O Livros dos Abraços
de Eduardo Galeano; Tradução: Helena Pitta; Ilustração: J. Borges
Sobre o livro
Escrito no exílio e ilustrado pelo autor, O Livro dos Abraços reúne memórias e sonhos, fábulas que entrelaçam o real e o fantástico, crónicas indeléveis das trivialidades, das gentes e dos seus costumes, da política e dos seus mártires, do amor, da guerra e da paz. Fragmentos que celebram a diversidade, têm na memória do autor o seu fio condutor: «Recordar: do latim re-cordis, voltar a passar pelo coração.»
Com uma extraordinária capacidade descritiva e um comovente pendor poético, escrevendo numa simplicidade desarmante, Eduardo Galeano dá voz aos amordaçados e estende um longo abraço aos resistentes — amaldiçoados pela economia, afugentados pela polícia, esquecidos pela cultura. O Livro dos Abraços é uma história alternativa da América Latina contada pelo mestre da narrativa breve, numa síntese inspirada do seu imaginário.
Comentários
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Advogado dos miseráveis
Podemos mapear alguns traços gerais de "O Livro dos Abraços". Primeiro, a existência de sequências temáticas. Têm especial relevância os conjuntos A Cultura do Terror (7 textos), A Televisão e Dizem as Paredes (ambos com 5 textos) ou Os Índios (4 textos). Neste caso, serão mais de 4 os textos dedicados ao tema. Os índios ocupam na obra de Galeano um papel relevantíssimo, são a prova viva da desgraça colonialista, são por vezes uma espécie de fantasmas de um mundo extinto, da raiz apodrecida de uma cultura sul-americana devastada pela colonização capitalista e pelas ditaduras militares. São parte integrante de um cenário de miséria contra a qual se ergue a pena do escritor. Advogado dos miseráveis, Eduardo Galeano é igualmente um impressionante arquivista de factos, de lendas, de mitos, de historietas resgatadas de uma invejável experiência de vida. O belo convive nos seus textos com o horroroso, no pântano das desgraças humanas ele colhe sementes de uma poesia cheia de vida.
Galeano escreveu este livro enquanto esteve preso. É realmente algo surpreendente. O autor nos conduz a uma série de mini-contos acerca da resistência do proletariado face às imposições e exploração dos ricos na América Latina, dos efeitos da ditadura na sociedade, mas também sobre o poder da ficção, do ato de narrar, da criatividade, imaginação e fantasia. Sobre o olhar sob o mundo e sob nossa humanidade. Isso tudo com a narração simples, bela e leve do Galeano, como se estivesse a contar histórias numa conversa com o seu leitor.