com sangue e com suor. Com o Escritor, era exactamente isso que se passava".
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Afonso Cruz é dos autores mais criativos e originais do panorama literário português e este livro vem novamente afirmar a sua posição como excelente contador e histórias. Uma prosa rica, com lirismo e sensibilidade que cresce dentro de nós e não sai mais. Mais do que recomendado!