Judeus Errantes
de Joseph Roth
Grátis
Sobre o livro
Este livro prescinde do aplauso e da aprovação, mas também do protesto e até da crítica daqueles que menosprezam, desdenham, odeiam e perseguem os judeus orientais. Olivro não se dirige aos europeus ocidentais que, pelo facto de terem crescido com elevadores e sanitas, inferem o direito de contar anedotas de mau gosto sobre os piolhos romenos, percevejos galicianos e pulgas russas. Este livro prescinde dos leitores «objectivos», que, com a benevolência barata e azeda, a partir das vacilantes torres da civilização ocidental, lançam olhares de soslaio para o Próximo Oriente e os seus habitantes; que, por pura humanidade, lamentam a deficiente canalização e, por medo de contágio, encerram em barracas emigrantes pobres, onde a solução de um problema social é deixado ao critério da morte em massa. Este livro não quer ser lido por aqueles que renegam os seus próprios pais ou antepassados, que, por um simples acaso, escaparam às barracas. Este livro não foi escrito para os leitores que levariam o autor a mal por tratar o objecto da sua exposição com paixão em vez de o fazer com a «objectividade científica», que pode ser designada também por entediante.
A quem é então destinado este livro? O autor nutre esperanças insensatas de que existem ainda leitores perante os quais não é necessário defender os judeus orientais; leitores que sentem respeito pela dor, pela grandeza humana e pela imundície que acompanha o sofrimento em todo o lado; europeus ocidentais que não têm orgulho nos seus colchões limpos; que sentem que têm muito a receber do Leste e que talvez saibam que da Galícia, da Rússia, da Lituânia e da Roménia vêm grandes ideias; mas também ideias (na perspectiva deles) úteis, que ajudam a consolidar e ampliar a estrutura firme da civilização ocidental — e não apenas os carteiristas, a quem o mais infame produto da Europa Ocidental que é a imprensa local chama os «hóspedes do Leste».
Este livro não estará em condições de tratar o problema do judaísmo oriental com a profundidade abrangente que este requer e merece. Procurará apenas descrever as pessoas que representam o problema e as circunstâncias que estão na sua origem. Fará apenas um relato sobre algumas partes do vasto tema, o qual, para ser tratado com toda a sua amplitude, exigiria do autor tantas migrações quantas aquelas a que foram sujeitas gerações inteiras de judeus orientais.
Joseph Roth, «Prefácio»
Históra abreviada do povo judaico, mas também uma história onde se identifica um olhar nostálgico, pelo menos perplexo, sobre esse tempo singular em que o império Austro-Húngaro cede lugar aos estados-nação, conceito envolto em autodeterminação e liberdade que não deixará de arrastar sangrentos resultados. […]Um livro triste e belo.»
Ana Cristina Leonardo, Expresso
«No seu modo magistral de usar a escrita como processo de pensamento, cruzando histórias e episódios com uma imensa erudição sobre o tema a que se dedica, Joseph Roth desfia a eterna epopeia judaica a partir dos contextos que conhece por experiência própria (a Europa Central, sobretudo) e das conversas que vai tendo e recolhendo com judeus de Viena, Berlim, Paris, muitos vindos da Rússia, da região da Galicia, dos vários torrões espalhados pela queda do império Austro-Húngaro, e muitos procurando maneiras de chegar ao Ocidente, em particular aos Estados Unidos da América. A forma como descreve a relação dos judeus com a religião é tão comovente como marcada pelo humor, aquele tipo de humor contido e inteligente que reservamos para aquilo que mais respeitamos. […] Com Roth, aprende-se mais sobre religião do que em qualquer catequese, mais sobre o conflito israelo-palestiniano do que em horas de visionamento televisivo das notícias e mais sobre a natureza humana do que em muitos romances aspirantes a universais.»
Sara Figueiredo Costa, Time Out