2666
de Roberto Bolaño
Grátis
Sobre o livro
Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para a Formação de Adultos como sugestão de leitura.
O que liga quatro germanistas europeus (unidos pela paixão física e pela paixão intelectual pela obra de Benno von Archimboldi) ao repórter afro-americano Oscar Fate, que viaja até ao México para fazer a cobertura de um combate de boxe? O que liga este último a Amalfitano, um professor de filosofia, melancólico e meio louco, que se instala com a filha, Rosa, na cidade fronteiriça de Santa Teresa? O que liga o forasteiro chileno à série de homicídios de contornos macabros que vitimam centenas de mulheres no deserto de Sonora? E o que liga Benno von Archimboldi, o secreto e misterio-so escritor alemão do pós-guerra, a essas mulheres barbaramente violadas e assassinadas? 2666.
Para se ler sem rede, como num sonho em que percorremos um caminho que nos poderá levar a todos os lugares possíveis.
José Mário Silva, Expresso
«Depois de ter lido Bolaño a nossa vida muda um pouco. Não se pode esquecer que aquilo que ele deixou escrito, e que é uma tempestade, uma torrente, um delírio, como deve ser a literatura.»
Francisco José Viegas, Público
«Com esta obra-prima o génio de Roberto Bolaño abriu à literatura novos horizontes. Como fizeram Borges, Faulkner, Joyce, e poucos mais.»
Público
«2666 está destinado a ser, não só o grande romance em língua castelhana da primeira década no novo século, mas também uma das peças fundamentais de toda a literatura.»
La Vanguardia
«...monumental romance póstumo...»
Públicobr>
«Os temas são a violência, deslocação, a sexualidade da literatura - vertentes interminavelmente recombinadas na Europa, Detroit e México, através de múltiplos narradores e estilos de prosa.»
The New Yorker
Comentários
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Imperdível
"Devorei e adorei!" foi a primeira coisa que disse mal acabei aquelas mil e tal páginas que tanto me tinham intimidado. Um livro cru sobre literatura e violência, sobre a natureza do mal, sobre seres em constante procura e descoberta... Apesar de o ano ainda estar no início, posso dizer que 2666 será uma das minhas melhores leituras de 2017.
A construção circular de "2666" lembra-nos um tornado, um fenómeno que arrastará durante 1025 páginas todo um historial humano cujo retrato final é impiedoso e obriga-nos a recolocar a questão da natureza humana: quem somos nós, neste início de um novo milénio, entre os destroços de um edifício arruinado pela nossa própria incúria? Bolaño mostra-se implacável quando narra a violência que nos persegue desde sempre, dos sacrifícios astecas à Segunda Guerra Mundial, das perseguições a intelectuais na ex-URSS aos crimes insolúveis de Santa Teresa, das lutas travadas pelos afro-americanos aos crimes e ao racismo exibidos sem critério e impunemente nos media actuais, da bisbilhotice e da intriga entre intelectuais ao jornalismo sensacionalista, da promiscuidade entre poderes e criminosos à prostituição de altas e baixas esferas, dos snuff movies à… Enfim, um retrato violentíssimo do mundo.
Estruturado em partes com histórias independentes, ligadas por pontos menos óbvios à partida, 2666 é um livro que não tem compromisso de continuidade narrativa. No entanto, à medida que se avança na leitura, os pontos em comum adquirem uma relevância maior, até que o livro compõe-se como uma obra monumental onde parece caber a América Latina, o Mundo todo. Como se abríssemos matrioskas atrás de matrioskas de histórias de onde se sobressai, como o elemento comum, a natureza do mal. O texto demonstra um escritor na posse de capacidades sem fim: 2666 é escrito como romance puro, como ensaio, como relatório. De um momento para o outro, acelera numa escrita que se cola ao pensamento da personagem — frenético, caótico, prolífico, que exige o nosso fôlego e a nossa concentração. Melancolia, pessimismo, humor carregado, tudo se encontra, sobretudo um clima onírico em que se sabe que algo está muito mal, mas ninguém tem a certeza absoluta do que é. É o que encontramos na busca dos críticos, nas descrições dos hediondos crimes contra mulheres, na deriva de Fate, na rotina de Amalfitano e da filha Rosa numa cidade sempre no fio da navalha — Santa Teresa —, até, e sobretudo, na sombra que paira sobre o livro que é o escritor Benno von Archimboldi. As mais de mil páginas não são um problema, porque não há momentos mortos ou quedas de qualidade. O peso maior está no verdadeiro terror que sobressai das narrativas associadas à linguagem de Bolaño. Nunca tinha lido — e até hoje não li — nada que se comparasse. Um dos meus livros favoritos.