Sobre o livro
Esta novela, porventura a mais conhecida de entre todas as que Schnitzler escreveu, é igualmente um marco importante na literatura de expressão alemã, pois nela Schnitzler é percursor na utilização de uma nova técnica narrativa, o monólogo interior, muito antes de a influência de Virginia Woolf e James Joyce se fazer sentir.
Nesta obra, escrita em apenas seis dias no Verão de 1900, Schnitzler aborda uma temática que já tinha vindo a aflorar em obras anteriores, nomeadamente em Erbschaft (Herança) e Freiwild (À Solta): a crítica social à casta dos oficiais e ao carácter absurdo do seu código de honra e, de um modo mais abrangente, a crítica ao anti-semitismo que grassava em certos meios vienenses. A recepção da novela foi, como em muitos outros casos na vida literária de Schnitzler, bastante controversa, escandalosa mesmo. Se bem que alguns contemporâneos como Rilke e Karl Kraus tivessem reconhecido o valor da obra, a instituição militar, à qual o próprio Schnitzler pertencia na qualidade de oficial médico, não viu a novela com bons olhos e, sentindo-se acerbamente criticada e ridicularizada na figura do tenente Gustl, instaurou um processo contra Schnitzler, na sequência do qual este perdeu o posto que detinha.
Um tenente, que à saída de um concerto é ofendido por um padeiro, sente-se na obrigação moral de se suicidar, uma vez que o seu ofensor não lhe pode dar uma satisfação pelas armas. Durante a noite, Gustl vagueia por Viena e vai passando em revista a vida medíocre que levara, cheia de medos e de vazio e reveladora da sua tacanhez e superficialidade. De manhã, a poucas horas de pegar no revólver e disparar, uma notícia inesperada chega-lhe aos ouvidos...