Água - Uma novela rural
de João Paulo Borges Coelho
Grátis
Sobre o livro
Ryo e Laama passam metade do tempo a sondar as entranhas da natureza, a outra metade a discutir a interpretação dos resultados. A ciência é uma esforçada leitura paralela, as coisas seguem o seu curso cego, imunes às interpelações. A natureza é um misterioso veículo em movimento deixando sacerdotes e cientistas em terra, ocupados ainda assim na tentativa de determinar o rumo da viagem!
Volúvel até mais não, Ryo é a favor da deriva (concluída uma interpretação, apresta-se a abraçar uma outra). Isso exaspera Laama, mais consistente na obsessão de desnudar os fumos primordiais.
‘Não é no princípio que está o segredo!’, diz Ryo.
‘Tão-pouco no crescimento ou na viagem!’, responde Laama, para quem os dados desde há muito estão lançados.
‘Para ti o homem sábio repete o que dizia quando era criança!’, resmunga Ryo.
‘Para ti o homem sábio é uma criança!’, retorque Laama.
Discutem, hoje, a água. Ou melhor, a falta dela, que aquilo que outrora era um pesado e líquido cordão não passa hoje de um tortuoso arabesco, um ralo e frágil cabelo de velho. No fundo, repetem sempre a mesma discussão.