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Sobre o livro
Naquela descida em trilho estreito acelerei. Ao acelerar percebi que o planeta também girava mais depressa. Senti o dia mudar para noite, as estações passarem. Fiquei velho mas continuei a correr como sempre. Tornei-me vento e, por entre as árvores, soprei o meu amor, a minha paixão por estar vivo e em movimento.
Livre para Correr
O trail running (corrida em trilhos) não é apenas um tipo de corrida ou de competição. Ele nem sequer é apenas um desporto, uma moda ou uma forma de estar na vida.
O trail running é a forma que a natureza encontrou para convencer a humanidade a mudar de atitude perante ela, a amá-la na sua essência em vez de apenas a usar para seu benefício. A natureza aprendeu a jogar com os nossos sonhos, desejos, prazeres e objetivos e, através do trail running, está a jogar a sua maior cartada mesmo na altura certa.
Sem o percebermos vamos começando a correr, a treinar e a competir nos seus trilhos. A natureza vai-se entranhando em nós e quando menos esperamos estamos apaixonados. Pensamos que amamos o trail running mas no fundo amamos aquilo que o possibilita, a existência de vida, a existência da natureza.
Este livro é também ele muito mais que trail running e muito mais que um homem a correr sozinho em 170 Km de trilhos durante 7 dias. Este livro é sobre a liberdade, a felicidade, a sociedade, o amor, o crescimento espiritual, a morte, as relações humanas. Ele é uma viagem ao cerne da mente humana e à relação do Homem com a sua criadora, a mãe natureza. Resumindo, ele é sobre a Vida.
Estava vento. Eu estava na rua e aproximei-me de uma janela espelhada, na qual vi o meu reflexo. Não estava sozinho. Atrás de mim arbustos dançavam ao vento. Sabia que a janela fazia parte de um edifício e conhecia tudo o que lá existia dentro, mas tudo isso não interessava porque, atrás de mim, arbustos dançavam ao vento. Com lágrimas nos olhos, comecei a dançar com eles. Eles não se importaram que eu estivesse de costas porque me conhecem e sabem que dançar com eles é uma das coisas mais importantes da minha vida. Sabem o quanto eu gosto de deixar de ser eu, de me confundir com eles, com o chão que piso e com a chuva ou o vento que me acariciam o cabelo sempre aparentemente despenteado tal como a natureza aparenta ser caótica para quem não a conheça. Naquele momento nada mais existia.