Experiência da Alucinação
Camilo Pessanha e a Questão da Poesia
de Gustavo Rubim
Sobre o livro
A modernidade poderia definir-se como a época em que a poesia entrou em questão: sem função social, em conflito aberto com o seu passado, afectada pela ascensão dos géneros em prosa, a poesia torna-se a mais problemática das escritas literárias. Nenhum poeta escapa a esta condição crítica, que alguns quiseram ultrapassar adoptando grandes princípios programáticos (como Antero ou Eugénio de Castro) e, outros, refugiando-se na retórica confessional. Camilo Pessanha criticou essas (falsas) soluções. Este ensaio propõe uma leitura atenta dos seus textos críticos como primeira tentativa, na literatura portuguesa, para afirmar a não-identidade da poesia: irredutível à vida ou à pessoa de quem a escreve, multiplicando motivos, formas e processos, sempre diferente de si mesma — a estranha experiência da poesia transporta, como uma alucinação, a questão incessante da (sua) própria realidade.