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Sobre o livro
Condenação do fariseísmo social e da cegueira política
patentes num dado instante (aliás temporal) da vida
portuguesa (em que Lisboa aparece tão literalmente
identificada como Pôncio Pilatos no Credo), a peça Jesus
Cristo em Lisboa surge também como um Auto de Fé,
com todos os respectivos ingredientes da acusação, do
juízo e da sanção mortal — episódio do grande teatro do
mundo. Nem lhe falta a moralidade conclusiva, a
mensagem, por isso que, auto, é também moralidade,
como se na peça se reunissem os dados peculiares a um
auto sacramental de apologia do Amor. E, todavia, talvez
escandalizados com a peça, continuaremos a crucificar
Jesus com os pregos dos nossos pecados…
Diremos então que, não sendo um discurso racionalista, ou
dialéctico, ele aduz uma doutrina, como se a tragicomédia
fosse algo que está para além do teatro, mas antes busca
re-situar o querigma primeiro, a boa nova da alegria, na
escuridão das trevas. Nem lhe falta a chave de ouro do
maior dos mistérios: «Amai-vos uns aos outros» (Sétimo
Quadro). João (15, 12) acrescentara, para haver modelo de
referência: «como Eu vos amei».