Maria do Rosário Ferreira
Biografia
Professora de Literatura Medieval da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e fundadora do SMELPS (Seminário Medieval de Literatura, Pensamento e Sociedade, do Instituto de Filosofia), a sua pesquisa tem incidido na produção literária ibérica dos séculos XII a XV, especial a lírica trovadoresca e a escrita historiográfica e genealógica.
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Pedro de Barcelos
"Pedro Afonso, filho natural de Dom Dinis, mais conhecido como «Dom Pedro, Conde de Barcelos», deixou à posteridade uma extensa obra historiográfica - a Crónica de 1344 e um recheado Livro de Linhagens - e ainda a compilação de perto de mil e setecentos cantares dos trovadores activos desde os finais do século XII. Deste seu Livro das Cantigas são provenientes os grandes cancioneiros medievais que temos, actualmente, ao nosso dispor. Foi ainda, ele mesmo, trovador, embora já numa fase final deste fenómeno cultural e literário.
Nas suas obras maiores, não foi um autor como hoje em dia encontramos, dependente da sua exclusiva fantasia ou à espera de uma inspiração quase divina. Foi antes um estudioso, um congregador de saberes e um organizador da escrita. A combinação entre os materiais que recebe e as suas perspectivas próprias constitui, simultaneamente, a característica mais saliente da sua vasta obra e também a chave para o seu entendimento.
Mas não se pense que se perde o que quer que seja neste modo de escrita, como se o autor fosse meramente um chefe de orquestra. A disposição dos materiais, a sua inclusão ou secundarização, os comentários que vai adicionando, rapidamente transformados em narrativa inesperada, num jogo de sentidos que respeita a tradição ao mesmo tempo que a reescreve, fazem de Dom Pedro Afonso um verdadeiro falcão da escrita, alguém que seguramente se preocupou tanto em observar como em deixar testemunho.
Se há na obra do Conde algo que se tornará constante é a conjugação de duas vertentes cuja compreensão é essencial: o cosmopolitismo aristocrático e o conceito do mundo enquanto objecto de conhecimento. «A man who gaue himselfe to studie», como dirá um historiador inglês do início do séc. XVII, revelando conhecer a obra de Pedro de Barcelos melhor do que os compatriotas deste último, não apenas naquela época, mas desde então até aos dias de hoje.
Pedro de Barcelos foi sobretudo um homem que valorizou a memória, decididamente voltado para a consideração das acções do passado, edificantes ou reprováveis, com as quais o presente teria de conviver como inescapável herança.
Nas suas obras maiores, não foi um autor como hoje em dia encontramos, dependente da sua exclusiva fantasia ou à espera de uma inspiração quase divina. Foi antes um estudioso, um congregador de saberes e um organizador da escrita. A combinação entre os materiais que recebe e as suas perspectivas próprias constitui, simultaneamente, a característica mais saliente da sua vasta obra e também a chave para o seu entendimento.
Mas não se pense que se perde o que quer que seja neste modo de escrita, como se o autor fosse meramente um chefe de orquestra. A disposição dos materiais, a sua inclusão ou secundarização, os comentários que vai adicionando, rapidamente transformados em narrativa inesperada, num jogo de sentidos que respeita a tradição ao mesmo tempo que a reescreve, fazem de Dom Pedro Afonso um verdadeiro falcão da escrita, alguém que seguramente se preocupou tanto em observar como em deixar testemunho.
Se há na obra do Conde algo que se tornará constante é a conjugação de duas vertentes cuja compreensão é essencial: o cosmopolitismo aristocrático e o conceito do mundo enquanto objecto de conhecimento. «A man who gaue himselfe to studie», como dirá um historiador inglês do início do séc. XVII, revelando conhecer a obra de Pedro de Barcelos melhor do que os compatriotas deste último, não apenas naquela época, mas desde então até aos dias de hoje.
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