Fernando Campos
Biografia
Fernando Campos nasceu em 1924, em Águas Santas, concelho da Maia, nos arredores do Porto, e faleceu em 2017, em Lisboa. Estudou em Coimbra onde se licenciou em Filologia Clássica e foi professor no Liceu Pedro Nunes, em Lisboa.
Para além de algumas obras didácticas e pequenas monografias de investigação etimológica e literária, é autor do romance histórico "A Casa do Pó", a sua primeira obra de fôlego a ser publicada e que o colocou entre os grandes escritores portugueses, a que se seguiram "Psiché", "O Homem da Máquina de Escrever","O pesadelo de Deus", "A Esmeralda Partida" (Prémio Eça de Queirós - 1995), "A Sala das Perguntas", "Viagem ao Ponto de Fuga", a "Ponte dos Suspiros" e "…que o meu pé prende…".
Algumas das suas obras estão traduzidas em França, Alemanha e Itália.
Para além de algumas obras didácticas e pequenas monografias de investigação etimológica e literária, é autor do romance histórico "A Casa do Pó", a sua primeira obra de fôlego a ser publicada e que o colocou entre os grandes escritores portugueses, a que se seguiram "Psiché", "O Homem da Máquina de Escrever","O pesadelo de Deus", "A Esmeralda Partida" (Prémio Eça de Queirós - 1995), "A Sala das Perguntas", "Viagem ao Ponto de Fuga", a "Ponte dos Suspiros" e "…que o meu pé prende…".
Algumas das suas obras estão traduzidas em França, Alemanha e Itália.
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A Loja das Duas Esquinas
DESAPARECERAM 9 DIAS DO CALENDÁRIO!
A loja ainda lá está com as suas enormes vitrinas, uma na rua da Conceição, a outra na de José Falcão. Naquele tempo, a primeira expunha objectos de antiquário, a segunda as bonecas recuperadas no seu "hospital". O senhor Andreias Fontes, o proprietário, era homem habilidoso e sábio. À porta do estabelecimento, mesmo na esquina, vinha todos os dias sentar-se, pelo braço da filha, um cego com o seu acordeão. A menina cantava e os transeuntes iam deixando cair as esmolas na caixinha aberta aos pés do concertista. Andreias Fontes lia, por essa altura, uma tradução de Rei Édipo de Sófocles, e aquele cego mais a menina faziam-lhe recordar a tragédia antiga. Também se deu conta, através do Borda d’Água, do desaparecimento de nove dias, na reforma do calendário da era de César pelo papa Gregório XIII. Introvertido, laborando distraído no interior dos seus pensamentos, Andreias Fontes é atropelado ao atravessar a passadeira em frente da igreja de São-João-dos-Enforcados. Uma ambulância leva-o para as urgências de uma clínica e, em seu desmaio febril, o pobre doente desenrola, na montra das suas bonecas estropiadas, o pesadelo de Édipo e Jocasta na peça do tragediógrafo grego, interrompido a espaço pela curiosidade e considerações da sua jovem ajudante.
E o leitor sente-se confuso se tudo aquilo se passa na praça de Londres, em Lisboa, ou perto do largo de Mompilher, no Porto; se o tempo é o dos Gregos ou o dos nossos dias; se, afinal, a um dia catorze de outubro, domingo, pode seguir-se um dia quinze, sexta-feira...
A loja ainda lá está com as suas enormes vitrinas, uma na rua da Conceição, a outra na de José Falcão. Naquele tempo, a primeira expunha objectos de antiquário, a segunda as bonecas recuperadas no seu "hospital". O senhor Andreias Fontes, o proprietário, era homem habilidoso e sábio. À porta do estabelecimento, mesmo na esquina, vinha todos os dias sentar-se, pelo braço da filha, um cego com o seu acordeão. A menina cantava e os transeuntes iam deixando cair as esmolas na caixinha aberta aos pés do concertista. Andreias Fontes lia, por essa altura, uma tradução de Rei Édipo de Sófocles, e aquele cego mais a menina faziam-lhe recordar a tragédia antiga. Também se deu conta, através do Borda d’Água, do desaparecimento de nove dias, na reforma do calendário da era de César pelo papa Gregório XIII. Introvertido, laborando distraído no interior dos seus pensamentos, Andreias Fontes é atropelado ao atravessar a passadeira em frente da igreja de São-João-dos-Enforcados. Uma ambulância leva-o para as urgências de uma clínica e, em seu desmaio febril, o pobre doente desenrola, na montra das suas bonecas estropiadas, o pesadelo de Édipo e Jocasta na peça do tragediógrafo grego, interrompido a espaço pela curiosidade e considerações da sua jovem ajudante.
E o leitor sente-se confuso se tudo aquilo se passa na praça de Londres, em Lisboa, ou perto do largo de Mompilher, no Porto; se o tempo é o dos Gregos ou o dos nossos dias; se, afinal, a um dia catorze de outubro, domingo, pode seguir-se um dia quinze, sexta-feira...