A Cidade e as Serras
de Eça de Queiroz
Descubra mais
Grátis
Sobre o livro
Numa manhã de um Inverno frio e pessimista em Paris, o cosmopolita Jacinto decide regressar à sua Tormes natal, pacata vila das serras portuguesas, acompanhado por Zé Fernandes, narrador-personagem desta história. «Novela fantasista», assim lhe chamou Eça de Queiroz, A Cidade e as Serras faz um retrato dos contrastes entre a excitação da vida citadina e a genuína beleza da vida no campo.
Escrita na fase final da vida do autor, esta obra viria a ser publicada apenas em 1901, um ano após a morte de Eça de Queiroz.
Comentários
-
Uma velha dicotomia
Campo ou cidade? O maniqueísmo nesta questão surge contaminado por preconceitos. Os apologistas do campo são quase sempre aqueles que não têm de sobreviver no campo, vivem na cidade alimentando uma nostalgia bucólica de sossego, paz e silêncio, como se a vida no campo pudesse ser reduzida à pureza do ar. Os do campo olham para a cidade sonhando com riquezas e confortos, ambicionando aceder aos lustres da fama, pensam na cidade como um mar de oportunidades. Até nelas naufragarem. Diz-se que no campo se é livre e saudável, que na cidade se leva uma vida doentia de servidão. Mas será mesmo assim? Eça de Queiroz, em A Cidade e as Serras, obra póstuma de 1901, parece não escapar ao padrão nesta divisão entre campo e cidade.
Mais uma excelente critica que Eça teceu sobre a nossa sociedade explorando a dicotomia entre o entusiasmo do facilitismo que as máquinas trazem ao pobre Sapiens e a saúde que os ares do campo lhe proporcionam. Esta é feita ao relatar uma amizade dividida por prioridades divergentes, entre Tormes (Portugal) e o famoso 202 (em Paris, França), com as fantásticas personagens ao estilo que Eça de Queiros nos habituou.
"A Cidade e as Serras" é uma ode queirosiana ao desenvolvimento e ao progresso da sua época e da capital por excelência - Paris. Mas a obra desenvolve-se entre dois mundos, representados por duas personagens cuja amizade aproxima e esbate as diferenças entre "civilização" e o meio rural. Pontuada com o típico humor de Eça, esta obra, que parece fazer a apologia da cidade, em detrimento do meio rural, na verdade não apresenta uma dicotomia tão acentuada entre esses dois mundos. Transparece, isso sim, a genialidadede Eça ao representar magistralmente a sociedade do seu tempo, os seus vícios, exageros e ridículos.