Sobre o livro
«Existem numerosos mal-entendidos acerca do que outros desconstrucionistas e eu mesmo tentamos fazer. É totalmente falso pretender que a desconstrução é uma suspensão de referência. A desconstrução está profundamente preocupada com o outro da linguagem. Sou sempre surpreendido pelas críticas que vêem no meu trabalho a declaração de que não há nada para além da linguagem, que estamos aprisionados na linguagem. É exactamente o contrário. A crítica do logocentrismo é acima de tudo a procura do outro e do outro da linguagem. Todas as semanas recebo comentários críticos e estudos sobre a desconstrução que partem da hipótese de que aquilo a que chamam pós-estruturalismo leva a dizer que não existe nada para além da linguagem, que estamos submergidos pelas palavras - e outras estupidezes do mesmo género.
A desconstrução tenta, certamente, mostrar que a questão da referência é muito mais complexa e problemática do que as teorias tradicionais supõem. Ela pergunta mesmo se o nosso termo referência é verdadeiramente adequado para designar o outro. O outro, que se situa para além da linguagem e a intima, não é talvez um referente segundo o sentido normal que os linguistas lhe concederam.
Mas distanciar-se das estruturas habituais de referência, desafiar ou complicar as nossas hipóteses comuns sobre a linguagem, não conduz necessariamente a dizer que não há nada para além da linguagem.»
Jacques Derrida, p. 39