Autobiografia
de Thomas Bernhard
Sobre o livro
«É certo que os cinco livros da Autobiografia [A Causa (1975), A Cave (1976), A Respiração (1978), O Frio (1981) e Uma Criança (1982)] servem a Bernhard para dar a conhecer o que foi a sua infância e a sua juventude, mas sempre na medida em que esses períodos da sua vida e os acontecimentos por ele narrados foram relevantes para a sua obra literária. O escritor enfatiza os momentos que o marcaram para o resto da existência, faz notar os seus problemas, os seus erros, as fraquezas e os aspectos contraditórios do seu carácter, mas também as suas grandes decisões, a sua independência, a sua força de vontade, a sua natureza insubmissa e inconformada, mesmo na luta pela própria vida. […]
Ficção e biografia interpenetram-se em Bernhard de uma forma nem sempre clara, porque ambas participam igualmente da sua escrita enquanto obra de arte e ambas se completam e explicam reciprocamente. […] Na verdade, esse período da infância e juventude—e a ele se limita a Autobiografia—influencia decisivamente a personalidade do escritor, modela o seu carácter e de certo modo constrói as bases da sua carreira literária. Pode-se mesmo dizer que, sem conhecer as suas origens, as circunstâncias em que se verificou o seu nascimento, o que ele foi em criança e as provações por que passou na adolescência, não será fácil compreender devidamente a sua obra.» [José A. Palma Caetano, Introdução]
Escrita reveladora que repercute violentamente as fraquezas e as forças, o orgulho e a repulsa, o medo, o ódio, a solidão que alicerçam a alma atormentando a personalidade, em relação directa com uma situação existencial que não está nas mãos de ninguém determinar. Ou seja, parece haver na escrita de Bernhard uma revolta que propõe o abandono dessa ideia de que está nas mãos do indivíduo a determinação da sua existência, tanto quanto se declina igualmente a subjugação do indivíduo a um destino. Herói e cobarde, vítima e criminoso, o homem cumpre a sua tragédia e alimenta a sua comédia podendo apenas assegurar-se que, feitas as cotas, resta-lhe o absurdo e a inutilidade como genes inultrapassáveis disto a que chamamos vida.